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Os insights do Value Investing Brasil

Confira os tópicos mais importantes do evento

Matheus Soares

Por Matheus Soares

17 Sep 2025 11h54 - atualizado em 17 Sep 2025 11h57

Hoje a CompoundLetter tem um toque especial. Quem assina esta edição é o Mateus Gusmão – o MG – que se juntou recentemente ao time de análise do Market Makers para me ajudar no trabalho de aprofundar nossas análises de empresas. O MG já havia passado um tempo conosco em um estágio de verão e agora volta oficialmente para o time.

Ontem, ele esteve no 18º Congresso Value Investing Brasil, evento fundado por Rui Tabakov, da Seletto Value – um grande admirador e estudioso da filosofia de Warren Buffett. A edição deste ano reuniu nomes como Adriano Almeida (VII Capital), Zé Rocha (Dahlia), Raphael Maia (Organon), Marcello Silva (Aster) e Ruy Alves (Kinea) – todos já passaram pela bancada do Market Makers em algum momento – e trouxeram aprendizados valiosos para a plateia.

O MG acompanhou tudo de perto e escreveu o texto que você vai ler a seguir.

Adriano Almeida – Investindo em empresas de qualidade

O Adriano Almeida, que inclusive retornou ao Market Makers na última segunda-feira e gravou conosco um episódio de 3 horas de duração (em breve disponível), abriu o evento com uma aula sobre investir em empresas de muita qualidade, em que explicou os 3 princípios que tornam uma companhia excepcional para alocar o capital com foco no compounding:

  • Boa gestão – Empresas são feitas de pessoas, e a melhor gestão é aquela que consegue criar uma verdadeira swarm intelligence – uma “inteligência de enxame”, em que as soluções surgem de forma coletiva, como acontece com as formigas, sem depender de um líder central.
  • Crescimento sustentável – Para quem investe com foco no longo prazo, o grande desafio é encontrar aquelas raríssimas empresas capazes de manter retornos elevados sobre o capital investido por décadas, sustentando assim um ciclo contínuo de geração de valor.
  • Um negócio de alta qualidade – Empresas verdadeiramente duradouras são aquelas que constroem relações de ganha-ganha com a sociedade. Sempre que o negócio se apoia em explorar ou prejudicar a outra parte, o investimento acaba se mostrando frágil com o tempo.

O episódio que gravamos com o Adriano na última segunda-feira vai ser um excelente complemento a essa discussão. Enquanto ele não vai ao ar, vale assistir a esse episódio que já gravamos com ele, com 100 mil visualizações, onde esses pontos aparecem de forma ainda mais detalhada.

Zé Rocha – A tese da Dahlia para o Brasil

Na sua fala, Zé Rocha descreveu a visão da Dahlia sobre o cenário atual para a bolsa brasileira, que consideram favorável por três razões:

  1. O dólar dando fortes sinais de enfraquecimento.
  2. Valuations atrativos no Brasil, considerando o diferencial de juros elevado em relação aos EUA e à média histórica.
  3. O avanço político da centro-direita nas prefeituras em 2024, favorecendo um cenário mais previsível nas eleições de 2026.

Um ponto de destaque foi a constatação de que a alocação do investidor brasileiro em bolsa está em níveis mínimos em relação a ativos líquidos (medido pelo M4). Hoje, a participação está até abaixo do observado no governo Dilma 2 e na pandemia. Esse efeito, somado a uma revisão positiva de lucros num cenário de cortes da Selic, pode destravar uma forte alta dos ativos locais com o capital doméstico migrando da renda fixa para a bolsa.

O Zé esteve no Risco Brasil na última segunda-feira e se aprofundou em cada um desses três pontos.

Raphael Maia – Oportunidades em momentos de pânico

Ao falarmos de ciclos de mercado, o Raphael Maia comentou sobre o potencial de aproveitar situações de pânico em que alguns ativos ficam “largados”. No final de 2015, ele começou a montar uma posição que viria a ser o maior retorno da sua carreira em termos de valorização de um ativo isolado.

A antiga Cristal Pigmentos (atualmente Tronox), maior produtor de pigmento de titânio verticalmente integrado do mundo, na época estava com suas ações sendo vendidas por alguns gestores que precisavam liquidar a posição devido a um momento de resgate geral de fundos de ações brasileiros. Isso fez a empresa chegar a ser negociada a um valor de mercado de R$ 32 milhões, com uma dívida líquida de R$ 55 milhões.

Em 2016, a companhia reverteu o prejuízo operacional de 2015, atingindo um EBIT de R$ 47,8 milhões, e contou com um forte resultado financeiro referente a um processo ganho em 2014 para exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS. Assim, a empresa obteve um lucro líquido de R$ 84 milhões e pagou um dividendo de 100% de yield sobre o preço pago pela Organon em 2015.

O recado é claro: uma análise profunda de um negócio esquecido pode render retornos extraordinários quando se antecipa uma reversão de resultados.


Marcello Silva – O 2° Motor do Mercado Livre


O painel Investment Picks renderia uma newsletter a parte, além do Marcello, Marcus Fadul (Acuto) e Bruno Rignel (Alphakey) compartilharam no detalhe suas principais teses de investimento no cenário atual. Na tese da Aster, o Marcello destacou que além do Meli estar crescendo o número de compradores ativos ano a ano, mesmo em um estágio do marketplace com uma operação consolidada no Brasil, existe um motor de crescimento que pode fazer o lucro consolidado da companhia crescer de forma robusta nos próximos 3 anos: O Mercado Pago

Junto ao crescimento da plataforma, a companhia conseguiu criar uma base de usuários em sua fintech que tem números impressionantes: 2x mais cartões de crédito emitidos do que o Banco Inter no Brasil, número de contas abertas equivalente a ⅔ da base do Nubank na América Latina.

Com isso, o Meli está repetindo o playbook de crescimento e fidelização do cliente usados na operação do marketplace na sua fintech, assim terá a capacidade de transformar essas contas abertas em uma carteira de crédito com um potencial de lucratividade altíssimo para a empresa. Em uma analogia pragmática, o Mercado Pago tem o potencial de gerar lucros incrementais ao negócio da mesma forma que a Amazon conseguiu fazer com o Amazon Web Services (AWS) na década passada.

Outro ponto interessante da tese, mesmo com uma concorrência mais agressiva nos produtos de baixo ticket causada pela entrada da Shopee e do TikTok Shop no mercado brasileiro, o Meli se coloca em uma posição de liderança nos produtos de maior valor agregado, como eletrônicos, os produtos que realmente trazem lucro ao marketplace.

Apesar do risco, o grande desafio dos concorrentes chineses é conseguir escalar a cadeia de valor do e-commerce e transformar a dopamina das compras da for you page em bons retornos, o que o Mercado Livre já faz com maestria.

Ruy Alves – Não seja um investidor pobre

O Ruy deu uma aula sobre como as expectativas do mercado no futuro da IA podem se transformar de fato em produtividade na economia mundial, porém o maior insight que pude tirar da sua palestra não foi sobre o cenário atual, e sim sobre como um investidor deve se comportar para se manter acima da média no longo prazo.

Um investidor profissional é pago para tomar risco e mudar de opinião. Se, com o passar dos anos, não ocorrerem adaptações e atualizações na filosofia de investimento, dificilmente esse investidor “pobre”, no sentido intelectual, gerará retornos acima da média em grandes janelas de tempo.

O maior exemplo possível de adaptação da estratégia de investimentos vem do maior de todos os investidores, Warren Buffett, que deixou de comprar empresas com desconto do valor de liquidação de curto prazo (NCAV) nos anos 50, para alocar metade da sua carteira de ações em Apple na última década e continuar gerando retornos fora da curva. Será que sem adaptações, nós conheceríamos o Warren Buffett da mesma forma que hoje? Dificilmente.

Só para avisar

Uma novidade: provavelmente enquanto você está lendo essa news eu estou num outro projeto. Gravaremos hoje as aulas do meu primeiro curso de Value Investing que será lançado pelo selo Market Makers Academy. Adoraria saber se você tem interesse no assunto. Em breve, traremos mais informações! 

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br