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Os riscos que o novo Copom pode trazer para o Brasil

O investidor brasileiro não tem uma semana de paz

Por Renato Santiago

11 ago 2023 12h09 - atualizado em 11 ago 2023 12h09

Ontem mesmo, aqui nesta CompoundLetter, eu estava comemorando o início do ciclo de queda da taxa básica de juros no Brasil, e o quanto isso pode pode fazer bem para os preços das ações, sobretudo das small caps e micro caps, os papéis de menor capitalização da bolsa e que perderam até 46% do valor de mercado durante o ciclo de alta dos juros.

conteúdo está aqui, mas segue uma recapitulação rápida: na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu a Selic de 13,75% para 13,25% ao ano, no primeiro movimento de queda desde 2020. Como a inflação está controlada, outras reduções devem vir, o que deve levar o dinheiro dos investidores de volta para a renda variável, favorecendo o preço das ações. E como os papéis de menor capitalização foram os que mais sofreram no movimento de alta dos juros, devem ser também os que mais vão subir no movimento contrário. Essa é a lógica.

Mas o investidor na Bolsa não pode ter uma semana de paz. E ontem mesmo, no episódio do Market Makers, eu já voltei a ficar com a pulga atrás da orelha. 

No programa, o André Raduan, gestor da Genoa, levantou uma questão que passou despercebida por muita gente, mais ocupada em comemorar a virada de mão do Banco Central. 

“O que me preocupa um pouco é essa composição do Banco Central. A gente teve uma decisão dividida. Dois membros que votaram por uma queda de juros menor saem no final do ano e acho que isso causa alguma apreensão no mercado também. Quem vão ser os substitutos? Acho que é inegável que a gente está trabalhando para um Banco Central um pouquinho mais dovish”, diz Raduan.

Dovish, no jargão monetário, quer dizer um Banco Central que pega mais leve, é um pouco mais leniente com a inflação. Vem de dove, pomba em inglês, e existe em oposição ao hawkish, de hawk (falcão), mais agressivo.

Motivos para achar isso não faltam. O governo, em especial o presidente Luiz Inacio Lula da Silva, já vem deixando claro desde que assumiu a Presidência que quer juros mais baixos. Os dois conselheiros indicados pela gestão atual votaram pela queda de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, ajudando a formar a maioria. Como dois dos conselheiros que votaram por uma queda menor, de 0,25 ponto percentual devem deixar o Banco Central neste ano, a tendência é um Copom mais dovish que o que temos hoje.

Não estou querendo jogar água nosso chope e nem acho que haja motivo para desespero, mas é claro que um Copom mais dovish tende a se contentar mais facilmente com uma inflação no teto da margem de erro e não no centro da meta. — trocando em miúdos, uma inflação de 4,5% e não de 3% ao ano.

Como diz o gestor da NEO Mario Schalch, o outro convidado do programa: “É um risco que que demora mais que esse horizonte de seis meses para se materializar. É um choque que pode ser pequeno e que não é combatido, é uma gasolina que começa a ficar muito defasada aqui dentro, dizem ‘poxa agora não dá mais para subir mesmo que a Petrobras queira, vai atrapalhar muito inflação…’ Então assim começam a existir discussões que trazem ruído”, resume.

Fica, portanto, o alerta. Não é porque as notícias começaram a melhorar que podemos ficar desatentos.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br