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Por que os EUA preocupam, um resumo

A carta mensal da WHG

Por Renato Santiago

09 nov 2023 10h55 - atualizado em 09 nov 2023 10h56

Desde o início da pandemia as atenções do mercado financeiro brasileiro e global se voltaram para as contas públicas dos Estados Unidos. O que era tratado com indiferença por décadas, passou a ser protagonista de análises de risco e de gestão, graças à deterioração fiscal do país que emite a moeda mais forte do mundo.

O fiscal dos Estados Unidos importa, e muito, por que dele derivam as taxas mais relevantes do mundo dos investimentos: o rendimento pago pelas treasuries americanas.

Falamos longamente sobre elas no mês passado, em várias edições da CompoundLetter e nos últimos episódios do Market Makers, mas cabe um resumo aqui. As treasuries são consideradas os ativos livres de risco globais, os benchmarks aos quais qualquer outro investimento é comparado. Se as taxas pagas por ela aumentam — e quanto piores as contas públicas, mais elas sobem, pois os investidores precificam um risco maior — significa que mais dinheiro sai de outros ativos para elas. É o que se chama, no nosso jargão, de sugador de liquidez.

Em sua carta mensal, a gestora WHG explica com muita clareza o que está acontecendo por lá em termos que, você vai notar, costumamos ouvir mais quando ouvimos falar do Brasil, de seu fiscal e de sua economia. Abaixo, resumimos os principais pontos da carta:

1. A evolução da dívida

Poucas vezes a evolução da dívida pública dos Estados Unidos foi o foco do mercado, mas desde a pandemia essa situação mudou. Com estímulo fiscal e juros que já estão bem longe dos patamares negativos de um passado recente, o mercado a temer. O gráfico abaixo é auto-explicativo:

2. Pagamento de juros

As despesas obrigatórias do governo e o serviço da dívida devem acelerar forte com o aumento dos juros por lá. Com isso, os gastos discricionários e investimentos só podem cair. A projeção da WHG é a de que apenas os gastos com juros podem chegar a quase 40% das receitas do governo nos próximos 30 anos, se as treasuries se mantiverem no patamar de 4% ao ano.


3. Despesas obrigatórias

Além dos juros, existe outra despesa obrigatória em trajetória de alta: a previdência, que apresenta uma dinâmica de gastos crescente, ao mesmo tempo que a arrecadação permanece estável. Se nada mudar, os fundos de pensão devem passar por apuros nos próximos dez anos.


4. Aumento dos gastos

Este, é claro, é o principal item da lista. Nos últimos anos os Estados Unidos passaram por um intenso e histórico aumento de gastos iniciado na pandemia. O American Rescue Plan, lançado no governo Biden, chegou a superar os gastos do governo Obama após a crise de 2008 (8,4% e 5,7% do PIB, respectivamente). Com isso, em 2023 as despesas do governo devem passar os gastos públicos pós Segunda Guerra Mundial, que foram de 44% do PIB.

É claro que explicar as contas públicas de um país como os Estados Unidos não é uma tarefa simples, muito menos que será realizada em uma CompoundLetter. Os itens acima, no entanto, resumem para onde o mercado está olhando e o que tem mais chance de fazer preços. Convém prestar atenção aos próximos dados e os próximos capítulos desta novela.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br