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Prêmio de risco em ações: Um novo ponto de vista

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

05 Mar 2025 14h18 - atualizado em 05 Mar 2025 02h34

O episódio 189 do Market Makers explodiu a nossa mente. As mais de duas horas de conversa com o Luiz Francisco Guerra (um dos CIOs da Pragma Gestão) merecem ser ouvidas com atenção, mas destacarei aqui o trecho entre os instantes 25:00 e 35:00, quando ele fala sobre a existência de prêmio de risco na bolsa.

Esse ponto tem uma conexão com outro grande episódio que fizemos, em abril de 2024. Na época, sócio fundador da Lumina Capital, Daniel Goldberg, explicou “por que a bolsa brasileira não tem prêmio de risco” (na prática, você ganhará mais dinheiro investindo no ativo livre de risco do que em ações brasileiras). Deixarei aqui o link do momento exato que o Goldberg fala sobre isso:

Quase 100 episódios depois, recebemos no nosso podcast Luiz Guerra, que trouxe um contraponto interessante a essa fala do Goldberg.

(Uma curiosidade que não sei se os 3 leitores desta newsletter se atentaram: quqndo Goldberg veio ao MMakers pela 1ª vez, em julho/23, ele indicou Luiz Guerra como sugestão de convidado. Sim, foram quase dois anos entre o primeiro contato e a vinda dele ao podcast – nem todo mundo gosta de aparecer, risos).

Nesses 10 minutos, Luiz Guerra trouxe fatos históricos para chegar a uma conclusão interessantíssima: entendemos que ações no Brasil têm prêmio justamente porque não é todo mundo que aguenta carregar. 

Uma das melhores passagens da história do Market Makers, sem dúvida nenhuma.

Abaixo, uma (quase) transcrição da fala dele:

Se você olhar num horizonte de 100 anos, ações rendem algo como 3% a 5% ao ano acima da renda fixa. Parece pouco, mas colocando num horizonte longo a diferença é brutal.

Então, por que questionamos a existência de prêmio de risco em vários momentos? No nosso entender, prêmio de risco existe justamente porque ele não existe sempre. Terão momentos que as ações não renderão mais que a renda fixa, e isso pode durar 10 ou 20 anos.

Fiz um resumo de uma palestra que o Warren Buffett fez no em 2000, em que ele analisa 100 anos de história do mercado de ações americano. Nestes 100 anos, o PIB per capita dos EUA cresceu aproximadamente 2% ao ano (ou 610% no acumulado), tendo crescido em todas as janelas de 10 anos, mesmo entre 1929 e 1939 (ele cresceu 13% no período, foi menos que a média mas cresceu).

Já o mercado de ações teve janelas mais erráticas nestes 100 anos:

– 1900 a 1921: +10% no acumulado em 21 anos! No anualizado, isso é quase nada.

– 1921 a 1928: +500%

– 1929 a 1948: queda de 50%. 20 anos de correção! Imagina o prêmio pelo risco de investir em ações.

– 1948 a 1965: +500%

– 1965 a 1981, caíram de novo. 15 longos anos de correção e o PIB crescendo 2% ao ano

– 1981 a 2000: +400%

– 2000 a 2014: ações ficaram de lado (esses dados são nossos, pois a palestra do Buffett foi em 2000)

– 2014 a 2024: ações subiram 5x

Ou seja, mesmo o PIB crescendo 2% ao ano e crescendo em todas as décadas, as ações passaram por longos momentos com prêmio pelo risco positivo e prêmio pelo risco negativo.

Olhando o Brasil: de 2000 a 2010, subimos 20% ao ano em dólares!! Na época o que era bom era Brasil, os EUA eram ruim.

Eu concordo com o Daniel Goldberg quando ele disse aqui no MMakers que a taxa livre de risco no Brasil não é livre de risco, pois quando temos um CDI no nível que está, você vê ele competindo com o mesmo nível de risco que a bolsa. No entanto, a carteira dos nossos gestores de ações de 2001 pra cá rendeu 17,7% ao ano, contra 11,7% aa do CDI. Teve prêmio, mas ela não foi bem em todos os 20 anos: os últimos 10 anos foram ruins, mas os 10 anos anteriores foram bons.

Por isso, entendemos que ações no Brasil têm prêmio justamente porque não é todo mundo que aguenta carregar. Se tivesse prêmio todo ano, isso seria arbitrado e fecharia o prêmio.

Se fosse garantido que a bolsa daria CDI + 6% todo ano, todo mundo estaria na bolsa. Mas não é o caso, aqui é tão volátil que tem que existir prêmio.

E por isso que após 12 anos de ressaca que vivemos, pode ser que a próxima década seja melhor pra bolsa.

Assista aqui o episódio completo com Luiz Guerra

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br