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Por que o investidor brasileiro precisa começar a prestar atenção na reforma tributária
A bala de prata do governo para o crescimento do país
Depois de meses e meses falando e pensando em arcabouço fiscal, o mercado financeiro resolveu prestar mais atenção em outro tema estrutural e que depende de Brasília: a reforma tributária. Se você ainda não fez isso, recomendo que comece e prestar atenção no que o governo pretende fazer para mudar nosso sistema de impostos, pois isso pode mudar, e muito, a vida das empresas em cujos papéis você investe.
As conversas que tenho com gestores e analistas são uma prova disso — tanto de que a reforma pode mudar profundamente o jogo quanto a de que o mercado financeiro está prestando muito mais atenção nela. Um excelente exemplo é a tese de investimento de Gustavo Kataguiri, da Vinci, em Totvs, que ele mesmo nos contou no episódio da semana passada do Market Makers.
Além dos pontos comuns que os investidores da companhia sempre citam quando falam da empresa, como a dependência do cliente ao seu produto, o crescimento do lucro nos últimos anos, a essencialidade de um sistema de gestão para qualquer companhia, Kataguiri falou algo diferente quando elencou os motivos para ter as ações:
“É a única empresa que eu encontrei que pode se beneficiar com essa história de IVA”, explica.
IVA, no caso, é o Imposto sobre Valor Agregado, que é o coração da reforma tributária. Segundo as principais propostas que estão sendo avaliadas hoje, esse imposto — que também pode vir a ser chamado de IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) — deve substituir outros cinco que existem hoje: ISS, ICMS, PIS, Cofins e IPI.
A lógica que Kataguiri explica é a seguinte: hoje as empresas de serviços pagam menos impostos que as industriais e a tendência é que a reforma as iguale, resultando em uma alíquota maior para quem presta serviços.
Mais impostos significam necessidade de repassar preço, algo que ameaça qualquer negócio, exceto aqueles dos quais os clientes tenham uma necessidade extrema e que não se pode trocar da noite para o dia, exatamente o caso da Totvs que fornece complexos sistemas de gestão (conhecidos como ERP, ou Enterprise Resource Planning) para todo tipo de empresa. “No caso da Totvs isso está inclusive no contrato”, diz Kataguiri.
A Reforma
Estima-se que a reforma como um todo pode fazer o PIB do Brasil aumentar em 20% nos próximos 15 anos, com a economia crescendo 1,5% a 2% ao ano. Os efeitos podem ser tão positivos que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, vem chamando a reforma de bala de prata do governo. Além de igualar alíquotas, o conjunto de mudanças deve racionalizar o sistema, no qual hoje empresas são obrigadas a gastar incríveis 1.500 horas por ano apenas para gerir seus tributos.
Os desdobramentos que a reforma tributária podem ter para o ambiente de negócios brasileiro, e consequentemente para as ações negociadas na bolsa são inúmeros e o benefício da Totvs é apenas um exemplo anedótico de quão disruptivo ela pode ser para a economia brasileira. O Sr. Mercado deve passar os próximos meses de olho nela e, se ele fosse uma pessoa, nesse momento certamente estaria dizendo que quem não está prestando atenção nela é louco.