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Projeções são entretenimento

Não leve projeções tão a sério

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

10 Jan 2024 13h49 - atualizado em 10 Jan 2024 02h08

Projeções são entretenimento

“É difícil fazer previsões, principalmente sobre o futuro”
(Autor desconhecido)

Há formas mais dignas de perder sua credibilidade no mercado do que tentar prever o que vai acontecer no futuro.

Imagina então aqui no Brasil, onde “até o passado é incerto” (dizem que a frase é do Pedro Malan, mas desconheço a real origem. O que importa é que ela é genial).

Não vou aqui querer defender aqueles que fazem projeções para tudo, mas há um princípio muito simples para elas estarem sempre erradas: projeções são como uma foto, tirada com base no que o analista está enxergando e sentindo para o mundo naquele momento. Depois que é tirada a foto, um filme começa a passar e muita coisa pode acontecer a ponto de mudar tudo isso.

Olhando para o início de 2023: quem imaginou que no 11º dia de do ano passado a Americanas soltaria um fato relevante falando de uma “inconsistência” de R$ 20 bilhões e bagunçaria completamente o mercado de crédito brasileiro?

Trago dois exemplos anedóticos de 2023: um sobre as projeções para o S&P500 (todas erradas) e outra das projeções do Focus para economia brasileira.

Na imagem abaixo, você tem as projeções dos maiores bancos americanos para o S&P500 em 2023. O S&P500 subiu quase 30% no ano, ficando quase 10% acima da projeção mais otimista de todas. Ninguém esperava um novo rali, mas ele veio.

Fonte: twitter do Oktay Kavrak

Por falar em S&P500, olha que loucura essa imagem abaixo: ela mostra que a performance do SPX (S&P500 “normal”) foi 13 pontos percentuais ACIMA da performance do SPW, que seria um S&P500 mas com todas as ações do índice com o mesmo peso na composição. 

É a maior diferença entre o SPX e SPW desde 1998. A explicação está na forte alta das “Magnificent 7”: Apple (+48%), Microsoft (+56%), Google/Alphabet (+58%), Amazon (+80%), Tesla (+101%), Meta (+194%) e Nvidia (+238%).

Já no Brasil, começamos 2023 projetando um PIB crescendo 0,78% com uma inflação rodando em 5,36%, segundo o primeiro boletim Focus do ano passado.

12 meses depois, o primeiro Focus de 2024 mostra que o PIB brasileiro deve ter crescido 2,92% em 2023, com inflação de 4,46%. Ou seja: o Brasil deve ter crescido quase 250% acima da projeção inicial, com uma inflação quase 1 ponto abaixo. Erro leve…

Sobre o crescimento surpreendente do Brasil, Samuel Pessôa definiu desta forma na sua última coluna publicada na Folha: “Houve uma safra perfeita, e seus impactos sobre outros setores, principalmente transporte, explicam boa parcela da surpresa. No entanto, me parece que o potencial de crescimento brasileiro se elevou de algo próximo de 1,5% para 2%. Desde 2015, um conjunto grande de reformas foi aprovado”.

A questão é: quem em sã consciência imaginava, lá no fim de 2022, que o ano seguinte seria de forte valorização do mercado, tendo em vista o discurso totalmente agressivo do Lula antes de assumir a presidência e o risco iminente de uma recessão nos EUA? Esses eram os dois principais ingredientes para as projeções feitas na época. Que a foto saísse bonita, concorda?

Moral da história: não leve projeções tão a sério. O mercado vai surpreender os investidores exatamente no ponto onde eles não estão esperando – aliás, esse é o princípio lógico do movimento dos preços: quanto mais forte e rápida é uma oscilação de preço, mais inesperada ela era.

O Ibovespa pode ir a 200 mil pontos ou cair de volta pros 80 mil pontos, mas não fará isso só porque o seu guru favorito da internet cantou a bola. Muita coisa vai acontecer e não fazemos a menor ideia do que virá pela frente.

Divirta-se com as projeções, é melhor do que levá-las a sério.

Falei mais sobre isso no último episódio do “Mercado Aberto”, que foi ao ar ontem a noite. O link está aqui.

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br