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Reflexões de um andarilho da Faria Lima – PARTE 2

Do Ibov ao ouro: 11 insights sobre sobre o passado e o futuro

Por Josué Guedes

12 Dec 2022 12h34 - atualizado em 12 Dec 2022 12h36

Texto originalmente publicado na CompoundLetter, a newsletter do Market Makers. Inscreva-se na newsletter gratuitamente deixando o seu e-mail aqui

Final do ano o Salomão sempre fica mais reflexivo…

Não sei quantas vezes eu ouço o Matheus falar isso quando dezembro chega. Essa época sempre me faz refletir sobre o que aconteceu ao longo do ano, não só com os mercados mas com a minha vida, o mundo… minhas conversas tendem a ficar mais reflexivas.

Isso inevitavelmente afeta nas interações diárias que tenho com gestores, analistas e outras pessoas que converso sobre mercado. As conversas em geral ficam divididas em dois grandes temas: “como foi seu 2022” e “o que esperar de 2023”.

Compartilharei parte destas interações aqui nesta newsletter. Não repara a bagunça, minha cabeça é assim mesmo, ainda mais em um fim de ano tão conturbado e ainda na ressaca pós-eliminação da Copa.

– Ibovespa não caiu, mas a bolsa caiu. De 2021 pra cá, Ibovespa oscilou de 105.000 pontos para 107.500 pontos. Quase nada, mas a foto engana: Petrobras e Vale, que juntas representam quase 30% da carteira do Ibovespa, subiram muito forte no ano (+40% pra Petro e +27% pra Vale). Ou seja, foi um ano bem ruim para ações brasileiras ex-commodities.

– Small caps ainda menores. Uma boa proxy para ver o ano ruim que foi para bolsa está no desempenho do SMLL, o índice de small caps da B3 (que em sua grande maioria tem empresas mais ligadas à economia doméstica), que cai 21% no acumulado em 12 meses.

– Juros abrindo mundo afora. O mercado de juros, a “mãe” de todos os mercados, ajuda a explicar o desempenho ruim da bolsa. As curvas de juros “abriram” no mundo todo (“abrir” significa que os investidores elevaram suas projeções para taxa de juros), refletindo o combate contra a indomável inflação. Nos EUA, o Fed começou com altas de 25 pontos-base, passando para 50 pontos e depois 75 pontos, totalizando 375 pontos a mais na taxa de juros dos EUA em 2022 (e mais uma alta de 50 pontos deve vir esta semana).

– Mais inflação na Europa? Uma imagem vale mais que 1.000 caracteres. Veja os preços de energia elétrica no Reino Unido, medidos em libras por MWh:

– Juros em alta no Brasil também. Por aqui, o juro abriu também por causa do pós-eleição, muito menos pelo resultado em si e mais pelas falas do futuro presidente Lula e da sua provável equipe. A Selic, que terminou 2021 em 9,25%, vai acabar 2022 em 13,75% e com viés de alta, caso o PT mantenha a cartilha que costuma adotar no poder, como explicou Felipe Guerra no episódio 23 do Market Makers.

– Venda ao som de violinos, compre ao som de canhões. “O ambiente dos próximos anos pode ficar bem ruim para investir em bolsa” (Felipe Guerra, da Legacy). “A renda fixa vai bater a renda variável nos próximos 4 anos” (André Jakurski, da JGP); “Reduzimos a exposição em bolsa brasileira pela metade, de 30% para 15%” (Luis Stuhlberger, da Verde). Pode parecer loucura ficar otimista quando há tanta gente mais inteligente e experiente que você na ponta contrária. Por outro lado, as grandes oportunidades sempre (sempre mesmo) surgirão onde ninguém está posicionado. Há muita empresa na bolsa entregando ótimos resultados que ainda não se refletiram nos preços. A instabilidade econômica e os juros mais altos atrapalham, mas por outro lado evidenciam que, quando isso passar, surgirão muitos tesouros escondidos.

Inclusive o Matheus Soares vai mostrar mais uma das ações da Carteira Recomendada Market Makers aos nossos assinantes nesta semana. Se você quer fazer parte da nossa comunidade, clique aqui e saiba mais.

– Espere por janeiro. Por falar em Stuhlberger, ele mesmo falou semana passada de um “efeito calendário” que pode trazer capital estrangeiro para o Brasil ano que vem: “a grande maioria dos fundos e carteiras de famílias está perdendo dinheiro lá fora e ninguém abre ‘book’ em dezembro, vão esperar o ano acabar, daí deixa aquele book para trás e no início do ano começa vida nova“. E numa disputa mundial por este dinheiro, o Brasil ganha por “W.O.”, tendo em vista a situação atual de Rússia, China e outros países emergentes. Vale dizer que cerca de R$ 100 bilhões já entraram no Brasil somente neste ano.

– Nem tudo são flores com os gringos: conversei semana passada com um experiente gestor brasileiro que acabou de voltar de Londres, onde fez várias reuniões com hedge funds, que juntos totalizam mais de US$ 50 bilhões sob gestão. O resumo da visão deles sobre Brasil: “Alguns tinham posições acreditando na narrativa de que Lula e Bolsonaro eram personagens conhecidos, e que mesmo que Lula ganhasse, tenderia a ter postura responsável do seu primeiro mandato. Ficaram perplexos com as recentes atitudes do presidente eleito, e zeraram posição. Percepção é de que o país tem tudo pra ser um protagonista na saída da próxima recessão global, mas o governo eleito tem se esforçado pra afugentar os estrangeiros. Preferem pagar mais caro do que apostarem com essa incerteza no discurso atual”.

A esperança deste gestor é que Lula volte ao seu pragmatismo usual e faça um pivot – o João Braga também falou sobre isso no último comentário mensal da Encore. Isso, somado aos valuations muito atrativos e a posição técnica muito leve, tanto de local quanto de gringos, pode resultar num “rali épico” dos ativos brasileiros na entrada do próximo ciclo de crescimento mundial. A ver.

– O que pensa Haddad. Dei uma estudada mais afundo no fim de semana sobre o que Fernando Haddad, nosso futuro ministro da Fazenda, já disse sobre economia. Assisti ao debate que ele fez em 2017 com Marcos Lisboa, onde ele soltou a célebre frase que viralizou semana passada (só estudei economia por 2 meses pra passar na ANPEC e depois não estudei mais, disse Haddad). Vale a ressalva: ele fez aquele comentário na abertura de um debate contra um dos maiores economistas do país, então foi como uma espécie de “permissão para falar groselha” diante de alguém com uma bagagem técnica e teórica muito maior que a dele.

Do lado negativo, Haddad já defendeu muita coisa que seria ruim para o Brasil: foi de defender o aumento de gastos acima do teto em 2018 a sugerir revogar parte da reforma trabalhista, sinalizou apreço pela política de “campeãs nacionais” do BNDES, foi contra privatizações…. No lado positivo, ele defende a boa reforma tributária proposta por Bernardo Appy. Além disso, foi um dos poucos petistas a fazer uma “mea culpa” aos erros cometidos pelo partido em gestões anteriores e mostra-se capaz de ouvir quem pensa diferente (haja vista o debate com Lisboa citado acima).

– De Fernando em Fernando… No final, há mais motivos pra lamentar do que comemorar, mas se Haddad tem ambições políticas para 2026, terá que fazer um bom trabalho à frente da Fazenda. Foi o que aconteceu com seu xará e também não-economista, Fernando Henrique Cardoso, quando ele assumiu a Fazenda em 1993, tendo sido o 4º ministro em 7 meses. Ele conduziu o Plano Real e, no ano seguinte, foi eleito presidente (obs: isso é uma mera coincidência que, infelizmente, não diz nada sobre o que esperar do nosso futuro ministro).

Haddad terá que ouvir pessoas tecnicamente mais capacitadas do que ele durante sua gestão. Como disse o próprio Lisboa no último Market Makers, é melhor que o ministro da Fazenda seja um político do que um técnico, desde que ele escute esses técnicos para tomar suas decisões. Resta sabermos quem ele escolherá para ser seus conselheiros…

– A solução? Petróleo e ouro. Se a renda fixa parece um caminho óbvio para o investidor mais conservador, na renda variável poucas das certezas que sentimos nos gestores estão nas commodities: petróleo e ouro. O ouro acaba tendo sua atratividade em momentos de recessão – que devemos presenciar em 2023 -, enquanto o petróleo, que já tem uma tese estrutural favorável por conta da falha na migração da agenda ESG no exterior, pode se beneficiar de uma retomada da China. E conversando com gestores que acompanham de perto a commodity, percebe-se que há poucos investidores posicionados nela mundo afora. São dois ativos excelentes para quem quer ter uma carteira equilibrada.

Semana que vem eu volto com insights mais organizados (ou não).

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Por Josué Guedes

josue.guedes@mmakers.com.br