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Reflexões de um andarilho da Faria Lima
IRB vivendo dias de OGX, lições de investimentos de Setubal, a volta do “cautelosamente otimista” e o gestor que pegou a disparada de M. Dias Branco; um resumo das minhas andanças pela Faria Lima
Com a dificuldade de definir um único tema para a CompoundLetter de hoje, quebrarei o protocolo e vou dividi-la em 4 mini reflexões. São eles: a volta do cautelosamente otimista, IRB, M. Dias Branco e lições de Roberto Setubal.
A volta do “cautelosamente otimista”
Em 2019, essa expressão virou quase que um mantra entre gestores. Era usada para definir o humor deles em relação ao Brasil: estavam otimistas com o futuro por conta das várias reformas que estavam na agenda do governo Guedes Bolsonaro, mas cautelosos com a inexperiência do novo elenco, que buscava uma forma inédita de fazer política (3 anos depois, vimos que foi a mesma de sempre).
Fazia tempo que não ouvia o tal do cautelosamente otimista (até porque, não tivemos muitos motivos para estar otimista. Risos). Mas em agosto, ele voltou.
No último episódio do MMakers, Sara Delfim, da Dahlia Capital, utilizou o cautelosamente otimista para explicar por que gosta de ter as ações da Tim (TIMS3), uma empresa com características mais defensivas. E bastou “dar um google” para ver que C&A e VIA utilizaram esta expressão em suas teleconferências de resultados para falar sobre o que esperam pro 2º semestre.
Kit classe média: ações para ganhar dinheiro após o pico da desgraça do Brasil (parte 2) | MMs #09
Confesso que tinha um certo bode para essa expressão, porque todo mundo usava para quase tudo no mercado. Era quase como responder “depende”, você pode falar isso pra qualquer pergunta. Mas me apegando à informação em si, ela pode gerar duas conclusões que não são excludentes.
Ora, se o investidor está cautelosamente otimista, significa que há riscos para ter uma posição maior em ações. Por outro lado, isso indica também que o mercado está “leve”, com investidores subalocados em bolsa, ou seja, qualquer sinal que diminua a entonação do “cautelosamente” e aumente o “otimista” pode resultar em novas altas do Ibovespa – que já sobe 8,9% em agosto.
Esse gráfico publicado no LinkedIn pelo chefe de análise da Guide, Fernando Siqueira, reforça bem isso: fundos multimercados estão com exposição abaixo de 5% em bolsa, contra média dos últimos 4 anos de 13%.
IRB = OGX?
9 anos depois, a história se repete: assim como vimos em 2013 com OGX (petrolífera do grupo de Eike Batista), a IRB caiu forte na bolsa após o “anúncio surpresa” da B3, que elevou a quantidade limite de ações de uma única empresa que podem ser shorteadas.
Até então, esse limite era de 25% do “free float” (que é o total de ações em circulação no mercado) e agora passou a 30%.
Com a OGX em 2013, o caso foi mais dramático: no meio de um pregão, esse limite foi elevado de 20% para 30%. Dois meses depois, outra elevação, desta vez para 45%, fato que fez a ação sair de uma alta de quase 10% naquele dia para queda de 9,76%.
A B3 segue parâmetros para tomar essa decisão, mas mesmo assim a decisão é difícil de ser prevista, até por isso a resposta das ações acaba sendo imediatamente ríspida. As matérias tanto de agora quanto da época do aumento do limite da OGX mostram que não há uma definição técnica clara que “gatilha” esse aumento no limite.
Conclusão: se você está pensando em fazer um trade curto com IRB por conta da chance de um “short squeeze” (que é quando, por algum evento, os “shorteados” na ação precisam fechar às pressas sua posição vendida, provocando uma forte pressão compradora), cuidado: com um simples aviso, a B3 pode dilatar esse limite.
Sobre IRB: no dia 1 será precificada as ações da subscrição feita pela empresa. Espera-se captar R$ 1,2 bilhão. Atualmente a ação está cotada a R$ 1,97, quase o dobro do preço que deve sair na subscrição (um dos motivos que ajuda a explicar por que tanta procura para “shortear” a ação).
O gestor que pegou a disparada de M Dias Branco não tem CPF
No dia 15 de agosto, a M. Dias Branco chegou a subir 25% na bolsa após divulgar um impressionante resultado trimestral. Vale dizer que havia uma grande aposta “short” (vendida) na ação, o que, associado também à menor liquidez do papel, ajudou a inflamar essa disparada de preço.
Já conversei com alguns gestores “vendidos” no papel, mas não me recordava de alguém comprado em M. Dias. Curiosamente, conheci na sexta-feira um fundo comprado na ação, mas o “gestor” na verdade é a turma de analistas quantitativos da Newfoundland. O long bias Newfoundland Eagle tinha MDIA3 como “top 5” da carteira.
“Ele é um fundo sem interação humana nas tomadas de decisão, utiliza algoritmos desenvolvidos pela equipe de cientistas e financistas Newfoundland para determinar qual deve ser a exposição a cada um dos ativos”, explica o time quant da Newfoundland.
No caso da M. Dias, foram feitos vários mapeamentos não só de dados de mercado (lembrando que havia uma grande aposta “short” na ação) como também de preços dos produtos que ela vende (tanto as marcas próprias quanto de concorrentes).”Temos o histórico de preço dos produtos e acompanhamos os preços, bem como as margens”, disse a gestora.
Bônus: o que é longo prazo pra você?
Durante o último “Kafé com Kinea”, programa mensal da Kinea que está sendo tocado com maestria pelo gestor Ruy Alves, o ex-CEO e presidente do conselho do Itaú, Roberto Setubal, passou uma visão prática interessante do que é investimento de longo prazo. Ao falar sobre o deal com a XP, ele disse que toparia esperar “pelos 15 ou 20 anos” necessários para o Itaú tomar o controle da empresa.
Esse era o primeiro formato da transação, que foi vetado pelo Banco Central. Até por isso o Itaú optou por vender sua fatia em XP (com um belo lucro, vale dizer).
Outro ponto muito enfatizado pelo Setubal: a empatia é essencial quando você faz uma joint venture ou uma parceria com a empresa. Ter um negócio rentável não adianta nada se você não tiver conexão com a pessoa que vai estar contigo nesse projeto.
Kafé com Kinea #009 com Roberto Setubal: Sua História, Lições e Visões de Brasil