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As 12 lições de Rial que explodiram minha mente

Resumir esta conversa fica quase impossível, mas separamos uma série de pequenos aprendizados

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

13 Oct 2025 09h42 - atualizado em 13 Oct 2025 09h54

Fazemos cada episódio do Market Makers com muito afinco e dedicação. Somos obcecados pela qualidade em tudo que vamos colocar no ar – até por isso fazemos poucos conteúdos por semana.

Mas alguns convidados conseguem subir essa régua para um patamar difícil de alcançar. Foi o caso da nossa conversa com Sergio Rial no MMakers #269.

O currículo dele impressiona e não é à toa. Todos os lugares que ele passou em mais de 40 anos foram marcantes. Na ABN Armo, onde começou em 1984, Rial foi o primeiro não-holândes a estar no comitê global de investimentos; na Bear Stearns, foi o primeiro estrangeiro a entrar na diretoria; na Cargill, Seara Foods e Marfrig, começou a trabalhar direto na economia real; no Santander, talvez sua maior glória, com a consolidação de um banco estrangeiro no tão fechado setor bancário brasileiro; por fim, os 9 dias na Lojas Americanas foram suficientes para ficar na história do capitalismo brasileiro, com a revelação das fraudes contábeis de quase R$ 40 bilhões.

Rial é o tipo de pessoa que parece ter se transformado em cada empresa que passou — e, ao longo do caminho, acumulou uma sabedoria rara sobre o que é liderar, aprender e continuar humano dentro de um mundo corporativo cada vez mais desumano.

Resumir esta conversa fica quase impossível, pois em cada passagem de sua vida Rial nos passa uma série de pequenos aprendizados, imortalizados em frases marcantes. Por isso, a CompoundLetter desta semana será escrita em cima das 12 lições do papo com o Rial que explodiram minha mente.

1. Ser rico é poder dizer “não”

“Eu sempre vi dinheiro como uma oportunidade de dizer ‘não’. Ser rico é poder dizer não.”

A frase parece simples, mas carrega uma verdade que destrói boa parte da lógica do mundo moderno.

No mundo em que o “sim” é moeda — sim para o cliente, sim para o bônus, sim para o chefe —, o verdadeiro luxo é o “não”.

Rial entendeu cedo que dinheiro é liberdade, não status. E talvez por isso ele tenha mudado de vida tantas vezes: porque tinha autonomia para morrer e renascer quando quisesse.

2. Tenha um anjo que enxergue em você o que você ainda não vê

Aos 26 anos, foi nomeado diretor financeiro do ABN Amro. Entrou na sala do presidente e confessou que não se sentia pronto para liderar 80 pessoas.
O chefe respondeu:

“Eu tenho certeza que é você, porque vai levar essas 80 pessoas a lugares onde sozinhas jamais chegariam.”

O que ficou não foi a frase, mas o gesto — alguém acreditou nele antes dele mesmo acreditar.

Rial chama isso de “anjo”: a pessoa que enxerga em você aquilo que você ainda não consegue ver.

E o mais legal é que ele passou a fazer isso com os outros também.

3. Obsessão é o combustível da ascensão

“Eu coloquei na minha cabeça o objetivo de me tornar diretor executivo global. Isso virou minha obsessão.”

Rial fala de obsessão com naturalidade, sem glamour e sem culpa.

Ele não romantiza o burnout, mas também não acredita em sucesso sem intensidade.

Na vida, você pode até escolher o objetivo errado — mas o que vai te levar até ele é sempre o mesmo: a capacidade de se entregar por inteiro.

4. “Eu falo inglês com sotaque, mas não penso com sotaque”

Língua, para Rial, é poder.

“Quando você sai do seu país, a primeira grande arma é a língua”, diz ele.

Falar bem não é falar bonito — é ser claro, compreensível, inteiro.

Ele aprendeu holandês em dois anos. Viveu na Ásia, pensou em inglês, se comunicou sem palavras.

E entende que o sotaque mais perigoso não é o da língua — é o do pensamento limitado.

5. Nunca desperdice uma noite mal dormida

“Nada como uma noite. Nunca desperdice uma noite mal dormida.”

Para muita gente, insônia é castigo. Para Rial, é introspecção.

A noite é o lugar onde o pânico e o silêncio convivem — e onde a mente trabalha no limite entre o medo e a clareza.

Foi numa noite assim, em um quarto de hotel na Holanda, chorando de medo do desconhecido, que ele decidiu que não desistiria.

A noite é quando o corpo cansa, mas o espírito acorda.

6. Aprenda a ouvir o que não é dito

Na Ásia, ele descobriu o poder da comunicação não verbal:

“O que é dito pode mascarar o que é mais importante — e por isso não foi dito.”

Rial aprendeu a ler as pausas, o olhar, a hesitação.

E entendeu que o verdadeiro problema raramente está naquilo que as pessoas dizem, mas no que elas evitam dizer.

A arte de perguntar — e afunilar a conversa até chegar à essência — é o que separa o líder que ouve do líder que entende.

7. Aprenda a morrer (corporativamente falando)

“É muito importante você aprender a morrer [no mundo corporativo]. Não é suicídio, é morrer para renascer em outro lugar.”

Pouca gente tem coragem de matar a própria persona profissional.

Rial saiu do ABN Amro no auge, foi para a Bear Stearns e descobriu duas coisas: 1. Não era tão bom quanto achava; 2. Seu nível de sacrifício, que parecia enorme, ainda estava em 4 numa escala de 10.

A humildade nasce quando a vida te rebaixa — e você entende que renascer dá mais trabalho do que nascer.

8. Desempenho é a melhor forma de liberdade

“Não há nada mais libertador do que desempenho. A melhor agenda de liberdade é entregar resultado.”

No Santander, ele virou um símbolo disso.

Para ele, o chefe não promove ninguém — quem te promove são as pessoas que trabalham com você.

Quando o desempenho é incontestável, a hierarquia se curva.

Autonomia não é gritar “me deixem trabalhar”, é trabalhar tão bem que não possam te impedir.

9. A coragem de dizer o que se pensa (e de se ajoelhar depois)

A cena é conhecida: o CEO do Santander vestido de Homem-Aranha, se jogando do teto do Allianz Parque em frente a 37 mil funcionários.

O que parecia uma extravagância era, na verdade, um ato de coragem e humildade.

“Eu falo muito de coragem, mas tenho medo de altura. Então eu pulei. Quando desci, ajoelhei.”

Coragem é isso: dizer o que você acredita, corrigir o que precisa e encarar seus próprios medos — de joelhos, se for preciso.

10. As pessoas não são lógicas — são psicológicas

Essa talvez seja a frase mais profunda da entrevista:

“As pessoas não são lógicas, são psicológicas.”

O psicológico, diz Rial, é uma realidade que embaralha o raciocínio e distorce decisões.

Por isso ele defende que o pensar deve se sobrepor ao sentir, sem negar a emoção — mas usando a lógica como espinha dorsal.

 “Você pode até decidir não segui-la, mas precisa saber onde ela está.”

Um conselho que serve para o mercado, para casamentos e para a política.

11. Visualizar é mais importante do que querer

“A diferença entre um CFO e um CEO é que o CFO te diz o que é, e o CEO te diz o que pode ser.”

Rial acredita que ninguém executa o que não consegue visualizar.

O poder da liderança está em projetar uma realidade que ainda não existe — e fazer as pessoas duvidarem se ela é mesmo impossível.

 “O máximo que você consegue é gerar a dúvida”, diz ele.

E, na dúvida, o mundo avança.

12. Cerque-se de quem te diga a verdade

“No final da vida, percebi que o maior presente que você pode ter é um amigo que te diga a verdade.”

Rial teve muitos anjos, mas também teve amigos incômodos — gente que não o deixava acreditar na própria versão.

Ele diz: “se você tem amigos que acreditam em você e te dizem a verdade, isso é um processo de transformação brutal.”

A sinceridade é o espelho que reflete o que o sucesso tenta esconder.

Epílogo: o exagerado que pensa com lógica

No fim da entrevista, pedimos a ele uma música.

Rial escolheu: “Exagerado”, do Cazuza. E explicou:

“A vida preto e branco não vale a pena. Se exagerado significa ausência de limite, que essa seja a maior verdade de cada um.”

Sergio Rial é isso: um exagerado que pensa com lógica.

Um homem que viveu mais mortes e renascimentos corporativos do que muita gente viveu empregos.

E que nos lembra, a cada frase, que liderar é uma forma de se conhecer.

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br