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Sangue e terror: 16 tópicos para entender as tensões entre Israel e Irã
Diferente do que muitos pensam, a afeição iraniana pela causa Palestina e a briga com Israel não tem cunho religioso, visto que o Irã é majoritariamente xiita, e 9 a cada 10 palestinos são sunitas. O interesse sempre foi geopolítico
“Pequeno Satanás aliado do grande Satanás”. É assim que o regime do Irã define Israel e os Estados Unidos, respectivamente.
O país persa não reconhece a existência do Estado judeu desde a Revolução Islâmica do Irã em 1979, quando os aiatolás depuseram o xá Reza Pahlavi, que tinha uma relação cordial com os israelenses.
Com o desejo de se projetar como uma potência pan-islâmica, o “novo Irã” — a mando dos revolucionários — passou a ser uma república que se dizia “defensora dos oprimidos” e contrária ao “imperialismo americano”.
Assim, os aiatolás, sob o comando do líder-supremo Ruhollah Khomeini, nutriam uma forte simpatia pelos palestinos, apoiando ações de guerrilha em grupos como Hamas (situado na própria Palestina) e o Hezbollah (Líbano).
Diferente do que muitos pensam, a afeição iraniana pela causa Palestina não tinha (e não tem) cunho religioso, visto que o Irã é majoritariamente xiita, e 9 a cada 10 palestinos são sunitas.
O interesse sempre foi geopolítico: posicionar o Irã como líder do mundo islâmico com financiamento e apoio logístico, treinamento militar e fornecimento de armas contrabandeadas para a Faixa de Gaza.
Isso levou a uma hostilidade sem fim entre Irã e Israel, com uma intensidade que varia de acordo com o contexto geopolítico.
Pois bem. Estamos diante de mais uma escalada das tensões. O conflito aumentou expressivamente depois que o comitê israelense de guerra priorizou formalmente, em 17 de setembro, garantir o retorno seguro dos civis israelenses às suas casas na região norte de Israel, próximo à fronteira com o Líbano, de onde haviam sido evacuados para áreas mais seguras devido aos ataques do Hezbollah.
Seis dias depois da decisão (23 de setembro), o Líbano teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com 500 mortos. E, em menos de uma semana, o exército de Israel teria matado o principal líder do Hezbollah num bombardeio: Hassan Nasrallah.
A meta é desarticular o Eixo da Resistência, liderado pelo Irã e composto pelo Hamas, Hezbollah, Houthis, rebeldes da Cisjordânia, grupos xiitas iraquianos, governo da Síria e milicianos sírios.
É diante desse contexto sangrento que recebemos, no episódio # 137, André Lajst (cientista político e presidente executivo da StandWithUs no Brasil) e Samuel Feldberg (cientista político e professor universitário) para analisar os desdobramentos do conflito, impactos econômicos no Brasil e no mundo, a história por trás disso tudo e a aproximação de Israel de países árabes com a mediação dos EUA.
Abaixo, trago 13 pontos abordados.
- A normalização das relações entre Israel e os países árabes, mediada pelos EUA, é um marco significativo que altera o equilíbrio de poder no Oriente Médio através do Acordo de Abraão, formalizado durante a era Trump. O documento se tornou um marco na normalização das relações diplomáticas, econômicas e culturais entre Israel e as nações envolvidas, rompendo décadas de animosidade e isolamento diplomático.
O tratado já foi firmado com países como os Emirados Árabes Unidos, Sudão, Marrocos e o Bahrein. A entrada potencial da Arábia Saudita nesse processo também é vista como uma grande alteração no cenário geopolítico. Essa normalização poderia diminuir a influência do Irã na região e pavimentar o caminho para mais acordos de paz.
(Nota: as tensões entre Israel e Gaza dificultam esse processo, visto que o povo saudita historicamente apoia a causa palestina (atenção: isso é diferente de apoiar o Hamas) e os veem como irmãos mulçumanos. Em outras palavras, a entrada para o Acordo de Abraão com a escalada dos conflitos, em que civis palestinos estão morrendo, pode levar a uma resistência interna. Além disso, a Arábia Saudita se vê como líder do mundo muçulmano sunita por guardar locais sagrados do Islã, como a Meca e Medina. Entrar no Acordo neste momento pode abrir espaço para o Irã, histórico rival do reino saudita, aumentar sua influência no mundo mulçumano) - A normalização diplomática foi impulsionada por interesses econômicos e estratégicos, com Israel se aproximando de países árabes ricos em petróleo. O Irã, que se opõe a qualquer aproximação entre países árabes e Israel, vê esses acordos como uma ameaça direta a sua influência no Oriente Médio. Os grupos terroristas apoiados pelo Irã, como o Hamas e o Hezbollah, são contrários à paz e tentam sabotar qualquer processo de normalização, o que complica ainda mais as negociações de paz na região
- O Estreito de Ormuz é uma rota crítica para a exportação de petróleo de países como o Irã, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Cerca de 40% do petróleo mundial que é transportado por via marítima passa por esse estreito. Qualquer interrupção devido ao conflito entre Israel e Irã pode impactar diretamente o mercado de petróleo, com uma possível elevação nos preços globais
- As consequências para o Brasil e outros países importadores seriam significativas. Se as exportações de petróleo fossem interrompidas ou se os preços subissem drasticamente, isso afetaria diretamente os custos de energia e outros insumos, prejudicando a economia brasileira. Além disso, há a questão da segurança das rotas marítimas, com ataques recentes de grupos rebeldes, como os Huthis, no Iêmen, que podem interromper o tráfego de navios petroleiros e causar atrasos nas exportações.
- O conflito também afeta o comércio global de fertilizantes e outros produtos essenciais, muitos dos quais transitam pelo Golfo Pérsico. Interrupções nessas rotas comerciais poderiam gerar impactos econômicos mais amplos, aumentando a crise energética global.
- As eleições americanas têm um impacto direto sobre o conflito no Oriente Médio. A administração dos Estados Unidos busca um equilíbrio entre diminuir sua presença militar no Oriente Médio e evitar um vácuo de poder que poderia ser ocupado pelo Irã ou outras potências, como a Rússia
- Uma possível vitória de Trump poderia sinalizar uma mudança de abordagem, com uma política mais agressiva em relação ao Irã. O congresso poderia aumentar as sanções contra o Irã e reforçar o apoio militar a Israel. Durante o governo de Trump, os EUA saíram do Acordo Nuclear com o Irã e adotaram uma estratégia de “máxima pressão”, que incluiu sanções severas para o isolamento do país persa. Esse cenário de endurecimento das políticas, em caso de vitória republicana pode intensificar ainda mais as tensões entre Irã e Israel.
- O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 foi um dos mais mortais da história, rompendo a percepção de Israel como um refúgio seguro para os judeus. Isso gerou um clima de medo e insegurança no país.
- Israel investe bilhões em tecnologia de defesa para proteger sua população civil de ataques, destacando a eficácia de seu sistema de escudo, sobretudo o antiaéreo. Isso é vital para minimizar perdas humanas. No dia 1º de outubro, 180 mísseis foram lançados pelo Irã contra o território israelense, mas a maioria foi interceptada e houve apenas alguns feridos sem gravidade. Nenhum prédio foi atingido, o que reforça a capacidade de defesa de Israel contra ameaças externas.
- O Irã possui entre 3.000 e 4.000 mísseis balísticos que podem ser utilizados em um eventual ataque. No entanto, sua capacidade de lançamento em massa é limitada.
- Embora o Irã tenha urânio quase a 90% para fabricar uma bomba nuclear, ainda carece da tecnologia necessária para criar um artefato nuclear efetivo. Isso também limita suas opções de ataque.
- A aviação iraniana está obsoleta, com aviões antigos que não são adequados para um ataque a Israel. O Irã depende quase exclusivamente de mísseis balísticos para ameaçar Israel.
- A situação no Irã é complexa, pois a imprensa estatal controla a informação e a narrativa sobre os conflitos. Isso levanta questões sobre a transparência e a verdade dos eventos ocorridos.
O episódio completo, tocado por Josué Guedes, sócio fundador e CMO do Market Makers, está disponível neste link.