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Expedição em Santa Cantarina

Saí da planilha para visitar o chão de fábrica

Matheus Soares

Por Matheus Soares

26 Nov 2025 10h52 - atualizado em 26 Nov 2025 10h56

Nos últimos dias, deixei a frente do computador e vim para Santa Catarina cumprir um hábito que considero essencial para qualquer analista e investidor: sair da planilha para visitar o chão de fábrica das empresas. Ver onde as coisas acontecem, interagir com as pessoas, sentir a cultura, observar processos e entender, na prática, quem está por trás dos números que lemos nos releases. De tempos em tempos eu faço isso e sempre volto melhor.

Nessa expedição eu visitei a Celesc, fui ao investor day da Intelbras e estou a caminho de um café com a Irani. Aqui vão as impressões das minhas três paradas:

Celesc

A primeira parada da viagem foi a Celesc, hoje a segunda maior posição do Market Makers FIA e uma das principais responsáveis pelo nosso retorno acumulado de 42% no ano. Existem três grandes razões que explicam por que gostamos tanto da companhia.

A primeira é o modelo de negócios de uma distribuidora de energia elétrica.

Distribuição é um serviço essencial, com demanda perpétua. A sociedade vai continuar consumindo energia – seja no dia a dia, seja por tendências estruturais como a expansão de data centers e a eletrificação da frota. Não há risco de disrupção tecnológica que ameace a atividade principal. Além disso, trata-se de uma concessão, o que confere à Celesc um monopólio regulatório sobre a distribuição no estado. E, por ser um negócio regulado, a empresa tem pricing power: a inflação e os custos são repassados ao consumidor via Revisão Tarifária Anual, preservando o resultado ao longo do tempo.

A segunda razão é onde essa concessão está.

Santa Catarina é uma das economias mais dinâmicas do país: PIB acima da média nacional, uma base industrial diversificada e sofisticada – WEG, Intelbras, Tupy, Schulz, JBS, dentre diversas outras – e uma população com maior renda média disponível. Ou seja, é uma concessão de qualidade em um estado que cresce, com consumo industrial robusto e previsibilidade de demanda.

O terceiro motivo é a qualidade da gestão.

Apesar de ser uma estatal, a Celesc tem uma governança madura, profissional e estável — um traço que fica ainda mais claro quando se visita a empresa. E é essa gestão que conduz o maior ciclo de investimentos da história da companhia: R$ 5 bilhões entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2026, destinados à expansão e modernização da rede.

É justamente aqui que surge o ponto de inflexão.

No modelo regulatório brasileiro, a ANEEL remunera investimentos relevantes feitos pelas distribuidoras. E acreditamos que grande parte desses R$ 5 bilhões será reconhecida na Revisão Tarifária Periódica (RTP) de agosto de 2026. Esse reconhecimento deve expandir de forma significativa a base de remuneração da Celesc, permitindo que os resultados cresçam de maneira mais expressiva a partir de 2027, o primeiro ano cheio pós-RTP.

Visitar a companhia apenas reforça essa convicção: um modelo de negócios resiliente, uma concessão privilegiada e uma gestão que entrega – tudo isso às vésperas do melhor momento regulatório do ciclo.

Intelbras

A segunda parada foi em São José, onde fica uma das principais fábricas da Intelbras – uma companhia brasileira com mais de quatro décadas de história, líder em segmentos como segurança eletrônica, comunicação, controles de acesso, redes, automação e energia.

Passamos o dia dentro da planta industrial, vendo de perto como são produzidos diversos produtos do portfólio e, principalmente, ouvindo os principais executivos da empresa apresentarem a visão estratégica para os próximos anos.

A mensagem central ficou muito clara: a Intelbras não quer crescer a qualquer custo.

Depois de um período em que parte do mercado questionou o ritmo de crescimento – especialmente no negócio de energia solar – a companhia está desenhando seu próximo ciclo com base em três pilares:

Disciplina de capital e foco em ROIC

A gestão foi explícita: só serão priorizados projetos capazes de gerar retornos acima do custo de capital. A empresa prefere crescer com qualidade – e não apenas perseguir top-line.

Mercados endereçáveis amplos e ainda subpenetrados

A Intelbras atua em segmentos com muito espaço para expansão: segurança eletrônica, redes e conectividade, energia, automação e soluções para o agronegócio. São mercados grandes, fragmentados e que ainda têm um longo caminho de profissionalização e adoção tecnológica.

Construção do próximo ciclo de investimentos

A companhia está reorganizando prioridades: fortalecendo canais, integrando hardware e software, aumentando o suporte às revendas e direcionando investimentos de forma seletiva. Não se trata de voltar a crescer rápido – e sim de crescer melhor.

Se no passado a Intelbras foi tratada como “queridinha” do mercado, hoje ela opera fora dos holofotes. E, muitas vezes, é exatamente assim que nascem boas histórias: empresas disciplinadas, com capital eficiente, inseridas em mercados extensos o suficiente para um novo ciclo de expansão.

Irani

A terceira parada da viagem é com a Irani, uma das empresas mais consistentes do setor de papel e embalagens. A empresa fabrica papel reciclado, papelão ondulado e embalagens, com operações integradas e forte presença no Sul do país.

As ações da companhia têm performado muito bem ao longo de 2025 porque o resultado finalmente começou a refletir um ciclo que ficou para trás.

Nos últimos anos, a Irani concluiu o Projeto Gaia, o maior investimento da sua história, ampliando capacidade e elevando a eficiência operacional.

Esse ciclo coincidiu com um período difícil para o setor, marcado pelo custo elevado das aparas, a principal matéria-prima da empresa, que pressionou margens em 2024.

Em 2025, o contexto mudou.

A Irani adotou uma estratégia clara de repassar preços mesmo abrindo mão de volume, priorizando contratos de melhor rentabilidade. Com custos de aparas mais equilibrados e uma base produtiva fortalecida pós-Gaia, essa disciplina começou a aparecer nos resultados, com margens e ROIC em expansão.

Hoje pela manhã, terei a oportunidade de conversar com o time da empresa para entender a visão para o restante de 2025 e, principalmente, o que esperar de 2026, primeiro ano em que o efeito completo do Gaia deve se consolidar nos números.

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Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br