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SelicBet, o desfecho

O que aconteceu com quem apostou nas opções de Copom?

Por Renato Santiago

03 ago 2023 14h40 - atualizado em 03 ago 2023 02h59

Na semana passada, os leitores desta newsletter foram apresentados a um tipo de aposta, (digo, derivativo), pouco popular entre os investidores comuns, mas já bastante usado entre os profissionais: as opções de Copom.

Recapitulando, essas opções são instrumentos que permitem apostar qual será a exata decisão do Banco Central em relação à taxa básica de juros em uma reunião. Funciona assim: se o investidor acredita que a taxa de juros vai cair 0,25 ponto percentual, ele compra a opção correspondente por um valor que equivale à probabilidade que o mercado atribui àquele número se concretizar. Se ele acerta, ganha, se erra, perde tudo. Tem mais detalhes aqui na CompoundLetter da semana passada.

Como você pode ter percebido, essa dinâmica é muito parecida com a das apostas esportivas, pela qual os brasileiros se apaixonaram — 22,8% das visitas às páginas de apostas no mundo em 2022 vieram do Brasil. Tendo em vista essa moda e esperando conseguir uns cliques a mais, apelidei esse derivativo de SelicBet.

Quando se fala em apostas e em opções, é natural que os olhos brilhem e pensemos na possibilidade de ganhar e multiplicar o capital, mas esse ciclo da Selic ensina muito sobre a volatilidade do mercado e sobre como suas expectativas podem mudar, às vezes da noite para o dia, às vezes em questão de minutos. 

Veja o  gráfico abaixo. Ele mostra a evolução dos preços — portanto das probabilidades — das opções de Copom para a reunião de ontem ao longo do mês de julho. A linha mais clara é a opção que precificava uma queda de 0,25 ponto percentual, e a mais escura a de 0,5 ponto.

Perceba como o humor do mercado foi mudando ao longo do tempo. No começo do mês, estava praticamente dividido entre uma queda de 0,25 ou de 0,50. Com o tempo, o menor corte foi se firmando como o mais provável, a ponto de suas opções, no dia 14, precificarem 64% de chance. Com dados do IPCA, o mercado mudou de ideia, e, no dia 25, já não estava mais dividido, passando a considerar o corte de 0,5 ponto como o mais provável. 

O dia indicado com uma seta verde é o momento no qual eu escrevi a CompoundLetter passada, a qual espero que você tenha lido. Aquele foi o momento no qual o mercado mais esteve certo (nos dois sentidos), atribuindo uma probabilidade de 65% para a queda de 0,5 ponto. 

Hoje sabemos que ali a maioria dos agentes do mercado estava fazendo a aposta correta, mas veja como ele estava inseguro, e nos dias seguintes reprecificou novamente as probabilidades. 

Mas talvez a melhor lição sobre volatilidade e como as coisas mudam no mercado de forma abrupta tenha acontecido ontem. Se até a véspera do mercado estava acertando a queda da Selic, no dia as apostas foram bastante erradas. Uma notícia divulgada pela CNN de que o ministro Fernando Haddad julgava mais provável uma queda de 0,25 fez com que o mercado colocasse algumas fichas de volta nessa possibilidade.

O resultado é o que mostram os dados abaixo.

Até ontem, cerca de 144 mil contratos para agosto estavam em aberto, dos quais apenas 37.675 eram vencedores. Ou seja, cerca de 106 mil contratos viraram pó e seus apostadores perderam o valor pago.

Por tudo isso, continua valendo o que falei na semana passada: se você quiser usar as opções de Copom, não se esqueça que sua perda pode ser total. E vendo o que aconteceu ontem, não se esqueça que nos mercados os ventos mudam rapidamente e apostas vencedoras viram derrotas em instantes.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br