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Small Caps vs Large Caps

Acontece que como as small caps têm pouca liquidez, elas acabam sendo oportunidades quase proibitivas e que não movem o ‘ponteiro’ dos grandes investidores. 

Por Matheus Soares

26 Jun 2024 17h27 - atualizado em 26 Jun 2024 05h27

Atendendo às sugestões que recebo sobre quais assuntos abordar aqui, falarei hoje sobre as vantagens de se investir em small caps. Se você é um investidor pessoa física ou um investidor institucional de porte ainda pequeno, como é o caso do Market Makers FIA, em teoria, investir em small caps é um diferencial. Eu explico.

Embora não exista uma definição precisa, uma small cap geralmente é reconhecida como uma empresa fora do radar dos grandes investidores, com valor de mercado de até R$ 10 bilhões, liquidez restrita e, em alguns casos, um tremendo potencial escondido capaz de multiplicar o capital investido.

É tipo o Endrick antes de aparecer pro mundo após jogar a Copinha de 2022 pelo Palmeiras. Antes da Copinha ele era apenas uma promessa, bastou aparecer e mostrar o seu valor no time principal para o Real Madrid comprá-lo por R$ 400 milhões antes mesmo dele completar 18 anos. Será que ele tem potencial para valer R$ 800 milhões? Apesar de ainda ser uma promessa, as expectativas sobre seu futuro aumentaram e muito.

Isso significa que as small caps são empresas novas, inovadoras e que podem crescer ‘exponencialmente’? Não necessariamente. Empresas antigas e tradicionais como a Tupy, fundada em 1938, assim como empresas recém-chegadas na bolsa, como a Três Tentos, podem ser consideradas small caps pela liquidez restrita. Mas mesmo a Vivara, empresa coberta pelo sell side e com liquidez relevante, pode ser considerada uma small cap devido ao seu potencial de crescimento e valor de mercado abaixo de R$ 5 bilhões, por exemplo.

Embora a oportunidade de uma small cap esteja na possibilidade de comprar uma empresa pouco conhecida e ainda ‘pequena’ com potencial para multiplicar o capital investido, a realidade nem sempre é essa. Existem muitas empresas com décadas de atuação no Brasil que simplesmente não crescem e permanecem small caps para sempre, seja porque o país tem um ambiente de negócios desafiador, seja pelo fato do negócio em si não estar na moda – como é o caso da Tupy, que fabrica blocos e cabeçotes para motores a combustão.

Feita essa introdução, o trabalho profundo de análise fundamentalista para se comprar uma small cap é a mesma ao comprar uma large cap – empresa com vasta liquidez, bem coberta pelo mercado e que passou do estágio small. Ou seja, será preciso gastar tempo analisando como a empresa ganha dinheiro, a relevância dela dentro do setor, as vantagens competitivas (se existirem), as pessoas que tocam o dia-a-dia, o valuation da empresa, posicionamento dos fundos, dentre as outras peças desse quebra-cabeça infinito.

E além do trabalho de análise ser o mesmo, a maneira de ganhar dinheiro também é. Ou seja, o retorno do investimento poderá vir da valorização da ação – crescimento do lucro por ação e/ou da expansão de múltiplo – e/ou do recebimento de proventos.

Acontece que como as small caps têm pouca liquidez, elas acabam sendo oportunidades quase proibitivas e que não movem o ‘ponteiro’ dos grandes investidores. 

Imagina a seguinte situação: você tem R$ 1 bilhão, encontrou uma small cap com tremendo potencial de retorno que negocia R$ 10 milhões por dia e quer montar uma posição de 10% da sua carteira nela, ou seja, R$ 100 milhões. Se apenas você decidisse comprá-la, você demoraria pelo menos 10 dias de pregão. O problema é que no mercado as notícias correm rápido e até você comprar sua posição alguém vai puxar o preço dela justamente para você comprar mais caro.

Da pra fazer? Dá, mas quase sempre é um trabalho que um grande investidor não quer fazer já que as “portas de entrada e de saída são muito pequenas”.

Como os grandes investidores têm pouco interesse em encarteirar essas ações, os departamentos de análise dos bancos – que ganham dinheiro fornecendo análises para esses clientes – também não têm interesse em cobrir essas empresas.

Com menos pessoas analisando essas empresas, maiores as chances delas estarem mal precificadas. Sem falar que a teoria dos mercados eficientes praticamente inexiste nas small caps e as novas informações não são incorporadas rapidamente nos preços.

Se em tempos normais as small caps já ficam largadas, no momento atual então as small caps viraram palavrão.

O gráfico abaixo mostra o desempenho de uma carteira que tivesse comprado o índice small caps (SMLL) e vendido o Ibovespa. O patamar atual representa a menor relação de preços em mais de 14 anos.

Voilá. As oportunidades nesse mundo se apresentam e o investidor de porte mediano tem um diferencial e ainda conta com a ‘opcionalidade’ das small caps um dia serem compradas pelos grandes investidores, passarem a ser cobertas pelos bancos e se tornarem large caps.

Não à toa, hoje a Carteira Market Makers é composta majoritariamente por small caps abandonadas pelo mercado, mas que estão apresentando bons resultados operacionais, com níveis saudáveis de endividamento, recomprando ações, pagando dividendos, que vão sobreviver a esse mercado difícil e com um futuro que certamente será melhor ao que estamos vivendo agora.

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Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br