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Sobre Neymar, Raphael Veiga e a “Super Quarta” dos mercados
Fomc, Copom e novo arcabouço fiscal: A semana mais importante do ano chegou
Para ser um bom jogador de futebol, não basta apenas ser o mais habilidoso com a bola nos pés. Saber trabalhar em equipe, despertando o melhor de seus colegas, saber se adaptar ao estilo de jogo do adversário, ter serenidade de mudar seu próprio estilo por conta de uma adversidade no meio da partida… há inúmeras formas de ser um bom jogador mesmo não tendo “skills” dignos de um Ronaldinho Gaúcho.
Raphael Veiga, mesmo no seu auge técnico, nunca chegou ao mesmo nível técnico de um R10, um Neymar, um Zico etc. Mas já viu quantos gols ele fez em finais de campeonato? E quantos desarmes por jogo ele faz, auxiliando os outros meio campistas e armando contra ataques desde o campo defensivo? E a serenidade de sempre ser decisivo e manter a calma em jogos decisivos?
Apesar de não ter o mesmo dom que outros camisas 10, a inteligência emocional e leitura de jogo do Veiga mais do que compensam isso – basta ver quantos títulos ele já conquistou como titular no Palmeiras.
Leitura de jogo, para entender o que está acontecendo, e humildade para adaptar-se ao cenário exposto ao invés de simplesmente “fazer o que sabe”. Driblar como o Neymar pode te fazer ser o destaque da rodada por vários e vários jogos, mas não é necessariamente essa a forma de ganhar o campeonato.
Não importa o quão habilidoso você seja, o mercado uma hora vai te puxar para uma situação onde não basta apenas fazer o que você faz melhor, é preciso botar a bola no chão, entender a partida e adaptar sua estratégia – mesmo que a nova estratégia seja exatamente o contrário do que você mais sabe fazer.
Estamos vivendo isso agora. Há muito tempo que domingos mais parecem um dia útil, tamanha a quantidade de coisas rolando. Enquanto escrevia esta CompoundLetter no final do domingo, o UBS anunciou a compra do Credit Suisse por cerca de US$ 3 bilhões (quase um terço do que ele valia no fechamento de sexta) e os mercados acordavam tranquilos na Ásia. Já nesta manhã, ao reler o texto antes de enviar, tudo virou para o vermelho, enquanto o ouro é destaque de alta.
O legal de momentos como esse é perceber a sobreposição de problemas que o mercado costuma fazer. Até o final de 2022, nada era mais preocupante para os investidores brasileiros do que o discurso raivoso do Lula e suas consequências fiscais ao País. Hoje, estamos às vésperas de conhecer o pacote fiscal do Haddad e a impressão é que isso será sobrepujado pelos acontecimentos no exterior, tendo em vista os efeitos na política monetária mundial que isso pode (e deve) trazer.
O que dizer do Silicon Valley Bank, ou “SVB” (a pronúncia correta seria “és-vi-bi”, mas aqui abrazileiramos para “ésse-vê-bê”), que 10 dias atrás quase ninguém sabia da existência e hoje temos que nos tornar especialistas em “hold to maturity x available for sale” e outras métricas?
O “bom jogador” no mercado financeiro é aquele que tem a curiosidade intelectual o tempo todo ativada e a humildade de ir atrás de novos aprendizados, pois essa nova informação poderá fazer grande diferença em seus investimentos.
Nesse ponto, facilita muito a nossa vida no Market Makers ter um sócio como o Matheus Soares. O cara não só devorou tudo que é texto e podcast sobre o assunto, como fez uma das newsletters mais elogiadas da história do MMakers falando sobre o tema (vou deixar o link aqui) e repetiu esta aula na nossa costumeira live de sexta.
Além das consequências do deal “UBS + Credit” e da ainda não resolvida situação dos outros bancos americanos (a bola da vez agora é o First Republic), a semana reserva três eventos de suma importância para o futuro dos mercados: reunião do Fomc, reunião do Copom e anúncio do arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Embora os dois primeiros eventos aconteçam com frequência, eles serão amplamente aguardados nesta semana por motivos diferentes. Nos EUA, esperava-se uma alta de pelo menos 25 pontos-base na taxa de juros, já que ela deve subir mais uns 100 pontos até o final do ano. No entanto, o evento do SVB pode fazer com que o Fed sinalize que adotará uma postura mais complacente com os juros no decorrer de 2023.
A lembrar: a taxa de juros dos EUA está na banda entre 4,5% e 4,75%. Mercado projetava altas de 100pbs a 150pbs até o final do ano, mas diante dos eventos recentes já há quem enxergue quedas de juros no final do ano. A ver.
Por aqui, a aposta majoritária é que o BC mantenha a Selic em 13,75% ao ano. No entanto, a entrega do arcabouço fiscal será, para o governo, fator determinante para o BC “não ter desculpas” para cortar os juros – até por isso, Haddad divulgará o plano antes do Copom. A questão que fica é: e se o arcabouço fiscal não trouxer a tão esperada previsibilidade fiscal que o mercado espera? Terá o BC liberdade (e coragem) de não cortar os juros?
Sem bola de cristal, o melhor a fazer é esperar pra ver. Por isso mesmo, nesta semana faremos um “episódio duplo” do Market Makers: teremos uma primeira live hoje, segunda-feira (20), às 17h para falar do que esperar destes três grandes eventos. Voltaremos ao vivo na quinta-feira (23) também às 17h para contar como o mercado reagiu a estes três eventos e o que esperar daqui pra frente.
Se você não quer perder essa dupla live, já inscreva-se e ative o “sininho” de notificações do nosso canal no Youtube.
Driblar como Neymar sempre te fará ser o destaque de qualquer partida de futebol. Mas em jogos em que todas as adversidades possíveis aparecem e você não faz a menor ideia do que vai acontecer, é melhor botar a bola no chão e colocar um camisa 10 que volta pra marcar.
“Haaaaaaaaja coração”, diria Warren Buffett.
Obs¹: as referências e reflexões futebolísticas não foram à toa. Nosso time (“Empiricus + Market Makers”) classificou-se para as oitavas de final da Copa Flash Expense do Condado e jogaremos nesta terça às 21h o jogo decisivo contra a Suno – não bastasse a semana super crucial nos mercados, também teremos decisão dentro de campo. O jogo será transmitido ao vivo no Instagram da Copa do Condado (@copadocondado).