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Sobre ter propósito
Somente empresas com propósitos fortes abrirão novas frentes de crescimento após já terem “chegado lá”
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O poder do propósito na criação de culturas fortes é um tema central em Grit (2016), de Angela Duckworth. Ela evoca a parábola dos pedreiros para ilustrar seu argumento: “Perguntam a três pedreiros: ‘o que você está fazendo?’ O primeiro diz: ‘estou assentando tijolos’. O segundo diz: ‘estou construindo uma igreja’. E o terceiro diz: ‘estou construindo a casa de Deus’. O primeiro pedreiro tem um emprego. O segundo tem uma carreira. O terceiro tem um chamado”. Duckworth conclui que quando o objetivo principal de uma organização é tão consequente para o mundo que obriga seus funcionários a verem seu trabalho como chamado, culturas formidáveis surgem.
(Adriano Almeida, gestor da VII Capital, em seu livro “Acima do Mercado”)
O que é propósito pra você? Você tem algum propósito de vida?
Após quase 8 anos entrevistando toda semana investidores profissionais de ações, começa a ficar difícil ouvir alguma novidade. Por isso achei tão especial o podcast que gravamos com Adriano Almeida, fundador da VII Capital LLC, e que foi ao ar na última quinta-feira.
Almeida é brasileiro mas mora nos EUA desde 1987, então imagino o quão difícil deve ter sido pra ele falar por mais de 3 horas somente em português. A despeito do esforço linguístico, a quantidade de lições transmitidas por ele fez esse episódio entrar naquele hall de conversas que somente o Market Makers pode proporcionar (sim, deixei a modéstia de lado).
A lição que mais me pegou do episódio foi a questão do propósito. A história dos três pedreiros, contada no começo deste email, foi extraída do livro escrito pelo Almeida e reflete bem esta ideia.
É fato que empresas devem sim mirar o lucro, o resultado financeiro. Não há boa história que sobreviva a anos de prejuízo. Mas isso tem que ser uma consequência de seu trabalho, e não seu objetivo principal.
O que move uma empresa precisa ser algo muito mais profundo e quase inalcançável, pois é isso que manterá essa empresa ávida por mais resultados após a chegada dos cifrões. Somente empresas com propósitos fortes abrirão novas frentes de crescimento após já terem “chegado lá”.
Não pude deixar de trazer essa reflexão para minha própria empresa, o Market Makers: qual é o nosso propósito? Bom, nós somos apaixonados por conhecimentos e por transmitir isso da forma mais didática possível para o máximo de pessoas. Obviamente queremos ganhar dinheiro com nossa empresa, mas o que nos move não é o dinheiro, mas sim o desejo de melhorar a vida de várias pessoas.
Se tudo na vida fosse resumido a dinheiro, eu ainda estaria na empresa que eu já era sócio há 6 anos e era feliz fazendo meu trabalho. Mas quando você tem um propósito maior do que simplesmente o financeiro, algumas coisas falam mais alto e te fazem seguir outra direção.
O dinheiro será consequência de um propósito. E um propósito de verdade precisa ser um “ganha-ganha” para empresa e sociedade. No caso da própria gestora do Almeida: ele diz que seu propósito é como o da Disney, de “fazer sonhos virarem realidade”, pois eles trabalharão para multiplicar em várias vezes o patrimônio do investidor num horizonte de muito longo prazo, para que assim suas próximas gerações realizem seus sonhos.
Coincidentemente, Donato Ramos, gestor da Sollum Capital e um dos mentores do Market Makers, postou algo no LinkedIn que vai muito na linha do que conversamos no episódio:
“Nosso propósito como investidores é claro: apoiar e participar do crescimento das empresas que serão as próximas grandes protagonistas do mercado brasileiro ou até mesmo no mercado global em suas atividades. Nosso compromisso vai além dos resultados financeiros. Investimos em empresas com potencial para gerar impacto real na economia, criando empregos, valor sustentável e benefícios para todos os envolvidos – colaboradores, parceiros, comunidades e acionistas”.
Viver com um propósito te faz dizer ”não” para aquelas coisas inegociáveis e assim focar naquilo que nos move. Se esse propósito é apenas dinheiro, ele não necessariamente vai ser benéfico para a sociedade.
O tema “propósito” também foi usado para explicar como fazer para ter mais foco em leituras. “Eu não leio nada sem propósito”, disse Almeida, ao explicar como ele fez para montar o livro dele, ”Acima do Mercado” (aliás, recomendo fortemente a leitura deste livro – link do livro na Amazon).
Obrigado, Adriano Almeida, por tanto conhecimento transmitido para nós.
Pra quem não viu o episódio, o link está aqui.
E os mercados?
Não tem como não comentarmos o momento atual do mercado, que está em um nível máximo de pessimismo. Ciclicamente falando, é nessas horas que surgem as grandes oportunidades de compra, mas tornar a teoria em prática é muito difícil.
O último parágrafo da mais recente newsletter do Felipe Miranda trouxe uma conclusão tão boa que eu simplesmente assino embaixo em tudo que foi dito:
“Respeitadas as condições, ao ver o juro real longo brasileiro acima de 7% e uma série desses generais negociando a 8x lucros, faz sentido enfrentar a manada, dilatar o horizonte temporal e expor-se a um provável superciclo brasileiro ali na frente. As bicadas diárias do pássaro no fígado de Prometeu desafiam a resiliência. A vontade é correr para o conforto do CDI, comprar a esticada Bolsa americana e expor-se a cripto com alavancagem. A história real, no entanto, não é tanto afeita aos mitos. A sabedoria de Buffett é mais pragmática, convidativa e lucrativa: compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos. Todos adoram repetir o clichê. Poucos o executam na prática”.