Notícia

7min leitura

icon-book

Sr. Mercado, Margem de Segurança e ROIC: os 3 pilares da análise fundamentalista

Matheus Soares

Por Matheus Soares

28 Jun 2023 16h36 - atualizado em 28 Jun 2023 04h38

Sr. Mercado, Margem de Segurança e ROIC: os 3 pilares da análise fundamentalista

Depois de receber 38 respostas na newsletter anterior, eu não poderia deixar de escrever sobre os três tópicos que me comprometi com vocês: (i) o que faz as ações subirem ou caírem de preços diariamente, (ii) o ponto ótimo de compra de uma ação e (iii) um dos indicadores mais importantes para se atentar em uma análise de empresa.

Vou resumi-los como: i) Senhor Mercado, ii) Margem de Segurança e iii) Retorno sobre O Capital Investido.

Antes de falar sobre eles, queria registrar um agradecimento especial a todos – bem mais que os 5 leitores que eu imaginava – que não só leram até o último parágrafo da última CompoundLetter como também responderam ela com um carinhoso “eu quero”. Valeu D+.

Caso não tenha lido a newsletter anterior (cinco verdades que você precisa saber antes de comprar uma ação), recomendo: o conteúdo de hoje é complementar ao de semana passada. Se não leu, mas quiser arriscar, não passe vontade.

Até aqui, o que você precisa saber é isto:

  1. Comprar uma ação de uma empresa significa que você está adquirindo uma fração daquele negócio. Com isso, você tem direito a uma porção dos lucros futuros daquela empresa.
  2. Para saber o valor de uma empresa é preciso estimar (ou, adivinhar) o quanto ela será capaz de ganhar no futuro.
  3. O retorno da ação com os lucros da empresa deve render mais dinheiro do que se investisse a mesma quantia em um investimento conservador, geralmente o título de dívida de longo prazo do país.

Agora, vamos voltar ao exemplo da academia de musculação citado na semana passada: diversos investidores – inclusive o personal trainer – toparam pagar 8 reais por ação, avaliando o negócio por 8 milhões de reais (um milhão de ações multiplicado por 8 reais) e a academia XYZ passou a ser listada na bolsa de valores.

A negociação de compra e venda dessas participações ocorre da maneira que o investidor preferir: online ou por ligação telefônica com a intermediação de uma corretora. Toda essa atividade de compra e venda é chamada de mercado de ações.

Como as ações são negociadas de segunda a sexta, as pessoas que as compraram podem passar a vendê-las quando quiserem a qualquer um. É por conta disso que as ações variam de preço, podendo ir de 8 a 16 reais com alguma facilidade e depois cair para 4 reais com a mesma rapidez.

Por que isso acontece?

Aqui chegamos ao primeiro tópico da conversa de hoje:

1) Senhor Mercado

Talvez as pessoas não durmam tão bem quanto deveriam. Talvez seja difícil estimar os lucros futuros. Talvez as pessoas fiquem meio deprimidas em algumas ocasiões e não queiram pagar muito por alguma coisa. Talvez as pessoas se empolguem demais e, com isso, aceitem pagar muito pela mesma coisa. O mercado é feito por humanos e talvez as pessoas justifiquem os preços mais altos fazendo estimativas elevadas de lucros futuros quando estão felizes; e justifiquem os preços baixos fazendo estimativas pessimistas quando estão tristes.

A verdade é que não tem como saber por que as pessoas se dispõem a comprar e vender ações da maioria das empresas por preços absurdamente diferentes em intervalos de tempo tão curtos. Mas a verdade é que elas fazem! E saber isso é importante.

O pai da análise fundamentalista e um dos maiores pensadores sobre o mercado de ações, Benjamin Graham, tinha uma boa explicação para isso. Imagine que você é sócio de um negócio junto com um sujeito maluco chamado sr. Mercado. O sr. Mercado é propenso a loucas variações de humor. Todo dia ele se oferece para comprar suas ações ou vender a você, por determinado preço, as ações que ele tem de uma empresa. O sr. Mercado sempre deixa a decisão do seu lado e, diariamente, você tem três opções: pode vender suas ações para o sr. Mercado ao preço que ele definiu, pode comprar as ações do sr. Mercado por esse mesmo preço, ou pode não fazer nada.  

Às vezes, o sr. Mercado está tão de bom humor que estipula um preço muito mais alto do que o verdadeiro valor do negócio. Nesses dias, provavelmente faria mais sentido se você vendesse ao sr. Mercado suas ações. Em outros dias, ele está de tão mau humor que coloca o preço lá embaixo e então você pode se aproveitar da maluquice dele para comprar ações por uma barganha. Se o preço oferecido pelo sr. Mercado não é nem muito alto nem muito baixo, é melhor não fazer nada.

O mercado de ações é o sr. Mercado, mas lembre-se: você não é obrigado a agir. Seu maior balizador para saber quando agir é a margem de segurança – nosso segundo tópico.

2) Margem de segurança

Você vai comprar ou vender uma ação quanto maior ou menor for a sua margem de segurança.

Imagine que a ação da academia XYZ saiu de 8 reais para 4 reais. Se você acha que a ação deveria valer 10 reais, sua margem de segurança ao comprar nos 4 reais é de 6 reais. Se a sua estimativa do valor da ação for alta demais ou se o negócio de academias sofrer um revés inesperado após a sua compra, a margem de segurança do seu preço de compra original ainda pode protegê-lo de perder dinheiro.

Mesmo que você tivesse estimado o valor justo em 8 reais e depois verificasse que 7 ou 6 reais fosse um valor mais correto, um preço de compra de 4 reais seria uma margem suficiente para você ainda ganhar dinheiro com seu investimento original.

Portanto, se você ficar firme e só comprar boas empresas (aquelas que oferecem alto Retorno sobre O Capital Investido – ROIC), e só as comprar a preços irrisórios com ampla margem de segurança, você poderá comprar participações em boas companhias das quais o sr. Mercado se livrará.

Comprar ações de um bom negócio é melhor do que comprar ações de um mau negócio. É aqui que entra o terceiro tópico: ROIC.

3) Retorno sobre O Capital Investido (ROIC)

Por que as companhias que têm alto retorno sobre o capital são tão especiais?

Vamos voltar ao exemplo da academia XYZ.

Após conseguir o dinheiro dos acionistas, o plano da XYZ é crescer sua rede de academias para outras regiões. A academia que ela já tem gera 1 milhão de reais e seu plano de investimento é investir os 4 milhões captados em duas novas academias (2 milhões cada).  

O investimento de 2 milhões é o mesmo que a XYZ teve que fazer na sua atual academia. Ou seja, como o investimento foi de 2 milhões (incluindo máquinas de musculação, piscina etc.) e o negócio retorna 1 milhão por ano, isso significa que o retorno sobre o capital para abrir uma academia foi de impressionantes 50% (1 milhão divididos por 2 milhões).

Se a primeira academia serve de bom indicador e se a XYZ realmente consegue lucrar 50% ao ano abrindo uma nova academia, isso faz com que o negócio seja especial. É raro encontrar algo que retorne 50% ao ano, embora não exista garantia alguma que isso vá se repetir.

Ou seja, a academia tem uma opção muito melhor do que simplesmente deixar o dinheiro no banco rendendo ‘CDI’. A companhia pode utilizar o dinheiro captado para crescer e investir o lucro delas rendendo 50% ao ano. 

Vamos supor que o investimento de 4 milhões nas duas novas lojas geraram o retorno esperado e hoje a XYZ consegue lucrar 3 milhões de reais por ano com suas três academias.

Se a XYZ pegar os 3 milhões de reais e investir numa nova academia que ganhe 50% de retorno anual, os lucros da rede serão de 4,5 milhões no próximo ano (3 milhões das lojas originais e mais 1,5 milhão da nova loja). Partir de 3 milhões no último ano e chegar a 4,5 milhões de reais no próximo ano representa um crescimento de 50% em um ano!

Ser dono de um negócio que tem a oportunidade de investir uma parte dos lucros – ou todo ele – com alto índice de retorno pode contribuir para um crescimento dos lucros numa velocidade também muito alta.

Agora que você foi apresentado a esses conceitos, eu diria que você acabou de conhecer uma parte importante do nosso processo de investimento. 

A gente adora comprar empresas que o sr. Mercado não esteja querendo, que ofereçam algum grau de margem de segurança e que sejam empresas capazes de reinvestir parte dos lucros no próprio negócio, ampliando suas vantagens competitivas e entregando resultados acima do esperado.

Quer conhecer mais sobre nosso trabalho? Clique aqui.

Compartilhe

Matheus Soares
Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br