Notícia

3min leitura

icon-book

Um governo histérico só atrapalha

Para a Kapitalo, a desaceleração da economia brasileira não é o fator mais preocupante na decisão de tomada de risco

Renato Santiago

Por Renato Santiago

14 Apr 2023 14h38 - atualizado em 14 Apr 2023 02h38

Um governo histérico só atrapalha

Para o mercado financeiro, a principal utilidade de um arcabouço fiscal é ser usado para fazer contas.

Analistas e gestores usam as regras do governo para conseguir alguma visibilidade de como estará a economia no futuro e assim investir com um mínimo de previsibilidade das condições macroeconômicas. 

Nos meses que passamos sem regra fiscal alguma, a sensação era de que a Faria Lima não fazia nada no Brasil, a não ser esperar — afinal, não se navega sem visibilidade.

No mês passado, o novo governo finalmente apresentou sua regra e os “cabeças de planilha” puderam preencher seus modelos, projetar inflação e taxa de juros e enxergar pelo menos um pouco mais à frente. Bom ou ruim, o arcabouço pelo menos agora existe e nós sabemos qual é a regra do jogo que vamos jogar. Assim, o mercado começou a andar.

O problema é que estamos no Brasil.

Não sei se você se lembra, mas já tivemos por aqui uma regra fiscal sólida, que funcionava muito bem — tão bem que possibilitou ao Banco Central derrubar os juros para 2% ao ano. Era o chamado teto de gastos, demolido em pleno ano eleitoral, apesar de ser uma cláusula da Constituição e de o ministro da Economia ser um liberal, ao menos até então.

Impor regras de gastos públicos, portanto, é excelente, mas os governos por aqui fazem isso tanto a contragosto que é melhor nem confiar muito. Veja o que disse ontem o Carlos Woelz, no episódio 40 do Market Makers.

“O mercado está operando se o arcabouço fiscal vai chegar à próxima eleição ou não. Ele não é tão ruim,  mas eu acho que na primeira desaceleração ele será rasgado. Foi assim com o teto de gastos e com um governo que tinha o Paulo Guedes (…). Qualquer chacoalho vai ter regra por fora”, explica. “Os cabeças de planilha, como nós, vão fazer conta e capaz de se animarem, mas qual é a persistência desse negócio? Eu acho que vale muito pouco”, completa.

Junte-se a isso a inflação ainda estar distante do centro da meta, o Banco Central não ter dado sinais de redução da Selic e um certo apetite deste governo por políticas expansionistas parafiscais, e o que temos é um cenário favorável à cautela. “É necessário desacelerar a economia, o problema é como o governo vai reagir. A gente não sabe quão histérico o governo vai ficar”, completa Carlos. 

Depois de ler tudo isso, você só pode pensar: com certeza o Carlos está vendido em bolsa. “Na verdade isso é uma grande explicação de porque eu não estou comprado pra caramba”, diz. “A bolsa brasileira está muito barata”, resume. “Esse momento é único, onde tem juro real alto e a bolsa com um prêmio grande, o que dificulta muito ficar vendido. Pelo contrário, dá até um pouco de vontade de pegar um pouco essa animação que as pessoas vão ter de chegar [por causa do novo arcabouço]”. “Mas não consigo ver uma esperança muito no longo prazo”, conclui.

Vivendo em um país que não perde oportunidades de perder oportunidades, você diria que o Carlos está cauteloso demais? Eu não.

Se você ainda não ouviu o episódio de ontem, o trecho acima é a segunda parte do programa e começa mais ou menos no minuto 45 do podcast e 52 no YouTube, depois de explicação sobre o sui generis modelo de negócio da Kapitalo.

No exterior, a expectativa dos gestores da Kapitalo é de juros altos nos Estados Unidos e desaceleração por lá, na Europa e China. “EUA vai seguir na toada de juros em alta com dados perigosos de inflação alta e mercado de trabalho apertado. China e Europa tiveram reações positivas da economia no curto prazo, mas pra mim estamos tendo cada vez mais sinais de que teremos uma desaceleração global”, diz Woelz.

Compartilhe

Renato Santiago
Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br