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Um jantar com Morgan Housel
Foi interessante ouvir o autor de 'A Psicologia Financeira', um americano de hábitos modestos e poucos luxos
Tive a oportunidade de participar de um seleto jantar com Morgan Housel, sócio do The Collaborative Fund e autor de dois best seller de finanças – “A Psicologia Financeira” e “O Mesmo de Sempre”. Deixo meu agradecimento à AGF pelo convite para participar deste encontro super exclusivo.
Foi muito legal descobrir que o Psicologia Financeira foi recusado por 21 editoras antes de finalmente ser aprovado pela britânica Harriman House. O livro já superou 7 milhões de exemplares vendidos no mundo todo, disse o autor.
Foi interessante ouvir de Housel, um americano de hábitos modestos e poucos luxos, a percepção de como os americanos sentem que o momento econômico do país é péssimo – embora os indicadores econômicos apontem o contrário.
Foi legal saber que ele lançará um novo livro no segundo semestre do ano que vem, este focado em estudar a psicologia por trás dos gastos das pessoas.
Foi “curioso” ouvir por que ele acredita que o modelo chinês pode colapsar pois há cada vez mais pessoas descontentes com a condução autoritária do governo (eu digo “curioso” pois não compactuo dessa visão).
Foi fofo ele contar por que raramente ele fica mais do que um dia nas cidades em que vai palestrar: “tenho duas filhas pequenas em casa. Minha prioridade são elas”.
Como ia ter esse encontro, aproveitei para reler o Psicologia Financeira e fiz um resumo da leitura, numa espécie de “catadão” de insights e passagens que ele traz no livro. Cada um destes tópicos poderia virar uma newsletter à parte, tamanha a profundidade de discussão que poderia sair disso.
Tentei escrever de forma que a leitura seja útil tanto pra que já leu o livro quanto para quem está conhecendo Morgan Housel agora por esta newsletter.
Segue abaixo:
Suas decisões financeiras estão muito baseadas nas suas experiências de vida. Pesa muito sobre suas escolhas, o local e a época em que você nasceu ou como foi sua relação com o dinheiro durante sua vida. Isso explica, por exemplo, por que famílias de baixa renda gastavam 4x mais do que as famílias ricas com bilhetes de loteria (US$ 400/ano vs US$ 100/ano).
> Ter o suficiente é a meta mais importante que você deveria almejar. Quem não sabe o que é suficiente está sujeito a correr o risco de perder não apenas dinheiro, mas até a credibilidade e a admiração daqueles que te amam. As pessoas e o próprio capitalismo nos trazem a ideia de que temos que sempre reajustar nossas metas para cima, mas certas coisas são inestimáveis e, uma vez perdidas, fica muito difícil recuperar. Reputação, o amor da família e das pessoas que você quer bem, felicidade… Ter o suficiente já é o que basta.
> Ter o suficiente não é um objetivo conservador, até porque o oposto disso (que é querer sempre mais) vai levá-lo até o ponto do arrependimento. Bernie Madoff já era bastante milionário quando criou um dos maiores esquemas de pirâmide da história do mercado.
> A maior lição que Buffett nos ensina é o poder do compounding e a importância de começar cedo e ter disciplina. Buffett, na época que o livro foi publicado, tinha 89 anos e US$ 84,5 bilhões. Desse montante, US$ 84,2 bilhões foram ganhos depois que ele fez 50 anos (isso mesmo: Buffett aos 50 anos tinha “só” 0,3% do que ele tem hoje). Se fosse ele é uma pessoa normal, que começa investir próximo dos 20 anos e aos 60 para de investir para curtir a aposentadoria, seu patrimônio estaria na casa dos US$ 12 milhões com os mesmos retornos.
> A melhor parte de um plano é ter um plano pra caso o plano não esteja andando dentro do plano. Crises e no mercado economia sempre vão acontecer, então não se preocupe. Benjamin Graham dizia: o objetivo da margem de segurança é fazer com que a previsão não seja necessária.
> Buffett não se atolou em dívidas, não entrou em pânico e nenhuma das 14 recessões que atravessou, não manchou sua reputação empresarial, não se prendeu a uma única estratégia, não dependeu de dinheiro de terceiros, não se deixou esgotar e desistir, não se aposentou. Investir de forma consistente dos 10 aos 89 anos fez maravilhas pelo trabalho da composição.
> O que a Era do Gelo e a formação das montanhas nos ensina sobre investimentos é: você não precisa de uma força fora do comum para criar resultados fora do comum. Não é necessariamente a quantidade de neve que provoca a formação de camadas de gelo, mas o fato de que a neve permaneça, por menor que seja o seu volume.
> Ficar rico é uma coisa, continuar rico é outra coisa. Jesse Livermore e Abraham Germansky tiveram caminhos diferentes mas desfechos iguais: enquanto o primeiro ficou milionário na crise de 1929, o outro perdeu toda sua fortuna. No final, ambos se suicidaram, mas em alguns anos de diferença.
> Uma boa definição de “gênio investidor” é “a pessoa capaz de tomar uma decisão mediana enquanto todos ao seu redor estão enlouquecendo”.
> Ter o controle do tempo é o melhor dividendo que o dinheiro pode pagar. O livro “O Bem Estar dos Americanos” mostra que o que diferenciava pessoas felizes de tristes era “ter uma forte sensação de estar sob controle da própria vida”, mais do que o salário ou o tamanho da sua casa.
> John Bogle, fundador da Vanguart, foi o maior promotor dos ETFs (fundos passivos) da história, mas investia parte do próprio dinheiro nos fundos administrados pelo filho. A explicação dele: “fazemos algumas concessões quando se trata de família (…) Se isso não parece coerente, bem, a vida nem sempre é assim”.
> Quanto mais para trás você olha para a história, mais genéricas precisam ser as lições extraídas. Comportamentos humanos podem ser parecidos ao longo do tempo, mas a dinâmica de negócios e setores específicos está em constante transformação.
> A lição correta a aprender com as surpresas é que o mundo é surpreendente. Eventos sem precedentes não têm como se prever.
> O livro “O Investidor Inteligente” é um dos mais importantes do mercado, mas quem tentou aplicá-lo na prática dificilmente teria tido sucesso. Jason Zweig revelou que Ben Graham substituiu as fórmulas a cada nova versão do livro e a última versão foi nos anos 1970 (ele morreu em 1976). Se a fórmula que ele usava mudou 5x vezes até 1970, por que imaginar que elas seriam úteis até hoje?
> É muito mais fácil lidar com os problemas quando eles não são seus, pois quando é você que está tendo que tomar uma decisão há muitos fatores invisíveis que você precisa enfrentar. O S&P500 cresceu 118x de 1968 a 2018, mas quem conseguiu ficar parado investido nele por estes 50 anos? “Manter as ações para o longo prazo” é um bom conselho, mas você sabe o quão difícil é manter isso enquanto as ações estão despencando?
> Ir para Disney custa uns $100, mas isso vai te trazer lembranças pro resto da vida. Se você acha justo preço que você paga, fica muito mais fácil encarar a volatilidade.
> Cuidado ao ouvir conselhos financeiros de pessoas que não estão jogando o mesmo jogo que você. Identifique que jogo você está jogando. O jogo que uma mulher de idade avançada e viúva está jogando é bem diferente do jogo de um adolescente day trader.
> Bolhas financeiras são formadas por uma forte sensação de euforia. Mas lembre-se que as pessoas não são malucas, ou seja, havia uma justificativa racional por trás de toda essa euforia. Por isso é tão difícil aprender e identificar as bolhas, porque elas não se parecem com uma doença que é só fazer um exame para identificá-la, elas se parecem mais com a ascensão e a queda de um partido político.
> Otimista é enxergar um final feliz. Enxergar um final feliz SEMPRE não é otimismo, é complacência.
Ps: ainda não li ”O mesmo de Sempre”. Se você já leu e quiser me contar sua opinião ou fazer um resumo, vou adorar ler!