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Uma aula de longo prazo na Bolsa

'A média de tempo que um acionista ficava com uma ação nos Estados Unidos era 8 anos em 1960. Em 2005, caiu para 5 anos. Hoje são 6 meses'

Por caio.nascimento

14 Aug 2024 12h01 - atualizado em 14 Aug 2024 12h01

Esse foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores episódios que já gravei“. Foi falando isso que Thiago Salomão chegou no escritório do Market Makers após a gravação do episódio #120 com Cristiano Souza, que foi sócio da Dynamo por 29 anos e fundou a Zeno Equity Partners.

O tanto de elogio nos comentários do papo no YouTube, aliás, não o deixa mentir.

No mercado de ações desde 1994, Cristiano compartilhou sua história, como avalia a cultura de uma empresa, os maiores inimigos de um investidor, suas posições em ações globais e algo que, infelizmente, tangibiliza o comportamento da maioria dos investidores de Bolsa hoje: o curto prazismo, com pessoas resgatando e investindo em momentos errados numa incançável busca por dinheiro fácil que, no final das contas, se resume em dor.

Ele ilustra isso trazendo o desespero dos investidores em 1997, com a crise dos títulos da dívida externa brasileira. Na época, muitas pessoas físicas que compravam dívida alavancada tomaram chamada de margem (ou seja, provisionamento do saldo pela Bolsa em garantia a operações de risco).

Isso gerou uma aversão gigante ao risco, levando investidores a resgatarem o dinheiro por razões emocionais.

Na época, o fundo de ações da Dynamo no qual Cristiano trabalhava (Dynamo Cougar FIC FIA, iniciado em janeiro de 1996) teve uma desvalorização expressiva, chegando a -8% no resultado acumulado, em setembro de 1998, contra +80% do CDI e -10% do Ibovespa.

No entanto, Cristiano e sua equipe se mantiveram firmes mesmo em meio à turbulência. Quando a situação normalizou, em 1999, o fundo se recuperou, entregando um retorno acumulado de 260% contra 220% do Ibovespa e 150% do CDI até janeiro de 2000. 

Moral da história: enquanto os desesperados vendiam e realizavam prejuízos — como fazem nos dias atuais —, ele provou que a sua convicção, com um pensamento de longo prazo bem fundamentado, estava correta.

“O maior inimigo da construção de patrimônio é a emoção. Nunca, em 30 anos de carreira, passando por todos momentos de turbuência que você pode imaginar, eu vi um comportamento tão curto prazista nas pessoas. A média de tempo que um acionista ficava com uma ação nos Estados Unidos era 8 anos em 1960. Em 2005, caiu para 5 anos. Hoje são 6 meses. As pessoas perderam a capacidade de pensar a longo prazo. Eu não sei se é a mídia social que está fazendo isso com elas… não sei o que é. Mas existe hoje uma necessidade de retorno e gratificação instantâneas a níveis que nunca imaginei”, afirmou na conversa com Thiago Salomão e Matheus Soares.

Cristiano falou também que esse comportamento é piorado pela própria indústria de investimentos, que incentiva movimentos curto prazistas de acordo com tendências momentâneas.

“Existe toda uma estrutura de distribuição que é voltada para isso. E as emoções que entram nessas decisões acabam atrapalhando. Tem um estudo que mostra que se você pegar o retorno médio de um fundo nos Estados Unidos e comparar com o retorno dos cotistas, o fundo, na média, sempre vai bem. E o retorno dos cotistas é horroroso, porque o cotista sempre resgata na hora que não tem que resgatar e sempre aplica na hora que não deve aplicar”, disse.

No minuto 1:53:52, Cristiano falou algumas posições da sua carteira, como:

– General Eletric (ligada a motores, energia e soluções digitais);

– Linde (uma das maiores empresas de gás industrial do mundo e, nas palavras de Cristiano, “um negócio excepcional… a coisa mais próxima de um utility não regulado que já encontrei na vida”);

– Moët Hennessy Louis Vuitton (empresa de bens de luxo);

– AppFolio (empresa que provê software para gestores de propriedade, profissionais que até pouco tempo atrás dependiam de Excel e, agora, estão tendo o trabalho otimizado graças à solução tecnológica da companhia);

– Amazon; e

– Amphenol (produtora americana de conectores eletrônicos, cabos e sistemas de interconexão).

Vale a pena assistir!

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