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Uma aula de longo prazo na Bolsa
'A média de tempo que um acionista ficava com uma ação nos Estados Unidos era 8 anos em 1960. Em 2005, caiu para 5 anos. Hoje são 6 meses'
“Esse foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores episódios que já gravei“. Foi falando isso que Thiago Salomão chegou no escritório do Market Makers após a gravação do episódio #120 com Cristiano Souza, que foi sócio da Dynamo por 29 anos e fundou a Zeno Equity Partners.
O tanto de elogio nos comentários do papo no YouTube, aliás, não o deixa mentir.
No mercado de ações desde 1994, Cristiano compartilhou sua história, como avalia a cultura de uma empresa, os maiores inimigos de um investidor, suas posições em ações globais e algo que, infelizmente, tangibiliza o comportamento da maioria dos investidores de Bolsa hoje: o curto prazismo, com pessoas resgatando e investindo em momentos errados numa incançável busca por dinheiro fácil que, no final das contas, se resume em dor.
Ele ilustra isso trazendo o desespero dos investidores em 1997, com a crise dos títulos da dívida externa brasileira. Na época, muitas pessoas físicas que compravam dívida alavancada tomaram chamada de margem (ou seja, provisionamento do saldo pela Bolsa em garantia a operações de risco).
Isso gerou uma aversão gigante ao risco, levando investidores a resgatarem o dinheiro por razões emocionais.
Na época, o fundo de ações da Dynamo no qual Cristiano trabalhava (Dynamo Cougar FIC FIA, iniciado em janeiro de 1996) teve uma desvalorização expressiva, chegando a -8% no resultado acumulado, em setembro de 1998, contra +80% do CDI e -10% do Ibovespa.
No entanto, Cristiano e sua equipe se mantiveram firmes mesmo em meio à turbulência. Quando a situação normalizou, em 1999, o fundo se recuperou, entregando um retorno acumulado de 260% contra 220% do Ibovespa e 150% do CDI até janeiro de 2000.
Moral da história: enquanto os desesperados vendiam e realizavam prejuízos — como fazem nos dias atuais —, ele provou que a sua convicção, com um pensamento de longo prazo bem fundamentado, estava correta.
“O maior inimigo da construção de patrimônio é a emoção. Nunca, em 30 anos de carreira, passando por todos momentos de turbuência que você pode imaginar, eu vi um comportamento tão curto prazista nas pessoas. A média de tempo que um acionista ficava com uma ação nos Estados Unidos era 8 anos em 1960. Em 2005, caiu para 5 anos. Hoje são 6 meses. As pessoas perderam a capacidade de pensar a longo prazo. Eu não sei se é a mídia social que está fazendo isso com elas… não sei o que é. Mas existe hoje uma necessidade de retorno e gratificação instantâneas a níveis que nunca imaginei”, afirmou na conversa com Thiago Salomão e Matheus Soares.
Cristiano falou também que esse comportamento é piorado pela própria indústria de investimentos, que incentiva movimentos curto prazistas de acordo com tendências momentâneas.
“Existe toda uma estrutura de distribuição que é voltada para isso. E as emoções que entram nessas decisões acabam atrapalhando. Tem um estudo que mostra que se você pegar o retorno médio de um fundo nos Estados Unidos e comparar com o retorno dos cotistas, o fundo, na média, sempre vai bem. E o retorno dos cotistas é horroroso, porque o cotista sempre resgata na hora que não tem que resgatar e sempre aplica na hora que não deve aplicar”, disse.
No minuto 1:53:52, Cristiano falou algumas posições da sua carteira, como:
– General Eletric (ligada a motores, energia e soluções digitais);
– Linde (uma das maiores empresas de gás industrial do mundo e, nas palavras de Cristiano, “um negócio excepcional… a coisa mais próxima de um utility não regulado que já encontrei na vida”);
– Moët Hennessy Louis Vuitton (empresa de bens de luxo);
– AppFolio (empresa que provê software para gestores de propriedade, profissionais que até pouco tempo atrás dependiam de Excel e, agora, estão tendo o trabalho otimizado graças à solução tecnológica da companhia);
– Amazon; e
– Amphenol (produtora americana de conectores eletrônicos, cabos e sistemas de interconexão).
Vale a pena assistir!