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O Value Investing na minha vida
Para mim, isso é mais que uma filosofia de investimento
O value investing virou a minha filosofia de vida. E digo virou, porque no início da minha jornada como investidor eu não era um value investor. Eu era apenas um entusiasta que gostava da ideia de ganhar dinheiro investindo em ações. Lia ao noticiário e assistia diariamente vídeos de analistas técnicos dizendo quais papéis comprar com base no comportamento histórico dos preços. Eu mal entendia o que era uma ação de verdade, e muito menos o que fazia uma empresa criar valor no longo prazo.
Mas verdade seja dita: aquela vontade de ganhar dinheiro investindo em ações me aproximou do value investing. A primeira vez que li “O Investidor Inteligente”, escrito em 1949 por Benjamin Graham, foi no início de 2016. Eu lembro de estar um dia no ponto de ônibus da Avenida Nove de Julho, e simplesmente perdi o ônibus que me levaria à Rico Corretora – onde eu era estagiário – porque estava imerso naquele novo mundo que se apresentava para mim.
Aquele livro – o maior clássico do value investing – me apresentou os pilares de uma filosofia que, mais tarde, não apenas me ensinaria a investir melhor, como me ajudaria a tomar melhores decisões de vida.
O primeiro pilar do value investing é a ideia que os preços das ações oscilam. Para cima, para baixo, por motivos racionais ou completamente irracionais. Às vezes por notícias relevantes. Às vezes porque milhões de pessoas com horizontes distintos estão negociando no mesmo mercado — umas eufóricas, outras com medo, outras sem ideia do que estão fazendo. Por isso, muitas vezes, os preços se desconectam dos fundamentos.
O segundo pilar é a convicção de que as ações têm valor intrínseco, que pode ser estimado com razoável precisão por um investidor inteligente. Se você estudou e conhece com profundidade a empresa e o setor em que ela atua, será capaz de estimar, com certo grau de confiança, o seu valor. Ao saber o valor de algo, e não apenas o preço de tela, você terá condições de comprá-lo com desconto.
E veja: ainda que você tenha feito o trabalho correto e comprado uma ação por menos do que ela deveria valer, é comum ver o preço dela se desvalorizar abaixo do valor que você considerava justo. Quanto maior o desconto, maior a sua margem de segurança e mais protegido você estará.
E o terceiro pilar é que, embora no curto prazo os preços das ações reflitam o humor do mercado, no longo prazo os preços convergem para o valor intrínseco dessas ações. No curto prazo, o mercado é uma urna de votação onde vence o “candidato” mais popular; no longo prazo, é uma balança, muito mais equilibrada e capaz de avaliar de maneira ponderada os fundamentos do negócio.
É justamente a oscilação do preço que permite ao value investor fazer o que faz – comprar ações com bastante desconto do valor do negócio e esperar com paciência até que o mercado reconheça o seu valor.
O livro me impactou tanto que a partir dele mergulhei nos investidores que seguiram essa filosofia. E todos aqueles que a seguiram com rigor bateram o mercado de forma consistente. O exemplo máximo é a Berkshire Hathaway. Em seis décadas, Buffett entregou 19,9% ao ano — multiplicando o valor da empresa em 55 mil vezes, contra 390 vezes do S&P 500.

Um investimento de $1 em 1965 teria se transformado em mais de $55.000 na Berkshire e cerca de $390 no S&P 500 já considerando os dividendos reinvestidos.
Warren Buffett foi aluno de Benjamin Graham e de vários de seus colegas que também bateram o mercado de ações americano ao longo do tempo.
E foi ao estudar Warren Buffett que encontrei Charlie Munger.
Dizer que Munger foi um dos maiores investidores da história é verdade, mas é pouco. Munger era um pensador raro – lúcido, afiado, irônico, objetivo, divertido. Alguém que viveu em busca do aprendizado contínuo tão intensamente e com tanta clareza que deixou um conjunto de ensinamentos capazes de transformar a forma como uma pessoa enxerga o mundo.
Foi com Munger que eu internalizei o value investing como filosofia de vida – não só como método de investimento.
Em um discurso que ele deu para uma turma de graduação em Harvard, ao invés de ensinar os alunos a como ganhar dinheiro ou ser feliz, Munger sugeriu a eles que invertessem a pergunta: como ser uma pessoa infeliz e miserável? Algumas perguntas são bem mais fáceis de serem respondidas quando se inverte a ordem.
O discurso inteiro é fantástico, mas quatro ensinamentos definiram grande parte da minha forma de pensar e investir do Market Makers FIA:
1) Seja confiável
Munger dizia que a maneira mais rápida de arruinar a vida é ser alguém em quem não se pode confiar. Para um investidor isso é ainda mais verdadeiro: não dá pra se tornar sócio de uma empresa se você não confia nas pessoas que tocam a empresa. Empresas excelentes são, antes de tudo, organizações confiáveis.
2) Aprenda com os outros
Munger repetia: “não tente aprender tudo só pela experiência própria”. O mundo já produziu séculos de erros caros – e seria tolice pagar novamente por cada um deles. Por isso, estudamos (e entrevistamos) obsessivamente empresas, setores, ciclos, investidores do passado e do presente. Aprender vicariamente é multiplicar inteligência sem multiplicar cicatrizes.
3) Não desanime diante da adversidade
Todo investidor vai errar. Toda empresa passa por ciclos. Quem compõe capital é quem levanta, revisa, ajusta e segue. Munger repetia que a vida é dura demais para você ainda espremer nela o “bagaço do ressentimento”. Cair é inevitável, mas permanecer caído é uma escolha.
4) Destrua suas ideias favoritas
Esse é o coração do pensamento Mungeriano. Ele citava Darwin e Einstein: ambos tinham por hábito buscar ativamente informações que contradiziam suas teorias. Essa disciplina de testar, desafiar e tentar destruir suas convicções é essencial na vida de um investidor.
Eu não poderia ser mais grato ao value investing. Ele tem me proporcionado melhores decisões de investimento, melhores decisões de vida e, principalmente, me possibilitado encontrar pessoas que, com a mesma filosofia, conquistaram independência financeira e vivem de maneira feliz, orientadas pela busca contínua do aprendizado.
Hoje, como responsável pela carteira de ações do Market Makers FIA, digo que nossa filosofia nasce das duas maiores referências que já passaram pelo mundo dos investimentos: Warren Buffett e Charlie Munger.
De Buffett herdamos o raciocínio de Benjamin Graham: a ideia fundamental do value investing – comprar algo por menos do que vale.
E de Munger aprendi que investir bem exige muito mais do que analisar números. Exige pensar de forma multidisciplinar, conectar ideias de diferentes campos, manter a paciência e, acima de tudo, evitar a estupidez – algo que só é possível com humildade verdadeira e um foco consistente no longo prazo.