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Você pode ser um gênio e mesmo assim falhar como investidor
O que a genialidade política e o perfil de péssimo investidor de Winston Churchill
Se tem um programa que eu gosto de fazer é assistir aos filmes da Segunda Guerra Mundial. Desde os filmes que retratam a perseguição ao povo judeu como “A vida é bela”, “O pianista” e “O menino do pijama listrado”, até filmes que retratam batalhas emblemáticas, como “O resgate do soldado Ryan” e “Dunkirk”, até documentários como “A segunda guerra em cores”. Nesse fim de semana eu comecei e terminei “Churchill em guerra”, o documentário de quatro episódios que a Netflix fez sobre Winston Churchill.
A série compila os eventos geopolíticos marcantes daquele período minuciosamente contados a partir dos milhares discursos que Churchill fez ao longo dos anos anteriores e posteriores à guerra. Além de imagens e vídeos coloridos da guerra, a produção faz uso da inteligência artificial para dar a voz de Churchill aos discursos.
Ele foi talvez a figura mais importante daquela época e o homem que resistiu duramente à tentativa nazista de dominar a Grã-Bretanha e, consequentemente, a Europa. Como Primeiro Ministro do Reino Unido, seus discursos não só buscavam resgatar a moral do povo inglês, que no auge da expansão nazista na Europa viu Londres ser bombardeada durante 57 noites seguidas, no que ficou conhecido como o início do Blitz, como também o aproximara de Franklin D. Roosevelt, presidente dos Estados Unidos no período.
É inacreditável imaginar que o mundo poderia ser completamente diferente se não fosse ele.
Mas o que eu não fazia ideia e descobri na segunda-feira, é que apesar de toda a sua genialidade, liderança e protagonismo político, Churchill era um péssimo investidor.
A relação de Churchill com investimentos foi brilhantemente compilada no livro “Acima do Mercado” de Adriano Almeida, nosso entrevistado no episódio #164 que vai ao ar amanhã. Poucos livros me impactaram tanto quanto esse e poucas entrevistas me ensinaram tanto quanto a que fizemos com ele.
Estima-se que Churchill escreveu de oito a dez milhões de palavras em mais de quarenta livros, milhares de artigos e pelo menos dois roteiros de filmes. E o curioso é que muitos de seus escritos foram inspirados pela necessidade de ganhar dinheiro para cobrir perdas de suas especulações no mercado de ações.
Ao contrário de Karl Marx, que perdia dinheiro com ações por conta do seu pessimismo, Churchill era um otimista que ‘apostava’ na alta do mercado.
“Nascido no palácio de sua família em Oxfordshire em 1874, Winston Churchill era filho de Lord Randolph, 1º Duque de Marlborough, que se casou com Jennie Jerome, filha de Leonard Jerome, um especulador bem-sucedido do mercado de ações conhecido como “O Rei de Wall Street”. Winston também era neto de John Spencer-Churchill, uma importante figura política durante o governo de Benjamin Disraeli. Amparado pela riqueza e prestígio que sua família possuía, Churchill não comprometeu seu estilo de vida luxuoso, mesmo quando se encontrava em dificuldades financeiras.
O autor David Lough comenta sobre a conduta irracional de Churchill nos mercados: “Nunca encontrei alguém assumindo riscos na escala de Churchill durante minha carreira aconselhando pessoas sobre suas finanças.” Churchill apostava globalmente em ações de mineração, exploração de petróleo, papel, ferrovias, varejo, tabaco e outras indústrias. Em busca de ação, ele tinha uma forte preferência por ações arriscadas. Um de seus favoritos era a varejista Montgomery Ward. Lough descreve um episódio na década de 1930 em que ele comprou e vendeu ações da Montgomery dezesseis vezes em quatro dias.
Em 1929, após chegar a Nova York para uma breve visita, Churchill se encontrou com seu amigo Bernard Baruch, um especulador bem conhecido. Do escritório de Baruch, Churchill negociou no mercado sem a menor ideia do que estava fazendo. Em pouco tempo, perdeu uma fortuna. Diz a lenda que, quando Churchill informou Baruch sobre sua ruína, Baruch lhe disse para não se preocupar, pois havia dado instruções para cancelar todas as operações de Churchill ao assumir o lado oposto do mercado.
Em outra história, Churchill comprou ações de uma empresa canadense de exploração de petróleo após uma breve reunião com seu promotor, apenas para ver a empresa ir à falência. Lough afirma que o promotor era conhecido por ser suspeito, mas o homem que provou ser um estrategista brilhante de guerra e um político astuto caiu na conversa do promotor. Ele claramente não focava nas pessoas ao escolher ações, mesmo sendo brilhante ao selecionar generais de guerra e compreender a mente de seus inimigos.
Após sofrer grandes perdas com o crash, Churchill decidiu por uma nova abordagem: adotar uma estratégia de longo prazo. A crédito, comprou uma lista de grandes, e presumivelmente mais seguras, ações americanas com a intenção de mantê-las por dois ou três anos, o tempo que acreditava ser necessário para a recuperação da economia. No entanto, a nova estratégia durou apenas um mês. Seus registros mostram que vendeu três de suas novas ações para obter um lucro rápido depois que subiram cerca de 50%. Em outra ocasião, comprou e vendeu ações da Western Union quatro vezes em duas semanas.
Churchill gostava de jogar, não apenas no mercado de ações, mas também em cassinos… e na guerra. Esta última era uma área na qual possuía habilidade incomum. Ele era significativamente mais conhecedor em história e estratégia militar do que seus inimigos. Quando se tratava de ações, no entanto, ele não dedicava o tempo necessário para adquirir o conhecimento e as habilidades que grandes investidores possuíam. Sua maior falha como investidor foi nunca ter pensado como um.”
Você pode ser um gênio e mesmo assim falhar como investidor.