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Aprendendo sobre o fundo sistemático

Por Gabriel Rosenbaum

18 mar 2024 09h20 - atualizado em 18 mar 2024 09h21

Salomão: O que vocês fizeram com as ações da Petrobras depois da empresa ter anunciado que não ia pagar os dividendos extraordinários? – perguntou Thiago Salomão.

Sérgio: Não sei te dizer se temos Petrobras em carteira, mas o que aconteceu não foi relevante para nós – respondeu Sergio Schirato, CEO da Daemon Investiments.

A resposta acima é bastante inusitada se considerarmos a relevância da Petrobras no mercado brasileiro, e surpreende ainda mais o fato de Sergio não saber se tem ações da estatal na carteira. A resposta é inesperada porque estamos pouco acostumados com um modelo de gestão que ainda ocupa pouco espaço dentro da indústria de fundos no Brasil: é o modelo de fundo sistemático, que baseia sua estratégia de alocação em modelos quantitativos/probabilísticos.

A vantagem deste tipo de fundo é justamente que ele elimina o viés inerente do gestor no processo de tomada de gestão. Além disso, como a estratégia faz uso intenso de algoritmos, a capacidade de processar dados é muito maior do que a de uma equipe de cinco analistas fundamentalistas, por exemplo. Isso permite que a carteira seja bastante diversificada e possua um número muito grande de ativos de diversas geografias. Dito isso, não surpreende Sergio não saber se tem ações da Petrobras em carteira e não ter se importado com a notícia dos dividendos extraordinários.

A concepção da ideia da gestão sistemática é bastante curiosa e está ligada à trajetória de Sergio dentro e fora do mercado financeiro, a qual ele contou em detalhes no episódio #88 do Market Makers. Ele explicou como seu hobby de mergulhar inspirou sua pesquisa de doutorado em fisiologia teórica que espantosamente o ajudou a desenvolver seus primeiros modelos de investimento usando redes neurais: “se eu tenho um modelo para a variação dos batimentos cardíacos ao longo do tempo, por que não usar ele para a variação do preço dos ativos no tempo?”.

Esta história é bastante diferente, mas é interessante notar que não faltam exemplos de grandes investidores formados em física, matemática e outras áreas diferentes de economia ou administração, sendo uma das figuras mais emblemáticas o matemático Jim Simons. Simons foi convocado pelo Instituto de Defesa americano durante a Guerra Fria, onde ele decifrou códigos russos a partir da identificação de padrões nos dados. Convencido de que também poderia usar o processamento de dados e modelos matemáticos para bater o mercado, ele decidiu abrir o Medallion Fund, fundo que teve o maior retornos de todos os tempos: 1 dólar investido na abertura do fundo em 1988 se tornaram 20 mil dólares trinta anos depois – para efeitos de comparação, o mesmo um dólar teria virado 100 dólares se investido na carteira da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett. 

Talvez o exemplo de um fundo com histórico longo e performance tão positiva seja um dos motivos de os investidores lá fora conhecerem o produto do fundo quantitativo tão melhor que os investidores brasileiros. Sergio estima que a aceitação do produto no Brasil está pelo menos vinte anos atrasada em relação aos EUA e ele conta que, ao se reunir com alocadores da indústria, eles admitem não investir no fundo da Daemon por falta de conhecimento.

E do ponto de vista racional, a indústria quantitativa deveria ser maior devido à sua baixa correlação com o restante do mercado e maior diversificação. Como Sergio explicou: “se um investidor tem três fundos diferentes que têm uma mesma aposta, então ele não está realmente diversificando sua carteira”. Porém, a emoção tem um papel muito forte na decisão dos investidores, que querem comprar as narrativas, apostar naquilo que é legal, e não naquilo que vai trazer um bom retorno ajustado ao risco mas que ele não entende ou não consegue explicar.

Por isso, uma das missões da Daemon é ajudar o investidor a entender o produto do fundo quantitativo e suas vantagens, sendo o episódio #88 um excelente ponto de partida para compreender mais sobre essa alternativa de investimento que, vale mencionar, tem obtido bons resultados mesmo com o alto grau de diversificação: o fundo Daemon Nous Global teve um retorno de 82% desde o seu início em 2020 (vs 38% do CDI).

Clique aqui para assistir o episódio!

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Por Gabriel Rosenbaum

gabriel.rosenbaum@empiricus.com.br