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Quando a nota 3 é melhor que a nota 7
Quando falamos que “a bolsa está barata”, não estamos falando de Ibovespa.
Tudo na vida tem um valor absoluto e um valor relativo. O que vale mais: tirar nota 3 numa prova que todos da sala tiraram zero, ou tirar nota 7 enquanto todos tiraram 10? Embora uma nota 3 seja horrível no absoluto, no relativo ela foi muito melhor do que tirar 7 (nota mental: meus pais jamais cairiam nessa conversa nos meus tempos de escola).
Em agosto, sentimos isso na pele: embora no absoluto nossa carteira ficou no negativo, no relativo o resultado foi excelente, principalmente se considerarmos os meses anteriores.
Começamos o mês com o início do ciclo de cortes de juros. Todos os três leitores desta newsletter se recordarão deste texto que escrevi logo depois da reunião do Copom, trazendo uma análise do que acontece com o Ibovespa em ciclos de queda da Selic.
Só pra recordar: tivemos 10 períodos de cortes sequenciais nos juros desde 1999. Na média, o Ibovespa subiu mais de 20% nos 12 meses após o primeiro corte e 40% nos 24 meses subsequentes. Porém, nos primeiros 30 dias após esse primeiro corte, em 9 dos 10 períodos analisados o Ibovespa ou ficou estável ou caiu.
A história não se repete, mas rima: o Ibovespa caiu 5% agora em agosto. O movimento negativo acompanhou os mercados lá de fora. Peguei esse gráfico da apresentação que o João Braga, da Encore, fez em seu canal no Youtube para explicar o que aconteceu. Abaixo da imagem, a explicação:
Ele mostra que a curva atual de juros futuros no Brasil (linha verde) caiu nos vencimentos mais curtos e subiu nos longos, isso em relação ao que ela precificava meses antes. E como na bolsa o que importa é o juro “longo”, isso derruba o preço das ações. E esse fenômeno não aconteceu só no mercado brasileiro, mas em boa parte do mundo.
E por que isso aconteceu? Pode ser um misto de decepção com a China com novas surpresas positivas na economia americana. Difícil cravar o que de fato ocasionou esse movimento, mas uma coisa eu fico mais tranquilo em dizer: não foi uma queda made in Brazil.
Voltando ao lema do relativo e o absoluto: apesar do agosto negativo para os mercados, não temos do que reclamar na Carteira Market Makers. Como tínhamos batido com folga o Ibovespa no rali entre maio e julho, tínhamos receio do que aconteceria com nosso portfólio caso a bolsa caísse forte. O resultado em agosto foi que caímos bem menos: -2% Market Makers FIA vs -5% IBOV.
Já falamos repetidas vezes aqui na CompoundLetter, mas vale repetir: quando falamos que “a bolsa está barata”, não estamos falando de Ibovespa.
Apesar do excesso de ruídos que recebemos nas duas últimas semanas (o que pode minar a confiança de um investidor que já ganhou um bom dinheiro nos últimos meses), vou deixar dois insights importantes que reforçam nossa visão otimista para os mercados.
O primeiro veio semana passada, com uma surpresa positiva sobre o PIB brasileiro. O resultado reforça uma discussão explorada no episódio #56 com Walter Maciel, da AZ Quest, sobre as reformas estruturais feitas anos atrás estarem surtindo efeito agora, e por isso os economistas têm errado tanto as projeções. Neste trecho ele fala especificamente sobre isso.
E como bem disse Gustavo Salomão, da Norte Asset, em nosso último podcast: como estará o ânimo dos investidores se daqui 12 meses nós estivermos com Selic perto de 9%, inflação girando em 4%, Fed já tendo dado início aos cortes de juros nos EUA e fundos aumentando alocação em bolsa? O resumo da sua tese é que já temos contratado um “apetite dos investidores por risco” no longo prazo.
No absoluto, não temos por que comemorar uma queda de 2% da nossa carteira em agosto. Já no relativo, o resultado é digno de celebração, sobretudo pelas altas nos 3 meses anteriores. Bolsa nunca subirá ou cairá em linha reta, sempre haverá zigue-zagues. Essa acomodação em agosto foi mais do que bem vinda. Seguimos comprados.
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