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8 lições que o futebol trouxe para a minha vida

Não é apenas futebol

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

30 Oct 2023 14h10 - atualizado em 30 Oct 2023 02h10

8 lições que o futebol trouxe para a minha vida

Neste fim de semana tivemos as finais da 3ª edição da Copa do Condado, um campeonato de futebol que reuniu 40 times masculinos e 15 times femininos. Foram mais de 200 jogos ao longo de três meses até chegarmos aos campeões, com tudo sendo transmitido ao vivo no Youtube.

Poucas coisas na vida mexem mais com a minha emoção do que o futebol. Por isso faltam palavras para descrever o que eu senti ao reunir mais de 1000 pessoas para jogarem um longo torneio, se conectar com elas e conhecer histórias e personagens que jamais teria acesso se não fosse este esporte. A frase “não é apenas futebol” está longe de ser um clichê – mesmo já tendo se tornado um clichê.

Mas o fato é que o futebol (assim como outros esportes coletivos) é capaz de nos ensinar muitos valores que podemos replicar na esfera pessoal, profissional ou nos investimentos. E a Copa do Condado me fez conhecer outras pessoas que enxergam esse mesmo potencial no esporte bretão.

Eu vou contar a todos os três leitores da minha coluna quais são alguns dos aprendizados que eu obtive no futebol e que estão incorporados no meu jeito de ser, mesmo fora das 4 linhas.

1. O líder nato no futebol tem grande potencial de liderar fora de campo também

As características de um líder dentro de campo e fora de campo são bem parecidas: ele precisa ter capacidade de analisar o que está acontecendo no jogo – tanto com o seu time quanto com o adversário – e passar sua visão de uma maneira clara, para que sua equipe entenda o que fazer. 

Ele também precisa passar uma segurança quase que destemida, ser equilibrado emocionalmente e lidar com adversidades. O comportamento e temperamento do líder vai dizer muito sobre o funcionamento da equipe – no futebol ou no trabalho.

2. O futebol nos ensina a perder

Essa é a lição mais difícil para um investidor colocar em prática. A derrota (em campo ou nos investimentos) costuma ser um professor muito melhor do que a vitória. Mas para muita gente, investidor que perde dinheiro é ruim e não merece ser seguido/ouvido. Isso não é verdade: perder faz parte do processo. O grande problema é não aprender com os erros e cometê-los repetidas vezes.

O futebol te obriga a entender melhor essa lição, pois ao final do jogo terá sempre um vencedor e um derrotado. Agora, se um investidor não lida bem com a derrota e quer ganhar sempre, sugiro que ele fique na renda fixa – e não veja a marcação a mercado dos títulos investidos. 

3. Você pode ter um plano – mas o mundo não está nem aí pra isso

Você pode ter preparado a tática ideal para vencer um adversário. Mas ao começar a partida, um jogador da sua equipe se machuca ou se envolve numa confusão e é expulso. Qual é o seu plano B? E se não tiver, o que vai fazer? O futebol nos obriga a imaginar vários possíveis cenários e a exercitar tomadas de decisões imediatas, duas características fundamentais para um investidor de sucesso ou um gestor de empresa.

4. A necessidade de trabalhar em equipe: cobrar e ser cobrado

Você pode ser um jogador extremamente talentoso, mas se não souber cativar seus companheiros a jogarem contigo, a bola não vai chegar.

Ao longo da minha vida corporativa, já vi muito profissional super talentoso mas que, sabendo disso, não fazia questão de tratar os outros bem. Isso deu certo enquanto a área dele estava voando, mas quando os resultados negativos começaram a aparecer, ele logo foi fritado.

É melhor ter um time cheio de “nota 7” mas que sabem jogar coletivamente do que ter apenas um “nota 10” que todo mundo odeia jogar junto.

5. Ser melhor que o adversário não é garantia de vitória; não tem trade garantido

A famosa frase do mercado “não existe almoço grátis” pode ser adaptada neste caso ao  “não existe mais bobo no futebol”, bordão eternizado por Galvão Bueno. Por mais certo que for um investimento, ou por melhor que seja um time em relação a outro, nunca podemos dizer que existe 100% de probabilidade de ganho.

A vantagem no mundo dos investimentos é que você pode minimizar esse problema diversificando sua carteira; já no futebol, é impossível você jogar em vários times ao mesmo tempo. 

6. O futebol exige sempre humildade – e você paga caro se não for

Querer peitar o mercado e achar que todo mundo está errado e só você está certo é tão autodestrutivo quanto subestimar um adversário. No mercado, essa postura pode te gerar vieses que vão te impedir de mudar de opinião sobre esse investimento. Já no futebol, um clima de “já ganhou” não só vai te tirar a concentração como também servirá de estímulo para o adversário.

7. O futebol te mostra que, tão importante quanto o resultado, é o processo

“Quem não sabe explicar por que ganha, depois não saberá explicar por que perde”. Tivemos um investimento lucrativo recente em GetNinjas (NINJ3) que explica muito bem isso: montamos nossa análise calculando a probabilidade de acontecer cada um dos possíveis cenários e quanto ganharíamos (ou perderíamos) em cada um deles. A operação deu certo: lucramos 20% em 40 dias. Mas mesmo que tivéssemos prejuízo, sabíamos claramente quais riscos estávamos correndo. Fazia parte do processo e fomos fiéis ao processo.

8. O sucesso muitas vezes depende mais da inteligência emocional do que da técnica

“Treino é treino, jogo é jogo”. Na peladinha com os amigos ou no simulador é muito mais fácil performar bem porque você não tem aquela pressão que só quem está com a pele em jogo sentirá. Em um jogo de verdade, a perna pesa mais, o grito da torcida incomoda, o juíz parece que erra sempre contra você… se o seu emocional não está fortalecido, qualquer coisa será pretexto para te atrapalhar. No mercado, quem se deixa levar pela emoção vai sempre estar seguindo a manada.

EXTRA: não seja um c*zão

Ninguém sabe o dia de amanhã: a pessoa que você destrata no trabalho ou provoca dentro de campo pode ser seu colega no futuro. Ninguém também sabe o que está passando na cabeça da outra pessoa, cada ser humano tem um mundo pra chamar de seu, e nem sempre saberemos se esse mundo está em paz ou em guerra. Palavras e atitudes podem pesar muito mais do que um soco.

Então na dúvida, já sabe: não seja um cuzão.

Ps: newsletter dedicada ao Eduardo, Paulo Miranda e Cássio, os três leitores desta newsletter e que estavam presentes semana passada no lançamento do nosso livro, “Sem Medo de Investir em Ações”. Talvez a contagem de leitores esteja errada, mas vou manter os três leitores por charme. E quem leu esta coluna até o final e ainda não comprou o livro está esperando o quê?! Link aqui.

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br