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5min leitura

Cinco verdades que você precisa saber antes de comprar uma ação

Tenha isso como bussola norteadora e não se perca no mercado

Por Matheus Soares

19 jun 2023 13h21 - atualizado em 19 jun 2023 01h22

Não existe forma melhor de explicar o mercado de ações a alguém do que fazê-lo citando exemplos. Pelo menos é isso o que tento fazer quando me perguntam se é uma boa hora para se investir em ações ou não – venho treinando essa habilidade diariamente durante meus minutos de academia.

As pessoas perguntam sobre ações como se fosse algo esotérico: como se a ação valorizasse ou desvalorizasse com base numa força sobrenatural. Bastaria comprar quando o preço da ação estiver em baixa e vender quando o preço estiver em alta para ficar rico.

Embora o segredo de qualquer investimento, de fato, seja comprar na baixa e vender na alta – isso vale para casa, carro, relógio, arte, dentre outros – na prática não é tão simples assim. Aliás, duvide de quem fala que é simples.

Vou listar a seguir, cinco verdades que você precisa saber antes de se aventurar no mercado.

1) As leis sobrenaturais não regem o mercado financeiro

Se uma ação caiu 90% e você acha que após a queda ela não tem muito mais para cair, saiba que ela pode cair outros 90%. Não existe nenhuma força sobrenatural que evite isso.

2) Assim como na vida, o mercado é feito de expectativas

Quem já escutou a frase “felicidade é igual realidade menos expectativa”? Pois é disso que se trata o investimento em ações. Uma ação sobe quando a empresa entrega resultados melhores que as expectativas e cai quando a empresa frustra as expectativas dos investidores. E veja bem: a entrega de resultados não precisa ser boa para a ação subir, basta ser melhor que as expectativas.

3) Se você quer comprar uma ação, estude a empresa

Imagine que você é personal trainer. Se o dono da academia de musculação que você trabalha vira para você e te oferece 50% do negócio a um preço X, que conta você vai fazer para saber se o investimento faz sentido?

Imagino que você vá buscar informações do tipo: quantidade de alunos que a academia possui, mensalidade que cada aluno paga, custo com professores, custo com manutenção de equipamentos, despesas com energia elétrica e limpeza, enfim, você vai buscar entender cada linha do resultado para estimar o potencial de lucro do negócio.

E não acaba aí. Vai fazer cálculos para saber se existe espaço para expandir a academia, se a concorrência está aumentando (e, portanto, se existe espaço para cortes de preço na mensalidade) e se o seu futuro sócio é confiável.

E mesmo depois de fazer todas essas contas, quanto você vai querer pagar pelo negócio?

Veja que comprar uma empresa não é tão simples assim. Se você quer comprar uma ação, estude a empresa!

4) O preço que você paga por uma ação importa muito

O retorno de um investimento é uma variável do preço que se paga por ele.

Vou voltar ao exemplo da academia de musculação.

O dono da academia agora não está mais tentando vender metade do seu negócio para uma única pessoa. Na realidade, ele decidiu dividir a posse de sua empresa em um milhão de pedaços iguais, ou ações. O plano dele é reservar 500 mil ações para si mesmo e vender as outras 500 mil por 8 reais cada, somando 4 milhões no total.

Quem tiver interesse em comprar uma parte do negócio por esse preço pode comprar uma ação (por 8 reais), cem (por 800 reais) ou mil (por 8 mil), ou qualquer número que quiser.

Se você tem interesse em comprar 50% do negócio (500 mil ações), isso significa que você terá direito a 50% dos lucros futuros da academia. Tudo o que você precisa é calcular se pagar 4 milhões de reais por 50% dos lucros futuros da academia é um bom negócio.

Como já se sabe que o dono da academia quer 4 milhões por 50% do negócio, isso quer dizer que ele acha que sua academia vale 8 milhões de reais.

A academia possui 1000 alunos e cada um paga 300 reais de mensalidade. Isso dá um faturamento mensal de 300 mil e anual de 3,6 milhões de reais.

Como a academia possui 20 professores e o salário de cada um é de 5 mil reais, o custo mensal com pessoas é de 100 mil e anual de 1,2 milhão de reais. Além disso, é preciso colocar na conta os custos de manutenção dos equipamentos e as despesas com aluguel, energia elétrica, limpeza e administração. Estamos falando de mais 800 mil reais em despesas.

Com isso, o lucro da academia foi de 1,6 milhão de reais. Mas não para por aí, é preciso pagar 34% de imposto ao governo – aproximadamente 540 mil reais. Com isso, chegamos a um lucro líquido de 1 milhão de reais.

Será que esse é um bom negócio? Vale a pena investir 4 milhões de reais por um lucro líquido de 500 mil reais? Estamos falando de um retorno de 12,5% ao ano.

Se outras oportunidades disponíveis, como títulos do governo, estiverem pagando 6 ou 8% de juros ao ano praticamente sem risco, sim, 12,5% ao ano parece se tratar de um bom negócio.

5) Reconheça o poder da taxa de juro o quanto antes

Além de afetar a economia em si, a taxa de juro tem múltiplas consequências sobre o apreçamento dos ativos. Quando as taxas de juros sobem, todos os preços dos ativos devem cair. O contrário também é verdadeiro. É quase uma lei da natureza. Leia mais sobre isso neste texto que escrevi: a tartaruga e os quatro elefantes.

Agora que você tem conhecimento sobre essas cinco verdades, você talvez pense duas vezes antes de achar que uma ação pode ser um bom investimento pelo simples fato de o preço dela ter caído (ou subido).

Se os 5 leitores que chegaram até aqui ainda tiverem paciência para ler sobre (i) o que faz as ações subirem ou caírem de preços diariamente, (ii) o ponto ótimo de compra de uma ação e (iii) um dos indicadores mais importantes para se atentar em uma análise de empresa, inscrevam-se na CompoundLetter, pois na semana que irei escrever sobre esses temas na minha newsletter semanal.

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Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br