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Conheça Rafael Maisonnave, o gestor da Tarpon que já lucrou 1.200% com small caps

Para o gestor da Tarpon, é nas small caps que estão as maiores oportunidades e assimetrias do mercado de ações

Por Market Makers

11 Aug 2023 12h28 - atualizado em 11 Aug 2023 12h29

Rafael Maisonnave, da Tarpon

Com mais de 20 anos de trajetória no mercado financeiro, Rafael Maisonnave hoje comanda o Tarpon GT FIC FIA, principal fundo de uma das gestoras de ações mais longevas do Brasil, a Tarpon. E apesar de não ser uma estratégia restrita a small caps, é com elas que ele tem conseguido desempenho de quase 1.200% de ganhos desde que o fundo foi criado, em 2010.

“O nosso fundo não é um fundo de small caps, é um fundo de otimização de risco e retorno, mas eu acabo investindo em small caps porque é lá que estão as melhores oportunidades”, diz o gestor em entrevista ao Market Makers.

Buscando encontrar grandes assimetrias no mercado, Maisonnave explica que a carteira do Tarpon GT costuma ter entre 10 e 15 ações, com um tempo médio de permanência no portfólio de 4 a 5 anos, algo que não é tão comum entre os grandes fundos do país.

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Confira abaixo os principais pontos da entrevista com Maisonnave, em que ele explica mais sobre sua filosofia de investimento, os cases de sucesso da Tarpon e as lições que aprendeu com uma companhia que gerou bastante prejuízo para o fundo.

Market Makers – Qual a sua trajetória no mercado financeiro, como você começou e chegou onde está hoje?

Rafael Maisonnave – Eu comecei no Pátria, no private equity, em 1999, onde era estagiário, e fiquei até 2006. Meus últimos anos lá foram como diretor financeiro em uma das empresas investidas, a Casa do Pão de Queijo. Em 2006, a Tarpon começou a fazer private equity e um dos sócios, o Pedro [Faria], me chamou para vir trabalhar aqui no time de private equity.

Fui diretor na Arezzo durante um tempo, e em 2008 resolvi migrar de área, porque entendia que tinha um interesse que eu não conhecia tanto. Em 2012 saí para fazer uma gestora nova, a Mosaico. Fiquei de 2013 até 2015, eu e o Roberto [Knoepfelmacher], mas pegamos um mercado muito difícil, 2013, 2014, 2015, época da Dilma. Em 2016 a gente separa, eu faço uma gestora só minha, junto com alguns investidores e um family office. Em 2016, o Zeca [José Carlos, sócio-fundador da Tarpon] me chama de volta para a Tarpon para fazer o Public Equities.

MM – E como funciona a estratégia do fundo que você toca hoje?

RM – Este ano fez 10 anos que eu faço a gestão do fundo Tarpon GT. Desde 2013, ele tem tido alfa [retorno acima do benchmark] em torno de 15%, e a estratégia é basicamente olhar ativos menos cobertos, olhar sem muito preconceito, sempre que possível, uma gama grande de setores e tentar buscar essas assimetrias em ativos que têm uma relação de risco-retorno muito diferenciada em relação ao mercado. 

Ao longo desses anos várias histórias ajudaram a compor o retorno do fundo. Eram empresas em negócios bastante previsíveis, com estrutura de capital bastante conservadora. A gente tem geralmente entre 10 e 15 papéis, e temos três níveis de posições: o que chamamos de posições exploratórias, de até 3% do fundo; posições intermediárias, até 12%, 13% do fundo; e as posições core são acima de 20%. Hoje não tem nenhum papel que esteja no Ibovespa, e também temos a menor correlação [com o Ibovespa] de todos os fundos que acompanhamos. Não é uma coisa pensada, é uma consequência do processo.

Hoje o fundo está com R$ 1,9 bilhão, é uma estratégia que a gente entende que deve ser fechada daqui a pouco, por uma questão de capacidade. São 10 anos que o fundo tem conseguido compor, num Brasil bem difícil.

MM – O fundo de vocês não é só de small caps, mas essa é uma categoria que vocês se interessam bastante. Por quê? E qual a diferença entre uma small cap e uma large cap na hora da avaliação?

RM – O nosso fundo não é um fundo de small caps, é um fundo de otimização de risco e retorno, mas eu acabo investindo em small caps porque é lá que estão as melhores oportunidades. Não é que nós pensamos em comprar só small caps, nós compramos qualquer coisa, desde que tenha uma assimetria grande. Existem várias hipóteses para ter uma assimetria grande nessas empresas menores, uma delas é que, em geral, essas empresas são menos cobertas, então quanto mais investidores e analistas tiverem cobrindo uma empresa, muito possivelmente menor é a assimetria, porque você está, na verdade, tendo níveis de diligência muito maior. 

Uma outra questão é que alguns segmentos da economia são de porte menor, e isso não quer dizer que as small caps não tenham exatamente as mesmas características de grandes empresas, líderes dos seus respectivos mercados. O ponto é que estamos procurando empresas com essas características, líderes de mercado, resilientes, com capacidade financeira, com crescimento, aliado ao valuation.

Então quando você demanda esses atributos de qualidade de negócio com valuation, acaba que a maior parte das empresas que a gente encontra são as empresas menos conhecidas. Hoje as nossas duas maiores posições são Wilson [Sons] e a Fras-le. Em geral, investimos numa empresa durante 4, 5 anos, sendo que a maior parte dos fundos não fica 4, 5 meses com a ação. Então, de fato, o horizonte de investimento nosso é mais alongado, a qualidade dos ativos é maior do que a média de mercado, muito melhor,  e, em geral, muitas empresas crescem mais do que a média dos seus respectivos setores.

MM – Conte quais foram as melhores aquisições que você já fez no mercado, que deram mais certo.

RM – Tem o caso da Kepler Weber, que é um exemplo recente, uma empresa com posicionamento estratégico super bem definido, num setor que o Brasil dá certo, que é o agronegócio, extremamente descontada, com um time de gestão super qualificado e que soube monetizar essa grande melhora de cenário do agronegócio. Tivemos um retorno bastante expressivo, na casa de 60%. 

Não é coincidência. Nós olhamos para empresas que têm capacidade de lidar com essa complexidade que é o ambiente de negócios do Brasil, seja questão política, econômica, institucional, que em todo momento a gente tem, não é exclusiva de nenhum setor. 

A Kepler representa bem isso e é uma história mal compreendida. Ela teve um problema financeiro em 2002 e 2003, que criou um estigma na empresa. Foi um plano de expansão mal executado, mas que nos deu uma oportunidade para, ao longo do tempo, nos aproximarmos da empresa, fazermos uma posição, aumentarmos a liquidez e desinvestir.  Continuamos admirando a  empresa, mas é uma questão de custo de oportunidade.

Tem a Tempo Participações, que é uma empresa incrível, com um posicionamento super bem definido, um retorno muito acima da média, um time de gestão excepcional. Escondido ali no meio daquela confusão toda de reorganização societária que ela fez, tinha um negócio rentável, crescente, com um retorno muito baixo em uma época muito difícil, 2014 e 2015. Nós compramos a empresa a 2,5 vezes Ebitda. Depois que baixou a poeira, nós achamos interessante comprar o controle da empresa, vendendo depois. Foi um retorno excepcional no meio de um  tiroteio absurdo que estava o Brasil. Conseguimos retorno de 45% ao ano, enquanto a bolsa caía 15% a cada ano.

MM – E qual o maior erro que você já cometeu, aquele negócio que não deu nada certo?

RM – Acho que o pior erro da história do fundo é uma empresa chamada Renova, de energia renovável. A gênese dela era muito legal. Eles identificaram uma região da Bahia chamada Caetité, que tinha o melhor vento do Brasil. Só que sem aumento de capital ela não conseguiria viabilizar os investimentos, e foi um erro entrarmos numa empresa que não tinha fundos para fazer os investimentos. Ela foi acabou na recuperação judicial, e nem os dois controladores, nem os outros acionistas tinham naquele momento disponibilidade para fazer um funding importante. Acabou como uma história que vimos um desconto muito grande se tornar uma empresa sem recursos para desenvolvimento dos projetos.

O erro principal do fundo foi no momento da recuperação judicial. Era pra ter desinvestido tudo ali. Ficou uma cicatriz  de evitar a alavancagem desses projetos que você depende muito do guidance da companhia. É uma história que teve um início brilhante e terminou de uma forma horrorosa.

MM – E como vocês lidam com essas situações em que é preciso saber a hora de sair, de entender que um investimento não está dando certo, ou mesmo na hora de vender na alta, de ficar pensando se aquele papel pode subir mais, saber a hora de vender?

RM – Modismos são um perigo enorme. A pedra fundamental da nossa estratégia é o fundamento, é fazer o investimento de forma fundamentada e tentando ter claro os elementos que fazem com que uma empresa seja uma oportunidade. Você não vira médico do dia pra noite, você tem que estudar, e no mercado, a complexidade de coisas que acontecem é enorme, e aí qualquer um pode operar, mas não pode ser assim. Uma coisa que eu falo pra quem está começando é sempre ter claro os círculos de competência, os setores que são mais familiares, os setores que você tem mais capacidade.

MM – E para concluir, qual a sua visão do cenário atual agora com o início da queda de juros, e o que você diria para os investidores que ainda estão em renda fixa, que têm medo de ir para a renda variável?

RM – Primeiro, tem uma denominação que eu gosto bastante, que chama “classe de ativo”. Se o investidor tiver disciplina, ele vai ter ao longo da vida dele investimentos em classes de ativos que em momentos diferentes vão ter retornos diferentes, e é justamente isso que você quer. Tem um investidor que escreveu brilhantemente sobre isso, que é o David Swensen, e todo mundo que quiser ter um nível intermediário sobre o mercado financeiro deveria ler, porque ele fala que ações, fundos imobiliários ou renda fixa como classes de ativos que você vai ter ao longo da sua vida inteira. A questão é você parametrizar essas classes de ativos de acordo com sua aptidão ao risco, com a sua intenção de retorno. 

E eu vejo que, historicamente, as pessoas que conseguem passar pelos momentos mais difíceis têm essa disciplina. Além disso, o retorno do investimento é inversamente  proporcional ao preço que você paga, então, em geral, os melhores momentos de retorno não são quando a ação sobe, são quando a ação cai.O tempo médio que eu tenho um investimento em uma empresa são 4 anos, mas as pessoas não têm paciência, então o que você não pode ter para compor capital é pressa. A gente fala muito do [Warren] Buffett, todo mundo fala, mas ele fala assim: “o mercado de capitais é um mecanismo de transferência de patrimônio de impaciente para paciente”, e é isso.

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