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O “efeito Americanas” pode derrubar a Selic (! ou ?)

A segunda derivada de um dos maiores escândalos contábeis do mercado brasileiro

Por Thiago Salomão

27 fev 2023 15h05 - atualizado em 27 fev 2023 03h11

O que eu mais gosto da minha profissão no mercado financeiro (que não sei bem como defini-la em uma palavra) é o acesso a pessoas tão inteligentes que eu jamais teria horas de atenção se não fosse minha carreira anfíbia de ora analista de ações, ora entrevistador.

E seja por genuína curiosidade ou por dever de ofício, sempre valorizei ouvir opiniões bem distantes do consenso e que nos fazem refletir. Não por concordar ou discordar, mas pelo simples fato de estar sendo apresentado a um novo ponto de vista do assunto analisado.

Eu sei que estou furando a missão daqui da CompoundLetter, que é trazer um insight toda manhã para todos os 3 leitores inscritos. Mas esse preâmbulo é justificado pelo último episódio do Market Makers: pegamos o assunto mais quente do momento (e que temos pouco domínio sobre) e trouxemos duas grandes autoridades para destrinchar tudo sobre o tema.

É justamente por isso que existimos: não temos a pretensão de saber tudo sobre todos os assuntos, mas somos altamente curiosos e suficientemente proativos para ir atrás de quem sabe muito sobre um assunto e também tem uma mensagem legal para passar.

“Nossa, que lindo Salomão… mas e o insight, cadê?”

Ok, vamos lá: no episódio 33, destrinchamos tudo sobre o Sistema de Metas de Inflação, desde sua existência até a discussão sobre ela ser revisada. Para isso, trouxemos um dos criadores do nosso sistema de metas, Sergio Werlang, e o pesquisador indicado por Samuel Pessôa para participar no nosso programa, Braulio Borges.

O resumo do papo: a meta atual mostra-se inatingível mas “mudar por mudar” não é o caminho, é preciso um estudo com argumentos técnicos para definir qual a nossa melhor meta. Mas a conversa foi muito mais profunda e elucidativa do que estas duas linhas propõem, por isso sugiro que você assista ao episódio completo.

Separei os melhores trechos dessa fala dele, que se inicia perto do minuto 80 do vídeo:

“Temos esse episódio deflagrado pela Americanas que está contagiando outras empresas, que é uma espécie de choque exógeno de aperto de condições financeiras que pode ‘ajudar o Banco Central’ na tarefa dele de esfriar a economia para trazer a inflação para a meta. 

Seria interessante quantificar quanto essa ajuda pode ser persistente ou não. (…). O canal do crédito é um dos principais canais de transição da política monetária (…) Então, se o crédito já está tomando uma freada adicional, sem que a Selic tenha mexido, você já tem na prática um aperto de política monetária e o BC deveria levar isso em consideração para definir a Selic.

Ou seja: TALVEZ essa questão do mercado de crédito corporativo permita, se tudo mais constante, que a Selic caia ainda nesse ano e caia bastante.

Há também a questão do arcabouço fiscal, que se for entregue entre março e abril e ele for crível, pode tirar muito prêmio do juro longo e desenhar um cenário favorável para a Selic cair bastante esse ano. Não digo voltar pra 5% ou 6% mas pelo menos chegar em um dígito”.

Em tempos de juro longo “flat” (estável) na faixa dos 13% ad eternum, alguém do calibre do Borges vir a público mostrar um cenário em que a Selic possa voltar para um dígito ainda este ano só nos faz perceber o quão imprevisível está o momento atual da economia brasileira.

É por tanta indefinição que “ter caixa” mostra-se cada vez mais importante para o investidor neste momento (foi o que fizemos na Carteira Market Makers entre o fim de janeiro e começo de fevereiro).

Pra saber se a hipótese do Borges é válida, é preciso analisar as empresas para entender se essa suspeita de contágio de fato procede. Faremos nossa parte investigativa: conversaremos com dois especialistas em crédito no episódio desta semana, que estão acompanhando com lupa essa história – tanto para entender o cenário, quanto para encontrar oportunidades de investimentos.

O resultado desta investigação você confere no episódio que vai ao ar na quinta-feira. Até lá, seguimos insistentemente curiosos e vigilantes para entender aquilo que não sabemos.


COPA FLASH EXPENSE DO CONDADO vai começar! Não podia terminar esta CompoundLetter sem anunciar o início deste grande campeonato de futebol do mercado financeiro, que eu estou organizando desde o final do ano passado. Juntamos mais de 45 empresas, que se dividiram em 32 times masculinos e 4 times femininos. O mercado todo vai estar, de assets a escritórios, de corretoras a casas de análise, bancões e até a B3. 

A primeira rodada começa nesta terça (28/fev) e a final será no dia 8 de abril (sábado). Serão 68 jogos ao todo e mais de 500 atletas num torneio que também terá caráter beneficente.

Todas as informações sobre ele serão publicadas no Instagram da Copa Flash Expense do Condado (@copadocondado).

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br