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O jeito Dynamo de investir

É preciso encontrar as companhias que são as descontinuidades do capitalismo'

Por Matheus Soares

04 Sep 2024 15h55 - atualizado em 04 Sep 2024 03h55

Você já ouviu falar da Dynamo? A Dynamo é a maior referência de investimentos em ações do Brasil. Para se ter uma ideia, o fundo da casa, Dynamo Cougar, rendeu mais de 30.000% desde seu início, em 1993, o que é quase 15x mais do que a alta do Ibovespa no período. 

Se você tivesse a oportunidade de ter uma aula de investimentos com uma pessoa que foi analista e gestor do Cougar por 20 anos, você pararia tudo o que está fazendo para absorver o melhor dela? Se a sua resposta foi “sim”, o episódio que gravamos com Cristiano Souza, atual fundador e gestor da Zeno Equity Partners, é pra você. 

A semente que fez a Zeno ‘germinar’ nasceu dentro da Dynamo ainda em 2005, quando a gestora carioca começou seu processo de internacionalização, levando a sua cultura vencedora para Londres. O Cristiano liderava essa área desde 2015 e, em 2022, vendeu suas ações da Dynamo para comprar da própria Dynamo a área internacional, fazendo o “spin off” dela e dando origem à Zeno Equity Partners.

Por ser um daqueles episódios marcantes em que assistir apenas uma vez não basta, na newsletter de hoje vou falar sobre O Jeito Dynamo de Investir em ações contado pelo Cristiano e os pilares mais importantes dessa filosofia de investimento que ele está aprimorando ainda mais na Zeno.

Ao acreditar que o maior inimigo do investidor de ações é a competição, o Cristiano busca empresas que escaparam da força competitiva do capitalismo e são geridas por aquelas raras pessoas que querem fazer o negócio dar certo por gerações por simplesmente acreditarem que aquilo ali é a vida deles. Nas palavras dele: 

“É preciso encontrar as companhias que são as descontinuidades do capitalismo. Aquelas que chegaram num ponto em que o capitalismo já não atrapalha a vida da empresa. […] 90% dos negócios do mundo dão sorte se conseguem ganhar um pouco acima do seu custo de capital.” 

Partindo desse pressuposto, o Cristiano apoia todas as suas teses em três pilares que se retroalimentam entre si, são eles:

1) Mentalidade de fundador

2) Poder de mercado

3) Capacidade de reinvestimento

A inexistência de um desses pilares automaticamente exclui a empresa do universo de investimentos do Cristiano. Vou explorar cada um deles. 

Mentalidade de fundador

Um dos três pilares que ele procura em todos os negócios em que investe é o Founders Mindset, ou mentalidade de fundador. 

As pessoas que pensam com mentalidade de fundador de verdade entendem que toda vez que você maximiza o lucro [no curto prazo], tem uma chance enorme de você estar prejudicando o lucro no longo prazo. […] o que você quer como um investidor de longo prazo é estar investido com pessoas que têm o interesse alinhado com o seu na perspectiva temporal com o seu. Por exemplo, nos Estados Unidos, o tempo médio da remuneração de um CEO é de 1,44 anos. Esse é o tempo que demora para o executivo realizar a remuneração dele. […] Você vai incentivar o comportamento de curto prazo. 

De acordo com ele, é como se pessoas com essa mentalidade de fundador estivessem dispostas a deixar dinheiro na mesa visando a perpetuidade da companhia. 

Quando a companhia chega no topo da montanha, 90% das vezes, as pessoas que estão sentadas lá vão maximizar o resultado de curto prazo. “Cheguei no topo da montanha e estou numa posição dominante? Vou aumentar o preço, vou maximizar minha margem, vou parar de investir em P&D, vou tratar mal meus funcionários, meus fornecedores”. Já o founder, o cara que pensa geracionalmente no negócio, o que ele vai fazer? Ele chega no topo da montanha e vai falar: “como eu faço pra ficar aqui o maior tempo possível? Pra eu conseguir ficar aqui nos próximos 20 anos eu não posso aumentar demais meu preço, não posso tratar mal meu fornecedor, não posso tratar mal meu funcionário porque são esses vetores que permitem com que eu fique aqui. Então não vou aumentar meu preço tanto quanto eu poderia. São raríssimas as histórias do cara que brilha como um sol por gerações. 

Poder de Mercado

O segundo pilar é o Poder de Mercado. Já que o maior inimigo do investidor de ações é a competição, é necessário encontrar negócios que tenham escapado da força competitiva do capitalismo. Poucos negócios escapam e eles só escapam por possuírem Poder de Mercado – e deixarem ‘dinheiro na mesa’.

São as companhias que criaram em torno de si os famosos moats do Buffett. O cara [empresa] tem um retorno sobre o capital investido alto. Tá bom. Como é que ele chegou lá? O que ele faz que outros não conseguem repetir. Por que não aparece alguém que rouba o monte dele? Ah, ele tem um custo de troca alto porque o produto dele é tão embrenhado no modelo operacional do cliente que o cliente não consegue jamais se desvencilhar dele. Ah, o cara criou um vínculo emocional com o seu consumidor que ele sabe alimentar muito bem e que é quase impossível de ser replicado, que é o que a gente vê muito nas empresas de luxo. O cara [empresa] tem uma cultura de criar valor incremental para o seu consumidor o tempo todo, obsessiva, que permite a ele estar sempre na frente dos seus competidores, que eu vejo muito a Amazon com essa característica. A Amazon é um exemplo incrível de companhia que passou décadas deixando dinheiro na mesa. A Amazon poderia ser muito mais lucrativa do que ela é, mas ela ESCOLHE não ser. Por que? Porque ele está ‘compounding’ aquela posição de mercado dela por muitos e muitos anos. Esse é o poder de mercado. 

Capacidade de reinvestimento

Só que não adianta o cara ter poder de mercado, ter 30% de retorno sobre o capital investido e gerar um monte de lucro em excesso, se ele não consegue reinvestir esse lucro de volta no negócio com as mesmas taxas. 

Durante o episódio, o Cristiano citou o exemplo da Coca-Cola, empresa que teve um retorno medíocre na bolsa nos últimos 20 anos por não conseguir gerar valor incremental para o seu consumidor:

A segunda pergunta depois do poder de mercado é: “tá bom, ele gera um montão de lucro em excesso, ele consegue reinvestir esse lucro de volta no negócio àquelas mesmas taxas de retorno que ele gera no negócio dele?” Durante muitos anos a Coca-Cola fez isso, só que qual foi a última grande inovação dela? Foi a Diet Coke há quase 40 anos.

Ou seja, não basta ter (i) Mentalidade de Fundador, e (ii) Poder de Mercado apenas. É preciso que exista (iii) oportunidade de reinvestimento no negócio. Nas palavras do Cristiano, essa é uma condição imprescindível para o compounding:

A conta é simples: você tem um negócio que gera 20% de retorno sobre o capital e consegue reinvestir metade desse lucro de volta no negócio. A 20% de retorno, ele vai crescer 10% ao ano. E se o negócio negocia a 20 vezes P/L [preço sobre lucro], que é 5% de earning yield [1/20 = 5%], você vai receber 2,5% de volta porque o cara vai reter metade e vai te distribuir metade, e o negócio vai crescer 10% porque ele reinvestiu metade a 20% ao ano. Ou seja, 2,5% + 10,0% dá 12,5%. Esse é o teu compounding. 

Então, o que você precisa ter: precisa ter a convicção de que aquele poder de mercado vai sustentar os retornos altos por muito tempo e você precisa ter a convicção de que ele vai conseguir reinvestir aqueles lucros a taxas altas de retorno. E daí entra o terceiro pilar, voltando para o fundador, que você precisa ter gente lá que vai trabalhar dia e noite para preservar essa equação. Que não vai acelerar demais e nem ficar complacente. 

Gostou do texto de hoje? Se sim, você vai adorar o papo que tivemos com o Cristiano. Você terá uma rara oportunidade de aprender com a vitoriosa cultura da Dynamo naquele que foi um dos episódios mais elogiados da nossa história.

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Por Matheus Soares

Fundador do Market Makers, analista responsável pela Carteira Market Makers de Ações. Antes de fundar o MMakers, foi analista responsável pela cobertura de Small Caps na XP Inc e analista fundamentalista da Rico Investimentos. Certificado no curso de Value Investing da Columbia Business School.

matheus.soares@mmakers.com.br