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Os EUA e sua irracionalidade bancária

Para João Landau, da Vista Capital, há uma distorção preocupante nos investimentos do americano médio

Por Renato Santiago

28 Apr 2023 11h14 - atualizado em 28 Apr 2023 11h15

“Não é uma crise, mas é um processo que a gente não sabe onde termina”.

Assim João Landau, da Vista Capital, resume sua visão sobre o setor bancário dos Estados Unidos, uma das três principais teses que a equipe da gestora vem estudando.

Conforme Landau explicou no episódio de ontem do Market Makers, seus fundos hoje têm muito mais dinheiro em caixa que posições direcionais, mas algumas teses têm sido estudadas com profundidade. Uma delas está ligada ao que vem acontecendo nos bancos americanos, fenômeno tão citado depois da quebra do SVB (Silicon Valley Bank), mas nunca explicado do jeito que Landau explicou. 

A questão começa com uma distorção que para nós hoje soa estranhíssima: o americano médio investe com mais risco que o necessário e menos retorno que o possível, segundo o gestor da Vista. Essa distorção acontece porque nos Estados Unidos os bancos médios concentram uma parte enorme dos depósitos das famílias pagando juros muito mais baixos que o Fed.

Hoje, portanto, o americano deixa dinheiro na mesa. E se você parar para olhar, não é só o americano médio. No próprio SVB (Silicon Valley Bank) havia startups com US$ 500 milhões em depósitos sem remuneração, abrindo mão dos 4,5% ao ano que o Fed paga. “Estavam dando US$ 20 milhões por ano para o banco”, resume Landau.

É difícil imaginar que tal fenômeno continue por muito tempo. Enquanto nossos três leitores leem esse texto, os poupadores norte-americanos, que por tanto tempo viveram em um universo sem juros, estão abrindo os olhos e percebendo que ganhar menos que a taxa de juros livre de risco (a taxa que o dono da impressora paga) é um erro.

“É como se estivessem investindo em algo que paga 20% do CDI e sem cobertura do FGC (…) acreditar que isso vá continuar por muito tempo é investir na irracionalidade”, compara Landau. Com tudo isso, pode-se esperar que os depósitos bancários diminuam. Nesse caso “a rentabilidade dos bancos vai para o buraco, é para vender ação de bancos”, explica.

Mas se investir na irracionalidade é difícil, investir com fé na racionalidade total também não parece sensato. Segundo Landau, não dá pra imaginar que seja apenas questão de tempo para que todos os investidores passem a investir melhor ou que os bancos não remunerem melhor os depósitos de seus clientes. “Se todo mundo continuar em depósitos, então os bancos terão rentabilidade maravilhosa sem tomar risco e é para comprar ação de bancos. A incerteza é tão grande, que dependendo da psicologia da sociedade americana, você deveria comprar ou vender bancos. A situação é de incerteza”, conclui

Episódio

O dilema bancário americano é apenas um dos tópicos das mais de duas horas de conversa que tivemos com Landau. No episódio ele também falou sobre a ascensão do ouro como reserva, em detrimento do dólar (“maior bomba nuclear do mundo”), sobre a revolução que será a inteligência artificial e o fim de seu trade de petróleo. O gestor também não se furtou em falar sobre o drawdown de cerca de 30% que o seu fundo teve desde o primeiro episódio do Market Makers, no qual ele mesmo esteve, e as consequências disso para a Vista. Imperdível.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br