Sobre aprender algo novo com uma reprise

“Um dos grandes problemas de finanças é que as próprias pessoas são suficientes para mudar o resultado das coisas. Se todo mundo aqui passar a acreditar que o sol não vai nascer amanhã, isso não muda a probabilidade do sol nascer amanhã, mas em finanças isso acontece”.

(Bruno Rignel, gestor da AlphaKey, no episódio 98 do Market Makers)

Boa parte das lições que eu retiro de podcasts ou longas entrevistas surge na segunda vez que eu estou consumindo esse conteúdo. Nem sempre consigo fazer esse repeteco em tudo que consumo, mas quando posso é certeza que aprenderei algo novo que não tive da primeira vez.

Isso me faz um privilegiado pois sempre que ouço um episódio do Market Makers, estou ouvindo-o pela 2ª vez, já que sempre estou in loco na gravação (isso quando não ouço antes do episódio ser publicado).

Esse aprendizado novo com algo “velho” é até esperado quando se trata de um podcast: é difícil ficar longas horas ininterruptas concentrado em uma única coisa. E se você ouve a entrevista fazendo outra coisa (na academia, lavando a louça, o que for), bastam poucos segundos de distração para uma grande lição passar despercebida.

“Nunca leia algo que você não gostaria de reler”, disse Taleb. Acrescentaria: nunca ouça um podcast que você não gostaria de reouvir.

Mas neste bom tempo acompanhando diariamente o mercado (são 15 anos!) e mais recente entrevistando grandes investidores (se contar todas as lives, podcasts e eventos, já são mais de mil entrevistas – sem contar as conversas em off), comecei a aprender algo novo com as reprises: o que o entrevistado não disse.

Pode parecer soberba ou prepotência, mas o tempo de experiência me ajuda não só a absorver mais rápido o que é dito por um entrevistado, mas também absorver o que não foi dito.

Afinal, será que um gestor diz exatamente tudo que está fazendo numa entrevista/podcast? Ou ele diz aquilo que ele quer que as pessoas achem que ele está fazendo?

O mercado de ações vive um grande momento de descrença: um governo cheio de ideias que já sabemos o que causará na economia,uma imensidão de oportunidades tão “inteligentes” de investimentos fora do Brasil, uma renda fixa com bom retorno e proteção aqui dentro… quem vai ser o louco que dirá que é hora de investir em ações e que acredita no Brasil?

Como foi dito no episódio bônus que gravamos com Walter Maciel (AZ Quest) e Pedro Jobim (Legacy) semana passada, os dados econômicos do Brasil não mudaram tanto, mas a narrativa está muito pior.

Mas no longo prazo, o que prevalece na formação de preços dos ativos: os fundamentos ou a narrativa?

Responder “os fundamentos” parece óbvio, mas… quanto tempo demora pra esse tal “longo prazo” chegar?

O arcabouço fiscal azedou a perspectiva do Brasil… mas quantas vezes pudemos gozar de uma previsibilidade fiscal nos últimos 30 anos?

O Brasil vai viver um eterno atraso, como foi na década passada… se isso for, como será que vão performar os oligopólios da bolsa, que já estão em níveis de valuation historicamente baixos?

Será que tem tanta gente assim achando que amanhã não vai amanhecer?

3 RECADOS

1) O emblemático episódio 100

Acredito que todos os 3 leitores desta newsletter acompanharam o 100º episódio do Market Makers, com duas ex-CFOs de grandes empresas brasileiras (Elvira Presta na Eletrobras, Andrea Almeida na Vale e Petrobras). Quero destacar os 7 minutos da entrevista a partir do instante 53:30, quando a Elvira revela uma história muito curiosa sobre o “preço misterioso” da privatização da Eletrobras, que podia ter colocado todo o processo de privatização a perder. Destaquei o trecho aqui.

2) OFICIAL: Market Makers duas vezes por semana!

Pra quem se empolgou com a ideia de ouvir duas vezes o mesmo podcast para aprender mais, eu tenho uma má notícia: a partir de agora, oficializamos a terça-feira como dia do episódio extra do Market Makers. Além do tradicional episódio de quinta, agora teremos também um papo às terças.

Nesta terça, receberemos Eduardo Leal, um brasileiro que trabalha na Sands Capital, uma gestora americana de US$ 50 bilhões. Leal atua na gestão de ações emergentes e tem 6 empresas brasileiras no fundo (uma delas não é 100% brasileira, mas é como se fosse). Mais do que saber quais são elas, o episódio vale a pena para entender como um estrangeiro enxerga o Brasil e como funciona a filosofia de investimento em uma gestora tão grande.

3) Estreia do Sports Market Makers

O primeiro episódio do Sports Market Makers foi ao ar dia 12 de junho. Pra você não perder esse episódio, já se inscreve no canal do Sports Market Makers. Inclusive já tem alguns conteúdos surgindo ali no canal!

Um forte abraço,
Thiago Salomão

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