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Tenha um destino, mas aproveite o caminho

Os evangélicos poderão definir as eleições de 2026 e as reflexões por trás do fechamento de uma casa de anáise

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

27 Jan 2025 08h00 - atualizado em 27 Jan 2025 01h30

Steve Kerr, treinador do Golden State Warriors, respondendo o que faz um atleta virar um astro do esporte:

“É apenas a consistência da rotina dele. É como um metrônomo: todo dia, ele é exatamente o mesmo. Seja nos treinos, na sala da musculação, na quadra… Ele é pontual, mas também há um senso de prazer e energia dentro desse trabalho. Ele gosta muito disso, ele ama o processo. E acredito que é isso que torna grandes atletas em super stars. Não é somente uma super disciplina na rotina, mas também um prazer em fazer isso todo dia, e isso se sustenta ao longo do tempo”.

A Compoundletter de hoje será dividida em duas partes: 

Na primeira parte, um insight de mercado que gerou muita repercussão em meu twitter semana passada, sobre a última carta da Mar Asset. Como nem todos tem conta lá (e como eu julgo este um dos insights mais importantes para o mercado nos próximos dois anos), me sinto na obrigação de trazer um resumo aqui;

Na segunda parte, uma reflexão feita após a leitura da carta de Nate Anderson, fundador da Hindenburg Research, uma casa de análise focada em recomendar apenas operações “shorts” e que encerrou suas atividades neste mês. O testemunho dele vai em linha com algo que acredito, que é a importância de amar o seu processo e a sua rotina, e não apenas ser disciplinado a ela.

Parte 1: Os evangélicos poderão definir as eleições de 2026

Em 2010 (última pesquisa Senso feita no Brasil), 22% da população brasileira declarava-se evangélica. Segundo o estudo proprietário da Mar, esse número deve subir para 36% em 2026. Um dos dados que sustenta essa estimativa é o forte crescimento de 5 mil novos templos evangélicos construídos anualmente nestes 14 anos.

E o efeito em 2026? Bom, o atual governo certamente não gostará da resposta:

“Nas duas últimas eleições presidenciais, o PT teve 31% de votos vindo dos evangélicos. É o mesmo percentual que Boulos teve na eleição municipal de São Paulo em 2024. Mantendo essa mesma taxa em 2026 e com essa taxa de crescimento do protestantismo, o PT não teria votos suficientes para conquistar a reeleição, como mostra o gráfico 16”.

No meu twitter, tem um resumo mais detalhado.

Parte 2: o que aprendi com o fim da Hindenburg

Qual é o custo e o retorno em ser fiel a uma rotina e manter-se consistente a um plano? De seguir, dia após dia, o mesmo protocolo e a mesma rotina?

Não tenho dúvidas que um dos grandes triunfos para o Market Makers crescer tanto e tornar-se tão eficiente em 2024 veio de definirmos processos e respeitarmos suas etapas. Confiar na rotina, no grão a grão.

A consistência e o foco no processo fizeram a audiência do nosso podcast crescer em 10 vezes entre 2023 e 2024. 

A consistência e o foco no processo também melhoraram nossos estudos e insights extraídos das empresas investidas – aliás, o relatório que apresentamos sobre Mills (maior posição da Carteira Market Makers) para os membros do M3 Club foi uma boa prova disso.

(Por falar em M3 Club: vamos reabri-lo para novos membros em 24 de fevereiro. É sua chance de fazer parte da nossa fraternidade. Saiba mais clicando aqui

Falando agora, depois de ver todos os resultados, parece até que foi simples seguir esse processo. Mas como é difícil manter-se fiel a tudo isso durante o trajeto, principalmente nos momentos de autoquestionamento.

Por isso, a carta do fundador da Hindenburg Research me despertou reflexões – e gostaria de compartilhar aqui.

Quem viu a chamada do Brazil Journal sobre o fechamento da Hindenburg (”Em Wall Street, mais um short seller fecha as portas“) pode pensar que a empresa faliu por causa do longo bull market vivido nos EUA. Mas a carta divulgada pelo fundador mostra bem mais do que isso.

Nate Anderson abre a carta dizendo que não acreditava ser capaz de tocar este negócio 8 anos atrás, não só pela falta de “skills” (não tinha background tradicional de finanças, nem tinha familiares neste meio e “não era um super humano que funciona com 4 horas de sono”) mas também por 3 ações judiciais que o deixaram rapidamente no negativo.

“Eu estava apavorado, mas sabia que, se ficasse parado, desmoronaria. A única opção que eu tinha era seguir em frente (…). Eu era apaixonado por isso e deixei isso me levar adiante, apesar dos meus medos e inseguranças, escreveu Anderson.

A Hindenburg deu mais do que certo. Um de seus ”shorts” mais emblemáticos, como veio em 2020 com as ações da Nicola, a fabricante de caminhões elétricos que foi de um IPO super quente em 2020 para uma manipulação das ações feita pela família indiana Adani (na época uma das mais ricas do mundo). A Hindenburg vasculhou todo o registro corporativo das Ilhas Maurício para encontrar companhias que ela alegava estarem sendo usadas pela família para manipular as ações.

E então, de repente, Anderson decide encerrar a empresa. Por quê? ”Não há uma razão específica – nenhuma ameaça, nenhum problema de saúde e nenhum grande problema pessoal (…). No início, senti que precisava provar algumas coisas para mim mesmo. Agora, finalmente encontrei conforto comigo mesmo, provavelmente pela primeira vez na minha vida (…). Agora, vejo a Hindenburg como um capítulo da minha vida, não uma coisa central que me define”.

Se você tem seu próprio negócio ou empreende de alguma forma, consegue imaginar a angústia inicial do Anderson. E para chegar no “conforto” pessoal que ele atingiu, é fundamental que exista o prazer em percorrer este caminho, a paixão pela rotina.

Se a rotina necessária para você “chegar lá” não te despertar paixão, é impossível que você mantenha a consistência e consiga fazer melhor do que a concorrência, muito menos em tempos de adversidade. Não basta ser fiel ao processo, é preciso amar o processo.

É justamente nesse ponto que me identifiquei com a Hindenburg: aqui no Market Makers nós somos apaixonados por essa busca de novos conhecimentos. Nossa curiosidade intelectual sempre nos puxa para a “zona de desconforto”, onde precisamos aprender algo novo ou confrontar e estressar as nossas convicções.

E por mais que a gente não saiba exatamente onde estaremos daqui 8 anos, nós seguimos fiéis ao nosso processo, ajustando sempre que necessário mas apaixonados pela nossa rotina. Não é sobre “fazer o que ama”, mas sim “amar o que faz”.

Vou deixar aqui o link da carta do fundador da Hinderburg, para quem quiser ler.

Papo cabeça com Ruy Alves no Market Makers

Nesta terça (28/1) às 18h receberemos o gestor da Kinea, Ruy Alves, para um episódio AO VIVO. Papo com o Ruy é sempre muito interessante, mas já deixo um spoiler que vai interessar os amantes de ficções distópicas: o Ruy fará um paralelo do momento atual do capitalismo com o livro Fahenreit 451, de Ray Bradbury.

Eu estou correndo pra terminar a leitura do livro antes da live. Coincidências da vida, neste começo de ano eu li ”1984” (George Orwell) e reli com a minha esposa “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley), outras duas ficções que seguem a mesma temática de distopia da sociedade.

Se você é membro do M3 Club e quiser fazer perguntas pra nós ou pro Ruy, envie no nosso grupo de Whatsapp. Faremos a curadoria antes da live!

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br