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A herança é maldita, mas não como você pensa

A questão fiscal e legal herdada pelo próximo governo

Josué Guedes

Por Josué Guedes

24 Nov 2022 11h23 - atualizado em 24 Nov 2022 11h23

Não é de hoje que os políticos eleitos se utilizam da tática da “herança maldita” para dizer que o antecessor não fez um bom trabalho e que terá muito a consertar.

Isso pode servir como justificativa para pedir licença para gastar mais ou convencer a população da necessidade de reformas. Num caso ou no outro, a verdade é que nem sempre é tão simples saber separar o fato da narrativa.

Após 4 anos de governo Bolsonaro, Lula se prepara para o seu terceiro mandato, e, como em 2003, quando sucedeu Fernando Henrique Cardoso, volta a dizer que está recebendo uma herança maldita.

Como essa questão divide não só os políticos, mas também a Faria Lima, conversamos com uma economista especialista em fiscal, tema prioritário pro Brasil hoje, para entender qual será efetivamente a herança que o próximo governo irá receber: boa, ruim ou mais ou menos.

Yara Cordeiro, economista da Novus Capital, dividiu a bancada com Guilherme Motta, gestor do Studio Long Bias, num episódio que foi da questão fiscal brasileira ao futuro da Natura em pouco mais de 2 horas de duração.

Yara explicou os pontos positivos do atual governo e a questão da herança maldita:

“O governo começou muito bem do ponto de vista fiscal, na minha opinião. A Reforma da previdência foi importantíssima e muito boa. Reajustes para o funcionalismo, contratações e outros gastos tiveram um freio.

“Mas, nos últimos 12 meses, isso foi praticamente por água abaixo. Desde a PEC dos precatórios, passando pelos gastos para se reeleger, gerou-se uma gastança quase desenfreada. Deixaram de lado todas as premissas de fiscalismo e destruíram o arcabouço institucional que existia. A gente descobriu que uma PEC não adianta para uma regra fiscal, porque é possível mudar no momento que você quiser.”

“Na minha opinião, os últimos meses geraram uma herança maldita.”

E essa herança, para ela, vai além da questão fiscal:

“A herança é maldita especialmente pela quebra institucional. Como serão as próximas eleições? Todo mundo poderá gastar o quanto quiser? O governo que se dizia liberal se desvirtuou. Esses últimos 12 meses foram caóticos.”

Por isso, na visão dela, se o governo “liberal” foi capaz de abrir mão da responsabilidade fiscal e desfazer importantes regras, o próximo, que em tese é mais “gastão”, se sentirá no direito de fazer igual, ou até pior.

Voltaremos a ser o “Brasilzão velho de guerra, o paraíso da renda fixa”, como definiu Samuel Pessôa? Nesta semana, o André Jakurski, da JGP, disse que espera uma renda fixa performando melhor que a renda variável durante o governo Lula.

Esse risco existe, mas tudo depende do preço, como bem disse Motta: a carteira dele na Studio está rodando com uma TIR perto de 14% e algumas bizarrices de preço já começam a aparecer, como foi em 2015 e 2016, quando a nossa bolsa iniciou um forte movimento de alta.

Aguardando os próximos capítulos.

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