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2023 e o paradoxo do otimista

Apesar do cenário extremamente desafiador à frente, estou empolgado com 2023

Thiago Salomão

Por Thiago Salomão

02 Jan 2023 15h23 - atualizado em 02 Jan 2023 07h17

Texto originalmente publicado na CompoundLetter, a newsletter do Market Makers. Inscreva-se na newsletter gratuitamente deixando o seu e-mail aqui

Começamos 2023 com um cenário pra lá de incerto. Lá fora, os Bancos Centrais terão que achar o equilíbrio entre subir juros para controlar a inflação e evitar que uma quase inevitável recessão cause tantos danos à população. Por aqui, o novo governo ainda inspira mais ceticismo do que esperança de que veremos um Lula moderado.

Em meio a isso tudo, estamos com a Selic já na fase final do ciclo de alta (isso se o novo governo não trouxer nenhuma surpresa) e a bolsa em um valuation tão baixo como não víamos há muito tempo. Dois ótimos indícios para comprar ações – embora, como já disse em newsletters anteriores, bolsa barata não é “gatilho” pra ela subir.

Em tempos tão incertos assim, gosto de recorrer ao passado para tentar achar evidências do que pode acontecer. É a tal história dos ciclos de mercado: a história não se repete, mas ela rima. Embora nada garanta que o passado se repetirá, nos apegamos a isso com a ilusão de que dessa forma estamos preparados para o futuro.

O histórico dos retornos anuais do S&P500 desde 1928 evidencia o quão difícil será traçar um cenário para 2023.

Destacado com um retângulo vermelho, vemos o retorno do S&P500 em 2022: queda de 19,4%, a 7ª maior nesta série de 94 anos. O que esperar para 2023 com base nisso? Veja o que aconteceu em outros momentos da história.

Logo abaixo de 2022, aparece o 8º pior ano do índice, que foi 1941 (-17,8%). Depois disso, o S&P500 subiu por 4 anos seguidos, acumulando 99,4% de alta entre 1942 e 1945!
1942: +12,4%
1943: +19,4%
1944: +13,7%
1945: +30,7%
Alta acumulada: 99,4%.

Antes de clamar “buy opportunity”, olhe mais pra baixo na mesma coluna de 2022 e veja o ano da 10ª maior queda da história do S&P: 1940, queda -15%.

Ou seja: 2022 foi um novo 1941 ou 1940? Apesar de apenas um ano de diferença, a resposta faz uma grande diferença, se a história se repetir (tem essa também: nada garante que isso vai se repetir; 2023 pode ser totalmente diferente, pro bem ou pro mal).

Ainda na tabela, logo abaixo de 1941, verá um cenário semelhante: em 1973, o S&P500 caiu 17,3%. Em 1975 e 1976, altas de 31,5% e 19,1%, respectivamente. O problema é que em 1974 o índice caiu 29,7% – 4º pior ano da série histórica.

A grande conclusão com isso tudo é: sim, é verdade que ciclos de mercado existem e que anos de bonança na bolsa sempre aparecem após tempos sombrios. Mas a própria história mostra que 2023 pode ser uma continuação das quedas antes de uma forte recuperação.

Estudar o passado é fundamental pois ele pode nos trazer evidências valiosíssimas sobre o que virá no futuro, mas ele nunca será garantia de que veremos um “replay”.

A Covid 19 provou isso:

O gráfico abaixo rodou o mundo em fevereiro de 2020. Ele mostra como foi a performance do MSCI World Index nas janelas de um, três e seis meses após a aparição de 13 epidemias mundiais entre 1970 e 2020. A conclusão: na média, os mercados já se recuperavam em um mês e subiam 8,5% após 6 meses.

Quem mergulhou de cabeça nesse “buy opportunity” simplesmente comprou a bolsa semanas antes de um dos piores meses da história do mercado financeiro mundial.

Se há uma consequência positiva neste cenário mais difícil é o processo darwiniano que teremos dentro do mercado. Warren Buffett diz (ou atribuíram a ele mais uma frase, pra variar) que quando a maré baixa é que descobrimos quem está nadando pelado.

Pra sobreviver nesta seleção natural, o trabalho precisa ser melhor que o dos outros. Tão simples quanto isso. E pra quem trabalha com produção de conteúdo, momentos como esses são os que tornam um trabalho de qualidade muito mais necessário.

No bull market todo mundo consegue ser genial. Agora, não haverá espaço para aventureiros: a diferença entre estar bem ou mal informado será crucial.

Eu, como fundador e executivo do Market Makers, estou empolgado com 2023: apesar do cenário extremamente desafiador à frente, todos nós (eu, meus sócios e nossos parceiros) estamos no mercado há tempo suficiente pra saber que, por pior que seja a tempestade, ela vai passar. Além disso, estamos bem capitalizados para atravessarmos esse cenário e aproveitarmos eventuais oportunidades que surgirem.

Pode parecer paradoxal, mas é justamente a incerteza para 2023 que me deixa otimista com nosso trabalho para o ano.

Extras

Estatísticas sobre fechamento do Ibovespa: fiz uma thread no meu twitter no dia 31 trazendo alguns dados curiosos sobre o Ibovespa em 2022. Expliquei, por exemplo, por que o Ibovespa subiu em 2022 mesmo a maioria das ações tendo caído e fiz um recorte dos últimos anos do nosso índice, que apesar dos pesares teve sua 6ª alta em 7 anos. Link da thread aqui.

Edson se foi, mas Pelé vive. Pelé foi o responsável por colocar o Brasil no mundo e foi o maior personagem da história deste que é o esporte que eu mais amo na vida. Presto minha homenagem à sua morte com este vídeo: ele mostra várias jogadas feitas grandes craques pós-Pelé e logo depois mostra o próprio Pelé realizando essas jogadas. Um rei que estava à frente do seu tempo. Link do vídeo postado no meu twitter.

Bom 2023!

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Thiago Salomão
Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br