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Só um louco compraria ações agora?
Ninguém gosta de perder dinheiro, mas momentos de pessimismo extremo costumam oferecer boas oportunidades
Em meio aos grandes eventos que aconteceram na semana passada, ainda tive o infortúnio de ver nosso time ser eliminado da Copa do Condado, o campeonato de futebol que eu mesmo organizei e que envole 32 times masculinos e 4 times femininos – todos do mercado financeiro.
Perder é ruim demais e dói. Mas confesso: a dor da derrota foi mitigada por uma lesão que tive coxa direita num dos primeiros lances da partida. Joguei mesmo assim (sim, sou fominha), o que fez o apito de fim de jogo soar como um alívio pro meu corpo.
Essa lesão certamente vai me afastar dos gramados por um mês, talvez mais. Para um viciado em jogar futebol como eu, é quase uma eternidade e eu sei que meu cérebro vai tentar me sabotar nesse intervalo, tentando me convencer a voltar aos gramados logo no primeiro (e falso) sinal de recuperação.
Essa atitude não é burrice (embora pareça) e quem é fanático por jogar futebol vai me entender.
Para não ser enganado pelo meu próprio cérebro, ocuparei a cabeça com outros hábitos ou encaixarei novas rotinas. Meus livros, cursos e projetos que estão estacionados agradecem por isso.
Há males que vêm para o bem.
Quem dera se o mercado nos forçasse a ter essa trégua depois de uma lesão. Mas infelizmente, quanto mais lesionados estamos neste jogo, mais queremos jogar – o que, assim como no futebol, costuma agravar ainda mais a lesão. Quem nunca tentou recuperar um prejuízo na bolsa “dobrando a aposta” nela ou em outro investimento?
Enquanto escrevo este texto, o Ibovespa completava sua 5ª semana consecutiva de queda. Um recuo acumulado de 9,5% desde 22 de fevereiro, o que nos trouxe para abaixo de 100 mil pontos pela 1ª vez desde julho do ano passado.
Sim, é nas quedas que se deve comprar ações e o momento pode ser bem propício para quem tem horizonte de longo prazo. Mas para não ser vítima de um cérebro viciado, vale a pena o exercício de compreender em que cenário estamos hoje.
Divido esse exercício em dois: o cenário externo e interno. No cenário externo, estão cada vez mais assustadoras as semelhanças de 2023 com 2008. Embora sejam crises de naturezas bem diferentes, o fato é que os ciclos desta crise têm criado um “déjà vu” em alguns investidores.
No último episódio do Market Makers, o ex-diretor do Banco Central apontou os 5 estágios de uma grande crise: i) uma política monetária restritiva; ii) o rompimento do elo mais fraco da cadeia; iii) o estágio de negação do mercado e de BCs; iv) a crise de fato; e v) a consequência final, uma política monetária expansionista (juros pra baixo).
O Renatão fez até um desenho bem lúdico mostrando esses ciclos e destacando em que fase nós estamos agora, segundo Volpon: na negação.
Por aqui, ao mesmo tempo que o Copom não surpreendeu ao manter a Selic em 13,75%, ele trouxe uma dose extra de pimenta nas discussões sobre o futuro da taxa de juros com o governo ao manter a porta fechada para cortes. Falamos muito sobre esse “erro” (ou “excesso de pragmatismo”) do BC no último episódio do MMakers.
Os juros futuros nem estressaram tanto com isso, mas a bolsa sim. Elementar: com a sinalização de que a Selic ficará alta por mais tempo e com governo e BC se bicando, quem vai correr o risco de bolsa se há títulos de renda fixa com ganhos de 8% a 9% ao ano real?
Não tem jeito: enquanto monetário e fiscal não se entenderem, não haverá previsibilidade para o Brasil. E a renda fixa paga muito bem para quem quiser esperar de fora. Cenário terrível e que se reflete no nosso mercado: os fundos de ações já acumulam mais de R$ 20 bilhões de resgates líquidos somente em 2023 – lembrando que ano passado já havia tido uma saída de quase R$ 50 bilhões.
Não precisa ser gênio para conectar as fortes quedas da bolsa com os resgates dos fundos de ações.
Mas tentando ver o copo meio cheio: se hoje estamos longe de um acordo entre fiscal e monetário no Brasil, meu palpite é que é questão de tempo para isso ocorrer. Não por otimismo, mas por pragmatismo: é preciso chegar a um consenso para as coisas melhorarem, porque a “outra alternativa” é péssima para todo Brasil – seja você de esquerda ou de direita.
Não sou sádico para dizer que “gosto de ver as ações caindo porque é sinal que estão mais baratas”. Ver o dinheiro diminuir é uma merda e é bem saudável que isso te incomode. Mas nessas horas que costumam surgir boas oportunidades de compra (para quem tem caixa, claro).
Nas últimas semanas, usamos nosso caixa para comprar uma nova small cap e aumentamos nossa exposição em outras empresas que já faziam parte da carteira. Temos agora 9 ações na carteira. Para ver a carteira completa, basta tornar-se assinante da Comunidade Market Makers, que aliás está com uma condição especial de assinatura neste link.
Ainda temos um caixa bastante relevante em nossa carteira. Aos poucos, conforme nosso cérebro for ganhando confiança, nós vamos fazendo novos testes com o mercado para ver se a nossa lesão de fato está curada e podemos voltar a campo.