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Um governo histérico só atrapalha
Para a Kapitalo, a desaceleração da economia brasileira não é o fator mais preocupante na decisão de tomada de risco
Para o mercado financeiro, a principal utilidade de um arcabouço fiscal é ser usado para fazer contas.
Analistas e gestores usam as regras do governo para conseguir alguma visibilidade de como estará a economia no futuro e assim investir com um mínimo de previsibilidade das condições macroeconômicas.
Nos meses que passamos sem regra fiscal alguma, a sensação era de que a Faria Lima não fazia nada no Brasil, a não ser esperar — afinal, não se navega sem visibilidade.
No mês passado, o novo governo finalmente apresentou sua regra e os “cabeças de planilha” puderam preencher seus modelos, projetar inflação e taxa de juros e enxergar pelo menos um pouco mais à frente. Bom ou ruim, o arcabouço pelo menos agora existe e nós sabemos qual é a regra do jogo que vamos jogar. Assim, o mercado começou a andar.
O problema é que estamos no Brasil.
Não sei se você se lembra, mas já tivemos por aqui uma regra fiscal sólida, que funcionava muito bem — tão bem que possibilitou ao Banco Central derrubar os juros para 2% ao ano. Era o chamado teto de gastos, demolido em pleno ano eleitoral, apesar de ser uma cláusula da Constituição e de o ministro da Economia ser um liberal, ao menos até então.
Impor regras de gastos públicos, portanto, é excelente, mas os governos por aqui fazem isso tanto a contragosto que é melhor nem confiar muito. Veja o que disse ontem o Carlos Woelz, no episódio 40 do Market Makers.
“O mercado está operando se o arcabouço fiscal vai chegar à próxima eleição ou não. Ele não é tão ruim, mas eu acho que na primeira desaceleração ele será rasgado. Foi assim com o teto de gastos e com um governo que tinha o Paulo Guedes (…). Qualquer chacoalho vai ter regra por fora”, explica. “Os cabeças de planilha, como nós, vão fazer conta e capaz de se animarem, mas qual é a persistência desse negócio? Eu acho que vale muito pouco”, completa.
Junte-se a isso a inflação ainda estar distante do centro da meta, o Banco Central não ter dado sinais de redução da Selic e um certo apetite deste governo por políticas expansionistas parafiscais, e o que temos é um cenário favorável à cautela. “É necessário desacelerar a economia, o problema é como o governo vai reagir. A gente não sabe quão histérico o governo vai ficar”, completa Carlos.
Depois de ler tudo isso, você só pode pensar: com certeza o Carlos está vendido em bolsa. “Na verdade isso é uma grande explicação de porque eu não estou comprado pra caramba”, diz. “A bolsa brasileira está muito barata”, resume. “Esse momento é único, onde tem juro real alto e a bolsa com um prêmio grande, o que dificulta muito ficar vendido. Pelo contrário, dá até um pouco de vontade de pegar um pouco essa animação que as pessoas vão ter de chegar [por causa do novo arcabouço]”. “Mas não consigo ver uma esperança muito no longo prazo”, conclui.
Vivendo em um país que não perde oportunidades de perder oportunidades, você diria que o Carlos está cauteloso demais? Eu não.
Se você ainda não ouviu o episódio de ontem, o trecho acima é a segunda parte do programa e começa mais ou menos no minuto 45 do podcast e 52 no YouTube, depois de explicação sobre o sui generis modelo de negócio da Kapitalo.
No exterior, a expectativa dos gestores da Kapitalo é de juros altos nos Estados Unidos e desaceleração por lá, na Europa e China. “EUA vai seguir na toada de juros em alta com dados perigosos de inflação alta e mercado de trabalho apertado. China e Europa tiveram reações positivas da economia no curto prazo, mas pra mim estamos tendo cada vez mais sinais de que teremos uma desaceleração global”, diz Woelz.