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A Teoria do Coquetel e o comportamento dos investidores
A sabedoria de Peter Lynch: encontrando pistas sobre a "temperatura" dos mercados
Bastou o Ibovespa sair dos 97 mil pontos para os atuais 116 mil em aproximadamente 4 meses para muitos investidores começarem a se questionar se o mercado não subiu muito e já está muito “esticado”.
Talvez por saber que correções são normais e também gostar muito dos livros de Peter Lynch, lendário gestor do Fidelity Magellan Fund, prefiro não me ater a uma análise puramente numérica para pensar nisso.
Se nem os analistas profissionais podem prever os movimentos do mercados, quais as chances tem um investidor amador de fazê-lo?
Como termômetro para identificar a “temperatura dos mercados”, recorro à Teoria do Coquetel, criada e explicada por Lynch em seu best-seller O Jeito Peter Lynch de Investir.
Lynch desenvolveu essa teoria após ter passado anos frequentando coquetéis de negócios prestando muita atenção àquilo que as dez pessoas mais próximas ao seu lugar favorito nas confraternizações (a travessa de ponche) diziam em relação ao mercado de ações.
Após um bom tempo de bear market, o primeiro estágio de um mercado de alta, segundo Lynch, é marcado por coquetéis em que ninguém fala sobre ações. Os que puxam papo com um gestor de ações e descobrem sua profissão rapidamente acenam educadamente e se afastam. Os que decidem continuar a conversa com o gestor mudam o tema da prosa e passam a falar sobre o jogo de basquete, as próximas eleições ou o clima. Se um dentista passa perto, falar sobre a placa dentária se torna bem mais interessante.
“Quando dez pessoas preferem falar sobre placa com um dentista a falar com o gestor de um fundo de investimento em ações, é provável que o mercado esteja prestes a começar a subir”, resume Lynch.
No estágio dois, após descobrir a profissão do gestor, o assunto não muda tão rapidamente como no primeiro estágio. A conversa sobre ações dura tempo suficiente para comentarem quão arriscado é o mercado de ações. Mas logo depois partem para conversar com o dentista sobre as placas dentárias.
“Nesse estágio, os coquetéis ainda são mais sobre placas do que sobre ações. O mercado pode até ter subido 15% em relação ao estágio um, mas poucos estão prestando atenção”, explica Lynch.
No estágio três, após o mercado subir uns 30% em relação ao estágio um, uma multidão de indivíduos interessados ignora o dentista e passa a circular em torno do gestor durante toda festa. Vários pedem recomendações de investimentos. Todos na festa comentam que investiram em uma ação ou outra e agora discutem o que está ocorrendo.
No estágio quatro, mais uma vez, todos cercam o gestor, mas ao invés de pedirem dicas, recomendam o que ele deve comprar. Até mesmo o dentista possui três ou quatro dicas.
“Quando os vizinhos me dizem o que comprar e eu desejo haver seguido seus conselhos, isto é um claro sinal de que o mercado atingiu seu ápice e está prestes a corrigir fortemente”, conclui Lynch de forma bem humorada.
Usando a mesma ideia, mas trocando as conversas em coquetéis pela observação do comportamento dos investidores nas redes, Twitter principalmente, o que vemos agora é no máximo o começo do estágio dois.
Quem acompanhou os memoráveis debates da fintwit entre 2019 e 2020 sabe muito bem disso.