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Daniel Goldberg: os investidores estão fazendo a pergunta errada
A turma do quê, a turma do porquê
Quero acreditar que você, investidor inteligente e responsável que acompanha o Market Makers, sempre faz perguntas sobre os ativos no qual pretende colocar seu suado dinheiro, correto?
Afinal, não dá para investir em alguma coisa sem o mínimo questionamento a si mesmo, ao Google, ao seu assessor ou a quem quer que lhe ajude na hora de investir.
Quero lhe propor então uma reflexão. Para você, a pergunta mais importante é o porquê ou o quê? No que investir ou por que investir em algo?
Essa questão pode soar tão tola quanto metafísica. Eu invisto no que acho bom e por que quero ganhar dinheiro. É simples! (Ou será que estou deixando escapar alguma coisa?). Mas ela tem outras camadas.
Em mais de quatro anos, em duas encarnações produzindo conteúdo, entrevistamos todas as semanas pessoas cujo trabalho é alocar capital, o dos outros e o próprio. E essa questão nunca havia aparecido como ontem, no episódio 55 do Market Makers, com Daniel Goldberg.
Goldberg é fundador e CIO da Lumina, gestora recém-criada, que tem US$ 1,2 bilhão de ativos sob gestão, focada em crédito e soluções de capital. Formado em direito, ex-secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, ele não é o gestor que você está acostumado a ver por aqui.
Talvez por isso ele tenha um jeito tão diferente de enxergar investimentos. Segundo seu modelo mental, na hora de investir, existe a turma do “quê”, e a turma do “porquê”.
A primeira é formada pelas pessoas que escolhem um ativo, o investigam, entendem tudo sobre ele, estudam seus fluxos de caixa futuros, trazem a valor presente e chegam a um veredito sobre aquela companhia. A partir daí, podem investir em qualquer valor mobiliário que uma empresa apresente. Os gestores de ação são assim.
A segunda, a turma do porquê, além de tudo isso, pensa também na razão da existência de uma oportunidade. “Por que essa oportunidade existe?”, resume Goldberg.
Perceba que os investidores da turma do “quê” também respondem porquês. “Comprei porque está barata”, responderia esse investidor. Mas não é isso que Goldberg está falando. A questão é o contexto.
“As pessoas não se acostumaram a perguntar o porquê, mas é o porquê que traz retorno em excesso. Não vem de saber mais que seu vizinho, vem de tomar um risco que seu vizinho não está querendo tomar naquele dia”, resume. “Gestores de equity fazem a lição de casa, eles sabem muito sobre o ‘o quê’, sabem tudo. Dito isso, tomam resgate, têm que vender e sobra retorno em excesso. A pergunta é por que a oportunidade existe? Quando a resposta não é contextual é estrutural, o ônus da prova deveria ser seu”, completa.
O que Goldberg quer dizer com tudo isso é que apenas comprar um ativo bom dificilmente vai lhe fazer ganhar mais dinheiro que o mercado. O que vai fazer você ganhar dinheiro é tomar um risco que ninguém mais quer. É agir como uma seguradora, como um bombeiro em um prédio em chamas. É olhar para o contexto e entender por que uma empresa precisa de dinheiro, e não se ela é boa.
Não é coincidência que a Lumina esteja muito mais focada em bonds e estruturas de crédito para empresas que estão sem liquidez, em processo de aquisição de uma concorrente ou até em recuperação judicial. Esses são os porquês favoritos de Goldberg, impossíveis de serem levados em consideração se seu jogo é apenas comprar ações que já estão no mercado trocando de mãos. Em todos esses casos, ele está assumindo risco em nome das empresas.
É claro que não existe certo ou errado. O que nossa entrevista com Goldberg traz é um jeito de pensar diferente do da maioria dos participantes do mercado que estamos acostumados a trazer ao programa. Se você investe penando apenas no quê, talvez seja bom começar a diversificar um pouco e colocar dinheiro também no porquê.