Qual é a importância que o valuation de uma empresa tem para um investidor quando ele decide comprar uma ação? Se você está aqui no Market Makers, nos ouve e assiste, deve acreditar que ela é muito grande.
Não estou aqui hoje para dizer o contrário, mas sim para apresentar uma perspectiva que muitos investidores fundamentalistas podem achar assombrosa. Principalmente aqueles mais iniciantes, que costumam ser mais dogmáticos, ou aos fundamentalistas mais fundamentalistas: a de que valuation não é tudo.
Antes de mais nada, vamos definir valuation: é a ciência de atribuir um valor justo para as ações de uma empresa baseado em seus dados operacionais e financeiros, como receita, margens, custo de capital, investimentos, geração de caixa, entre outros. O que fundamentalistas fazem é comparar o valor que encontram ao preço atual de uma ação. Se o preço de tela for mais baixo que seu preço justo, a ação está barata; caso contrário, cara.
Sim, ele é uma ferramenta poderosa e eu entendo perfeitamente que é fácil achar que ela dá conta de tudo quando a questão é o investimento em ações. Afinal, o investidor se municia de dados, usa ferramentas matemáticas, e, ao final, consegue descobrir se um ativo é caro ou barato. É uma receita tentadora demais para não ser usada como o Santo Graal.
Mas acontece que ela não é. E quem trouxe essa perspectiva ao Market Makers foi o Gustavo Salomão, gestor da Norte Asset, que esteve no episódio número 61 do programa, exibido na quinta-feira (7). Se você ainda não viu, clique aqui.
“O que importa além do valuation (que é só um dado) é o que acontece na margem. Se a empresa surpreende positivamente, a ação vai subir, e se decepcionar, vai cair. Então o que importa é sua convicção sobre o que vai acontecer com o resultado no próximo trimestre ou semestre”, diz Salomão.
O que ele quer dizer aqui é que não importa apenas se o preço da ação está caro ou barato em relação ao seu lucro ou ao valuation que você fez, mas também se os resultados da empresa segue dando suporte ao valuation encontrado. A questão está, portanto, na convicção que o investidor tem de como virão os resultados da companhia no futuro.
Salomão trouxe alguns exemplos.
“Olha o consenso 2021, quando a bolsa estava batendo 130 mil pontos. As pessoas não esperavam que a bolsa bateria 96 mil pontos em julho do ano passado, como ocorreu”, diz. “Quem tinha tese de longo prazo para Magalu por exemplo, que não é uma empresa ruim, pagou R$ 25 reais num papel que hoje vale R$ 3. Pegou Alpargatas por R$ 60 reais, Centauro a R$ 25 reais”. Tudo isso poderia até fazer sentido do ponto de vista do valuation. Mas no final… “Foram empresas que decepcionaram nos resultados”, e por isso caíram. Valuation, portanto, não faz milagres.