Desde a semana passada o assunto treasuries vem monopolizando o noticiário no mercado financeiro em geral e aqui do Market Makers em particular. Falamos disso no episódio com a Zeina Latif e o Fabio Kanczuk, na semana passada, no que vai ao ar hoje (spoiler) e em outras três newsletters: uma sobre o começo desse processo, outra sobre as dúvidas que pairam sobre ele e a última sobre a importância e a profunda mudança estrutural que estamos vivendo no mundo dos investimentos.
Hoje, infelizmente, não vamos conseguir mudar de assunto: os treasuries americanos continuam subindo e isso vai continuar trazendo consequências sobre os investimentos.
Mas antes, vamos a uma necessária recapitulação.
Recapitulando
Os títulos do tesouro americano já vem chamando atenção desde o começo do segundo semestre. Primeiro quando as taxas de dois anos ficaram mais altas que as de dez anos, em um movimento que costuma significar, historicamente, que há uma crise à vista. Depois, nas últimas semanas, essas taxas começaram a subir sem parar, passando dos 5% (no caso da taxa mais curta), coisa que não acontecia havia muito tempo.
O assunto mobiliza o mercado porque, como explicamos nas outras newsletters, o juro americano é o preço mais importante do mundo. Em sua última carta, a Verde resumiu essa premissa assim:
“O preço mais importante do mercado global, na grande maioria do tempo, é a taxa de juro do dólar. É a partir dele que praticamente todos os outros são derivados. Todas as taxas de desconto, ou custo de capital, ou qualquer outra forma de se descontar fluxo de caixa, das mais simples às mais sofisticadas ou esotéricas, em última instância dependem de qual é a taxa de juro da moeda mais importante.”
Ou seja, tudo depende do juro do dólar.
Atualizando
Nesta semana, as taxas pagas pelos treasuries, que haviam dado um alívio, voltaram a subir, afetando todos os mercados mais uma vez. Na terça-feira elas chegaram a 5,208% (dois anos) e 4,834% (a de dez anos). Ontem, a taxa mais longa chegou ao 4,889%, um valor que não era visto desde 2007.
As razões por trás dessa mudança de patamar do preço mais importante do mundo ainda não eram tão claras na semana passada, mas agora um consenso parece se cristalizar. A primeira razão é a resiliência da economia dos Estados Unidos, que apesar de estar rodando com juros tão altos para os padrões locais, segue dando sinais de força.
A rotina por lá tem sido a divulgação de dados da atividade que surpreendem os analistas e fazem as taxas subirem. O último caso, na terça-feira, foi o das vendas no varejo, que subiram 0,7% em setembro, mais que o dobro das estimativas de 0,3%, e o de produção industrial no mesmo mês, que registrou mais alta de 0,3%, o triplo do estimado.
Mas esse contexto leva a uma segunda pergunta: por que a economia americana segue tão forte mesmo sob uma taxa de juros tão alta?
Tentando explicar
Ainda não há respostas para isso, mas o Fabio Kanczuk, da ASA Investments, tem uma suspeita, que, segundo ele mesmo, só poderá ser comprovada no futuro. Para ele, os dados são compatíveis com um aumento de produtividade local que ainda não foi aferida.
“Os Estados Unidos estão crescendo legal mesmo com juros tendo subido tanto. A inflação está cedendo. Ah, isso é mais crescimento potencial, que depende de produtividade. Você fala ‘legal mas por que diabos que os Estados Unidos estão mais produtivos? (…) A impressão que eu tenho é que a gente acaba descobrindo depois”, disse Kanczuk no Market Makers.
Segundo o economista, os dados são condizentes com um aumento de produtividade, que torna a economia mais resiliente e resistente a juros mais altos, mas ainda não há dados para comprovar. “O episódio para mim mais parecido com o que a gente está vivendo agora foi a segunda metade da década de 1990 nos Estados Unidos quando estavam crescendo sem inflação e 10 anos depois a gente consegue tem dados e entende que a segunda metade da década de 90 foi o Walmart, que melhorou a logística, aumentou a produtividade e o PIB aumentou anos seguidos”, completa.
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