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Em busca da nossa Coca-Cola
Se você quer ter uma empresa que valorize 100 ou 1000 vezes na carteira, você não deverá vendê-la após uma alta de 10x.
Em meio às leituras que fiz das cartas da Berkshire Hathaway antes de ir à Omaha, os trechos em que Warren Buffett descreve o investimento feito em Coca-Cola – até então – são os meus preferidos. A simplicidade com que ele, na década de 90, abordava as perspectivas da empresa ao mesmo tempo em que mirava pacientemente o longo prazo deveria servir – como já tem me servido – de inspiração para aqueles que desejam investir em ações de empresas.
Eu sei que falar em ações e em longo prazo no Brasil parece não combinar dada a janela ruim que a bolsa tem vivido ao longo dos últimos anos, sendo até difícil defender o investimento em ações com o tanto de gente criticando ou nem querendo ouvir falar sobre, mas é justamente por isso que trarei os pilares do investimento de Warren Buffett em Coca-Cola. É um exemplo que reforça valores que eu acredito – como focar nos negócios em si e não no Fed, Copom, política ou mesmo oscilação da ação – e de quebra me ajuda a evitar a armadilha de pensar no curto prazo.
Apesar de Warren Buffett ter comprado as suas primeiras ações da Coca-Cola em 1988, na conferência da Berkshire Hathaway de 1987 ele já havia dado pistas de que a compraria mesmo sem ter falado o nome dela. Ali ele descreveu que o negócio ideal para ele seria algo que custasse um centavo, fosse vendido por um dólar e ainda por cima viciasse.
A simplicidade dele projetando o futuro da empresa na conferência de 1992 não apenas torna fácil o entendimento da tese, como também faz parecer óbvio o investimento:
“A cada dia, um norte-americano comum bebe cerca de dois litros de algo. Em 1991, 25% desses dois litros eram refrigerantes, ultrapassando a água como a bebida número um dos Estados Unidos! Isso representa cerca de 730 refrigerantes per capita por ano consumidos, dos quais aproximadamente 42% são produzidos pela Coca-Cola. O consumo global demonstra padrões incrivelmente similares, e o número de refrigerantes consumidos está continuamente crescendo.”
A Coca-Cola havia feito seu IPO em 1919 a US$ 40,00 por ação, em 1920 chegou a cair mais de 50% para US$ 19,50 e ao final de 1993 aquela mesma ação comprada no IPO – e com dividendos reinvestidos – valeria mais de US$ 2,1 milhões. Ao relembrar esse evento, na carta aos acionistas de 1993, Buffett cita uma passagem da revista Fortune daquele ano que traz a mentalidade curto prazista de muitos investidores ao prever até onde a empresa chegaria:
“Em vários momentos do ano, um investidor sério e relevante olha profundamente o histórico da Coca-Cola, mas chega, com pesar, à conclusão de que está olhando tarde demais. Os espectros da saturação e da concorrência surgem diante dele.”
E na mesma carta, reforça sua visão de longo prazo e de que é quase sempre um erro vender uma ótima empresa:
“Sim, houve competição em 1938 e em 1993 também. Mas vale a pena notar que em 1938 a Coca-Cola vendeu 207 milhões de caixas de refrigerantes e em 1993 vendeu cerca de 10,7 bilhões de caixas, um aumento de 50 vezes o volume físico de uma empresa que em 1938 já era dominante na sua indústria mais importante. Nem a festa acabou para um investidor em 1938: embora os US$ 40 investidos em 1919 em uma ação tivessem (com os dividendos reinvestidos) se transformado em US$ 3.277 no final de 1938, os novos US$ 40 então investidos em ações da Coca-Cola teriam crescido para US$ 25.000 até o final de 1993.”
Mais adiante, na carta de 1996 ele traz detalhes da leitura que ele fez do relatório de 1896 da Coca-Cola. Sim, você não leu errado: mil oitocentos e noventa e seis!
“Recentemente estive estudando o relatório de 1896 da Coca-Cola (e você acha que está atrasado na leitura!). Naquela época, a Coca-Cola, embora já fosse o principal refrigerante, existia há apenas uma década. Mas o seu plano para os próximos 100 anos já estava traçado. Relatando vendas de US$ 148 mil naquele ano, Asa Candler, presidente da empresa, disse: ‘Não ficamos para trás em nossos esforços para ir a todo o mundo ensinando que a Coca-Cola é o artigo, por excelência, para a saúde e o bem-estar de todas as pessoas.’ Embora “saúde” possa ter sido exagero, adoro o fato de que a Coca-Cola ainda hoje se baseia na tese básica de Candler um século depois.”
E complementa:
“Não resisto a mais uma citação de Candler: ‘A partir deste ano, por volta de 1º de março… empregamos dez vendedores por meio dos quais, com correspondência sistemática do escritório, cobrimos quase todo o território da União.’ Esse é o meu tipo de time de vendas.”
A Coca-Cola ainda hoje está presente na carteira da Berkshire Hathaway e mostra a importância de analisar negócios, ter paciência e focar no longo prazo.
Se você quer ter uma empresa que valorize 100 ou 1000 vezes na carteira, você não deverá vendê-la após uma alta de 10x.
São esses os princípios que eu acredito e reforço diariamente na filosofia de investimentos do Market Makers e espero que eles inspirem tanto a você, quanto têm me inspirado.