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Um resumo do semestre em poesia

Terminamos o primeiro semestre de 2024 com roxos, hematomas e um gosto bem amargo na boca. É como se tivéssemos no intervalo de um jogo de futebol e no 1º tempo o adversário abriu uma vantagem de 3 a 0 com requintes de crueldade

Por Thiago Salomão

08 Jul 2024 12h55 - atualizado em 08 Jul 2024 12h55

“Truth is like poetry. And most people fucking hate poetry.”

Conheci recentemente um gestor com um longo histórico no mercado financeiro e com importante atuação no setor público. O papo foi muito bom: ele sabe muito do assunto “crédito” e é um ótimo contador de histórias. Em breve você o conhecerá no nosso podcast, mas conto essa história por algo peculiar que ele me disse: ele lançou recentemente um livro de poesias. 

Isso mesmo, um livro de poesias escrito por um gestor.

Comprei o livro. Ainda não chegou, então ainda não sei se perdemos um poeta ou ganhamos um gestor. Mas meu cérebro já começou a pensar diferente só de saber que existe um profissional do mercado que escreve poesias.  

O resultado disso: tinha preparado um resumo do que foi o 1º semestre de 2024, mas como já existem 827 resumos desse tipo escritos por aí, transformei o texto em poesia para ele ficar (ou tentar ficar) mais interessante. Me baseei no que foi dito no episódio #108 do MMakers, que foi uma verdadeira aula de economia da Zeina Latif e do Stephan Kautz.

2024 começou com uma certeza: juro cai em março,

Mas logo em janeiro, esse prazo foi pro espaço. 

“Tudo bem se cair depois, desde que caia forte”,

O problema é que esse prazo ficou à nossa sorte.

A nova aposta de queda ficou para setembro

Mas ela já mudou tantas vezes que nem me lembro.

O fato é que o juro este ano só deve cair uma vez

E em 2025? qualquer palpite será um grande “talvez”

Mesmo com o Fed adiando o afrouxamento,

Wall Street está nas máximas, sem impedimento.

Se você não for “AI” (ei-ai), não terá meu buy

O rali da Nvidia foi letal como um samurai.

O Brasil nessa história? Bye Bye

Em terra onde tecnologia é Tec Toy, 

O Brasil vive num filme sem heroi.

E pra piorar ainda mais esse triste enredo

Criamos nossos próprios monstros para ter medo

De troca na Petrobras ao “novo” Banco Central

Mudamos a direção e os objetivos a nível nacional

O arcabouço fiscal existe, mas não é de verdade

E a esperança no Haddad… ficou pra saudade

Dólar foi a R$ 5,70? É o mercado em manipulação

Selic estacionada? É o BC com a camisa da seleção

A culpa sempre é deles, não há autocrítica nem reflexão

E assim, mercado e fundamentos perdem a conexão

Nossa economia, é fato, não piorou tanto quanto as projeções

Mas como o mercado precifica o futuro, os preços sofrem emoções

O fundamento irá até o preço ou o preço até o fundamento?

É aí surge a oportunidade: comprar quando o mercado é só sentimento

O semestre acabou com as bolsas lá fora em festa, bem longe da porta

O juro nos EUA não vai cair muito, mas isso pouco importa:

Enquanto AI é a moda e a China exporta deflação, 

Ainda haverá música, euforia e diversão.

No Brasil, o clima tenso segue… mas a solução existe!

Menos ruídos e mais corte de gastos, tudo que deixa um político triste

Racionalidade e cooperação, combinada com silêncio

Presidente: pode falar, mas seja digalêncio

O que fazer nesse momento? O mesmo que fazemos sempre, sem atraso.

Comprar boas empresas, com bons fundamentos e foco no longo prazo.

Lemos Valor Econômico, mas priorizamos as lições dos grandes mestres

Buffett, Munger e outros que nos guiam todos os dias, meses e semestres.

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Terminamos o primeiro semestre de 2024 com roxos, hematomas e um gosto bem amargo na boca. É como se tivéssemos no intervalo de um jogo de futebol e no 1º tempo o adversário abriu uma vantagem de 3 a 0 com requintes de crueldade.

Mas o início de julho trouxe certo alento: bastaram a sinalização de um corte de R$ 25 bilhões em gastos e a ausência de más notícias e vimos o dólar vir abaixo de R$ 5,50 e os juros futuros caírem a ponto de indicarem que a Selic não subirá até o final do ano (sim, a curva de juros mostrava que o BC iria subir os juros ao longo deste semestre).

A bolsa, então, foi espetacular na semana: o Ibovespa subiu 1,9%, mas o índice de small caps disparou 5%. Nossa carteira do Market Makers foi além e rendeu 6,9% nestes cinco dias.

Hora da virada? Prematuro dizer. Mas essa valorização não nos surpreende: como eu e o Matheus enfaticamente repetimos nas últimas newsletters, estamos com uma carteira composta em sua maioria por empresas com níveis muito atrativos de valuation e com sólida situação financeira e/ou num bom momento operacional.

O problema está muito mais no lado macro do que no micro. É preciso paciência e serenidade para percorrer essa caminhada e os preços avançarem em direção aos fundamentos que vemos. Não podemos controlar esse tempo, é esperar e esperar.

Nós mesmos caímos em questionamentos pela demora. Semana retrasada, estávamos eu e o Math revalidando tese por tese da nossa carteira, como uma espécie de exercício de “onde foi que erramos”. A conclusão foi: vamos concentrar ainda nas posições mais seguras, por mais que o movimento dos preços nos diga que elas não parecem seguras. 

(Aliás, que belo paradoxo: é justamente por caírem tanto e sem piora proporcional nos fundamentos que, para nós, elas estão mais seguras).

Na sexta-feira, inclusive, o Math atualizou as posições das ações da nossa carteira para os assinantes da Comunidade Market Makers. Se você ainda não é membro da Comunidade, clique aqui e entre na lista de espera, vamos reabri-la em breve e o primeiro aviso será feito para quem está nessa lista.

Conclusão: nossa bolsa hoje sofre com o combo “fuga de estrangeiros + concorrência da renda fixa e do internacional + piora nas projeções econômicas”. Essa mediocridade pode se manter ou até piorar. Mas isso tudo deixa o valuation extremamente deprimido, como se fosse uma mola totalmente comprimida.

Quem tiver paciência, que persevere. Quando a mola descomprimir, onde você quer estar?

CONVITE ESPECIAL: terça (9/jul) às 18h

Teremos episódio AO VIVO nesta terça de feriado e faremos num formato especial: diferente do formato tradicional em que trazemos um convidado de fora, desta vez vamos fazer uma conversa comigo e com os meus dois sócios fundadores do Market Makers – Matheus e Josué.


Neste episódio, responderemos todas as perguntas sobre investimentos, ações e economia que recebemos dos nossos assinantes ou através dos nossos canais (newsletter, redes sociais, youtube…). Tem até umas perguntas pessoais curiosas que recebemos.

E faremos AO VIVO justamente para interagir com o pessoal no chat.

Então, anote na agenda: temos um encontro marcado terça-feira (9 de julho) às 18h.

O link estará disponível lá no canal do Market Makers – inscreva-se e ative o sininho pra se garantir nessa!

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br