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Futebol, Howard Marks e o risco
Quando uma ação está em queda livre, o risco do investimento diminui. Ao mesmo tempo, quando uma ação sobe sem parar, o risco do investimento na verdade está aumentando. Risco é contraintuitivo
Antes de apresentar meu texto, quero agradecer a cada membro do M3 Club que esteve presente no nosso happy hour da quinta passada aqui em São Paulo. Foram trocas de ideias muito enriquecedoras e um carinho que nos deixa com o coração quentinho e a sensação de que estamos de fato gerando valor para vocês. Obrigado, de coração.
“Quando vejo memos do Howard Marks no meu e-mail, eles são a primeira coisa que abro e leio. Sempre aprendo alguma coisa.”
Warren Buffett
“Futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes”, disse o ex-técnico italiano Arrigo Sacchi, treinador da seleção da Itália de 1994, vice-campeã do mundo.
Muito do que aprendi sobre trabalho em equipe, amizade, empatia com o próximo (cada ser humano é único), o prazer de seguir um plano e ver ele dar certo… tudo isso devo ao futebol. Da brincadeira na escola aos campeonatos amadores, o futebol sempre esteve (e está) presente na minha vida.
Por todo esse meu envolvimento, fiquei surpreso quando vi o fundador da Oaktree Capital, Howard Marks, fazer uma analogia excelente entre o futebol americano e o “nosso” futebol para explicar como devemos encarar o risco.
Americano e de 78 anos de idade. Isso por si só já daria motivos para Marks não ter intimidade com o esporte bretão. Mas o paralelo que ele fez no video “How to Think About Risk”, publicado no canal da Oaktree, mostrou que alguma coisa ele sabe.
São 36 minutos onde ele faz uma reflexão de como devemos encarar e analisar o risco de um investimento. Alguns aprendizados que eu obtive com o vídeo:
> O risco está mais associado ao comportamento do investidor sobre aquele ativo do que a natureza por si só do ativo – ou seja, o risco é baixo quando investidores agem de maneira prudente e é alto quando eles não são prudentes.
> Quando uma ação está em queda livre, o risco do investimento diminui. Ao mesmo tempo, quando uma ação sobe sem parar, o risco do investimento na verdade está aumentando. Risco é contraintuitivo.
> O sucesso nos investimentos não está em comprar coisas boas, mas sim em comprar bem [a um bom preço]. Não há ativos bons demais a ponto de não ficarem arriscados se subirem muito, assim como não existem ativos ruins o bastante pra não ficarem baratos depois de muito caírem.
> A ideia de “investimentos com mais risco entregam maior retorno” é errada. O certo é dizer “investimentos que são percebidos como mais arriscados tendem a ser percebidos como os que oferecem maior retorno”.
> Quanto mais possibilidades de desfechos para um investimento, maior o risco daquele investimento. Mas é importante ter em mente que por mais que você calcule a probabilidade de cada “futuro” acontecer, só um deles de fato se tornará realidade.
> Você não vai ganhar dinheiro sem assumir riscos. E você não vai ganhar dinheiro apenas por assumir riscos.
Mas a analogia com o futebol foi especial e, por isso, colocarei ela na íntegra abaixo:
Acho que o modelo certo para pensar se precisamos de controle de risco não é através do futebol americano, mas do “soccer”, ou o futebol.
No futebol americano, o time com a bola está com os jogadores de ataque em campo. Eles têm 4 tentativas para avançar 10 jardas. Se conseguirem, eles terão mais 4 tentativas para ir mais 10 jardas, e vão fazendo isso até que marcarão ponto. Mas se o time não avançar 10 jardas em 4 tentativas, o árbitro apita e a bola vai para o outro time, que tentará avançar 10 jardas em 4 tentativas na direção oposta.
Então a situação que temos é: dois times alternando entre ataque e defesa e trocando suas equipes sempre que há as paralisações feitas pelo juíz. Isso não tem nada a ver com o mundo real.
O modelo certo, como eu disse, é o que o resto do mundo chama de futebol: 11 pessoas jogam praticamente o jogo inteiro, e ninguém lhe diz quando estar no ataque ou na defesa e , fora que há muito poucas paradas para ajustar as táticas e as pessoas em campo. Esse é o mundo real.
No investimento, uma das principais decisões é quando estar no ataque, quando estar na defesa e quanto alocar para cada um deles, mas ninguém lhe diz quando fazê-lo e ninguém interrompe o jogo para lhe dar tempo”.
Já tinha muito motivos passionais para preferir o nosso futebol ao futebol americano. Howard Marks me deu mais um motivo para gostar tanto de futebol: sua aleatoriedade e imprevisibilidade se parecem muito mais com a vida real do que o esporte dos americanos.
Pra finalizar: pesquisando sobre a tal frase do Bufett que coloquei no início da newsletter, encontrei uma entrevista Howard Marks concedida para David Perell. Ele perguntou sobre o processo de produção de textos do Marks, que respondeu:
“Se você pensar sobre o papel da aleatoriedade no mundo, há muita coisa que não está sob seu controle. Mas uma coisa que está sob seu controle é a qualidade de sua produção. Então, você deve ter uma meta simples de lançar um conteúdo que seja da mais alta qualidade possível.”