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Financial deepening: por que o BTG esperou até 2014 para digitalizar

Lições de empreendedorismo e resiliência com o líder da digitalização do BTG Pactual

Por Renato Santiago

18 ago 2023 13h59 - atualizado em 18 ago 2023 02h54

Financial deepening é um termo que ficou muito comum no mercado financeiro nos últimos anos. Talvez você nunca tenha ouvido falar deste fenômeno, mas se está aqui nos lendo e ouvindo hoje, é por causa dele.

Como muita coisa na Faria Lima, esse movimento é designado por seu nome em inglês. Em português, o aprofundamento financeiro pode ser descrito como o aumento da oferta e sofisticação de produtos de investimentos para a população e a adesão de uma parcela maior do público a eles.

O número que melhor explica e exemplifica esse movimento é o de CPFs na bolsa. Entre 2011 e 2017, ele ficou estagnado em 700 mil. De lá para cá, chegou aos 5,3 milhões, segundo a B3.

De alguma maneira nós do Market Makers somos um subproduto desse fenômeno, e você também. Se falamos sobre ações, investimentos e gestão de recursos, é porque existe demanda suficiente do público por conteúdo e dos investidores profissionais por espaço para aparecer. O financial deepening criou demanda para a qual somos oferta.

No nosso episódio de ontem recebemos alguém que vive de dentro esse fenômeno, mas não como produtor de conteúdo ou gestor de recursos. Marcelo Flora é diretor do BTG Pactual responsável pelas plataformas digitais do banco. 

Flora chegou ao BTG em 2000, como estagiário, quando o banco era apenas Pactual. De lá para cá a instituição mudou de nome e de controladores algumas vezes, assim como o próprio Flora, que passou por várias áreas até chegar ao comando da distribuição de renda fixa e fundos. 

Timing

Flora nos contou que, desde seu início no BTG, já se perguntava por que o Brasil não tinha algo como a Charles Schwab, um corretora de arquitetura aberta (que distribuía fundos de outras empresas) e baixo custo que havia revolucionado o mercado financeiro dos Estados Unidos e se tornado símbolo do financial deepening americano.

Assim, ele resolveu estudar o que já havia acontecido no mundo e no Brasil. Por aqui, já havia existido tentativas de plataformas abertas de investimentos. A Patagon, comprada pelo Santander, a Max Blue, joint venture entre Banco do Brasil e Deutsche Bank, e Investshop, adquirida pelo Unibanco, naufragaram após investimentos de centenas de milhões de dólares.

Qual era o problema então?

A resposta está nos juros, sempre eles. Flora nos contou que estudou cerca de 40 cases de plataformas abertas pelo mundo. Em todos os casos, havia o financial deepening por trás, mas ele, por sua vez, estava ancorado em uma taxa de juros baixa. A lógica está no fato de juros altos acomodarem investidores. 

“Taxa de juros alta dá conforto para as pessoas. No governo Lula a Selic era 26%. Isso é rendimento de ações em país desenvolvidos. E sem volatilidade. E naquela época ainda tinha um atrito que era a internet discada”, resume Flora.

Assim, a digitalização do BTG Pactual teve que esperar até 2014 para ser aprovada pelo banco, e mais alguns anos e bilhões em investimentos para acontecer de fato. 

Falar de financial deepening hoje é fácil, mas colocando esse fenômeno na perspectiva do nosso convidado de ontem, o que mais nos chama a atenção é como o risco de queimar a largada poderia ter sido uma catástrofe semelhante às vistas nas empresas que tentaram “forçar” o financial deepening antes da hora. 

Para ouvir a conversa completa, clique aqui.

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Por Renato Santiago

Jornalista, co-fundador do canal Market Makers e do Stock Pickers, duas vezes eleito o podcast mais admirado do Brasil. Passou por grandes redações do país, como o jornal Folha de S. Paulo e revista Exame, e atuou na cobertura de diferentes temas, de cotidiano até economia e negócios. Sua missão, hoje, é a de usar sua expertise editorial e habilidades de reportagem para traduzir o mundo das finanças e mercado financeiro ao grande público.

renato.santiago@empiricus.com.br