Notícia
3min leitura
Que Deus tenha misericórdia da responsabilidade fiscal
Uma questão de vida ou morte para os próximos anos
Texto originalmente publicado na CompoundLetter, a newsletter do Market Makers. Inscreva-se na newsletter gratuitamente deixando o seu e-mail aqui!
Nas últimas semanas, o Brasil inteiro só falou de eleições. Enquanto o processo eleitoral se desenrolava, coletamos, anonimamente, depoimentos e opiniões políticas de gestores. O texto que você lê abaixo é a média do que encontramos. Uma opinião que não é de ninguém, mas, ao mesmo tempo, um pouco de todos.
Em primeiro lugar, antes de entender meu ponto de vista, você precisa entender meus incentivos. Sou um gestor de recursos que vive, sustenta sua empresa e sua família com a taxa de administração e performance que recebo. Meu pior concorrente, portanto, se chama Banco Central — ou mais precisamente, Copom.
Para o afegão médio, ou o Homer Simpson, ganhar 13,75% ao ano assistindo a O Rei do Gado no Vale a Pena Ver de Novo é muito melhor que compreender uma queda mensal de um fundo de ações lendo uma entediante carta do gestor em PDF. Por isso, responsabilidade fiscal é questão de vida ou morte, pois quanto mais farra nas contas públicas, mais juros no fim da linha.
2018
Quando Jair Bolsonaro se mostrou um candidato viável, achei ele era um cara meio xucro… Mas não seria o primeiro político a dizer barbaridades e ser indelicado com as mulheres. Me lembro do Paulo Maluf falando que professoras ‘não ganham mal, são mal casadas’ e do Lula e suas feministas do grelo duro, que nem faz tanto tempo assim.
Era possível relevar isso, mas não era possível ignorar quem estava ao lado dele: o Paulo Guedes. Ele mesmo, o cara que era o “P” do Pactual… economista liberal como poucos, cria de Chicago. Pela primeira vez o Brasil teria o que era necessário para consertar sua economia.
Não se esqueça que estávamos saindo de um período econômico sombrio. Lembre-se que ainda estávamos lidando com o rescaldo da Nova Matriz Econômica de Dilma e Guido Mantega, que havia levado o país à recessão, a Selic a 14,25% e o desemprego a 11,3%.
Não podíamos correr o risco de perder o que já havia sido consertado e conquistado no governo Temer, como o teto de gastos e a reforma trabalhista nem de voltar às políticas que haviam causado tantos problemas. Não poderia ter PT de novo.
Por isso eu apertei 17. Votei na chapa Bolsonaro/Paulo Guedes
2022
Quatro anos, uma pandemia, uma reforma da Previdência e uma privatização da Eletrobras se passaram, mas a escolha, por incrível que pareça, é a mesma: PT ou Bolsonaro.
Não sou um cientista político, mas, como todo gestor, me considero bem informado e bem munido de análises sobre o assunto. E tenho uma certeza: se não tivesse conduzido a pandemia da maneira que conduziu, se mais mortes tivessem sido evitadas, Bolsonaro teria mais quatro anos no Planalto. A economia pode não estar em sua melhor forma, mas estamos muito melhor que o resto do mundo, com inflação controlada, e Selic estacionada (um privilégio no pós-pandemia). É isso que fez sua rejeição subir e a rejeição decidiu essa corrida presidencial. São 700 mil mortos, cujos múltiplos familiares e amigos sofreram perdas irreparáveis.
Outra certeza que eu tenho sobre política é que ela é complexa e difícil, por isso muitas reformas e privatizações não andaram. Não posso crucificar Guedes por isso, mas posso sim reconhecer que ele não foi competente o suficiente. Paciência.
Se for para crucificar o governo por algum motivo, que seja pela barbárie fiscal cometida para tentar reeleger Bolsonaro. Abrir os cofres da maneira como foi feito em ano eleitoral é uma atrocidade, pior que fechar as rodovias no dia seguinte da eleição, como alguns maus perdedores têm feito – prejudicando inclusive os mais de 58 milhões que votaram em Bolsonaro.
Por último, é preciso ficar claro que o resultado de nenhuma eleição é pior que a ausência de eleições ou insegurança jurídica. A decisão das urnas não é a melhor para o mercado ou para a nossa indústria tendo-se em conta o currículo fiscal do PT e as primeiras informações que o Gilberto Kassab (sempre ele) nos trás sobre a formação dos ministérios. De qualquer modo, a solução é sempre a mesma: trabalhar. E pedir que Deus tenha misericórdia do teto de gastos.