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Rali de Commodities: o melhor presidente do Brasil
No final do dia, o Brasil é uma grande fazenda
A ideia da CompoundLetter é que o leitor saia desta mensagem mais inteligente do que era antes de lê-la – e que essa leitura dure o tempo de tomar um cafézinho.
E no texto de hoje, vou te passar o insight mais interessante que absorvi ao fazer o 1º episódio do podcast Market Makers semana passada: por que o melhor presidente do Brasil chama-se “Rali de Commodities”.
De 4 em 4 anos, o Brasil entra em um clima pulsante de emoções por dois eventos: a Copa do Mundo e Eleições.
Nenhum dos dois eventos me comovem. Na Copa, eu torço pra Seleção mas nem de longe eu sou daqueles que canta “eeeeu sou brasileeeeiro” vestido de verde-e-amarelo (nada contra, mas acho muito brega). Deposito toda minha paixão futebolística ao Palmeiras.
Já com as eleições, bem, minha própria natureza de investidor não me permite ser torcedor nesta hora. Prefiro encarar políticos da mesma forma que encaro as ações da minha carteira: posso até preferir um ao invés de outro, mas sempre mantenho o senso crítico preparado para questionar o que eu não achar certo. 100% analítico, 0% emocional.
O grande problema em idolatrar o que era pra ser um objeto de análise (seja um político uma ação) é que, na função de torcedor, você jamais conseguirá fazer uma avaliação isenta sobre qualquer coisa que o envolva. Eu não idolatro minhas ações. Tenho RRRP3 e BPAC11 em minha carteira, por exemplo, mas se você usar bons argumentos para me convencer a vendê-las, posso mudar de opinião sem me sentir menos esperto por isso.
Isso não ofusca o fato de que as eleições têm um grande peso no futuro dos mercados como um todo. Ok, eu concordo mas de um ponto de vista macro: olhando apenas para o universo de ações, eu discordo totalmente. Na real, se um investidor de ações encara uma eleição como determinante para se desfazer ou manter sua carteira, sem dúvida ele está fazendo isso no lugar errado.
O que estou dizendo não é nenhuma novidade. Dois dos maiores investidores de ações da história do Brasil já expressaram algo semelhante – e é nesses “cabeças brancas” que me inspiro.
Luiz Alves Paes de Barros, fundador da gestora Alaska, brincou uma vez dizendo que se o jornal que ele assina desse um desconto para quem não quisesse receber o caderno de política, ele aderiria. Já Dorio Ferman, fundador do Opportunity, me respondeu o seguinte quando lhe perguntei se ele estava preocupado com as eleições de 2022: “Por que preocupado? É bom ter eleições. Preocupado estaria se não tivesse mais eleições de 4 em 4 anos”.
Tanto Luiz Alves quanto Dorio já passaram dos 70 anos de idade e possuem um histórico comprovado de sucesso na bolsa, o que faz com que suas opiniões (anti) políticas tenham peso (um adendo: isso é uma coisa que eu adoro no mercado financeiro, que é aprender com a experiência dos outros que já passaram por isso).
Agora, um dos melhores insights sobre “eleições & bolsas” eu obtive semana passada na estreia do Market Makers. Entrevistamos João Landau, fundador da Vista Capital e gestor do Vista Multiestratégia. Se você chegou até aqui na leitura, duvido que ainda não tenha visto ou ouvido a entrevista com o Landau, mas por desencargo de consicência aqui estão os links no Youtube e no Spotify.
O Vista Multiestratégia, fundo que ele gere, é disparado o melhor multimercado do Brasil em várias as janelas de análise (2022, 12 meses, 24 meses, 36 meses). Quando perguntamos como ele está se posicionando com eleições, Landau foi enfático ao explicar seu ceticismo:
“No final do dia, o Brasil é uma grande fazenda. O problema maior no Brasil é quando as commodities caem. Para o Brasil, é pior se ganhar o melhor candidato mas nós tivermos um ‘crash’ nas commodities do que se elegermos o pior candidato mas as commodities andarem muito”.
Landau cita os 3 últimos presidentes eleitos para justificar essa tese: “não temos o contrafactual mas a gente não sabe se a Dilma teria caído se o petróleo e minério não fossem pra 10 dólares. Da mesma forma, a gente não sabe se o Lula estaria concorrendo para ser presidente novamente se ele não tivesse pego um rali de commodities [em 2003], ou se o Bolsonaro estaria na disputa se ele não tivesse tido um extra de 2% a 3% do PIB para gastar por causa do rali recente. O fator commodities tem um peso muito maior [do que a escolha do presidente]”.
É claro que a escolha de um presidente vai muito além de fatores de mercado. Mas ao entender a importância e a dependência do Brasil para os ciclos de commodities, é possível isolar esse fator na hora de escolher seu candidato – felizmente ou infelizmente.
ps: hoje vai ao ar o segundo episódio do Market Makers, gravado na sede da B3. Entrevistamos Gabriel Raoni e Bruno Barreto, da IP Capital Partners. Os melhores momentos da conversa: analisamos se é melhor investir no Brasil ou nos EUA (e em quais setores) e geramos debate interessante sobre investir em XP ou BTG.
Siga o MMs na sua plataforma de streaming favorita (todos os links estão aqui) ou no Youtube para ser avisado quando o episódio estiver no ar!
Aliás, quero agradecer a chuva de avaliações positivas e compartilhamentos que tivemos do nosso primeiro episódio, o que nos colocou no patamar de “muito compartilhado”. Estamos apenas começando, mas com esse apoio nós temos certeza que chegaremos bem longe.
Forte abraço,
Thiago Salomão